Empreendedora nata
Ainda antes de entrar na universidade, Cristiana já tinha criado a sua primeira marca, a Knutsy
Cristiana Costa
T46 Setembro 19
Emergente

António Moreira Gonçalves

A UBI foi o berço
No ínicio da Näz, Cristiana pediu à UBI para utilizar as máquinas do departamento para criar as primeiras peças

Designer formada na UBI, Cristiana Costa é a fundadora da Näz, uma marca de moda sustentável que vai aos stocks esquecidos encontrar a matéria-prima para fazer novas e exclusivas peças de moda. "Não há nada mais ecológico que reciclar" afirma, revelando que foi um caminho difícil até convencer as empresas a venderem pequenas quantidades, mesmo de tecidos já há muito em armazém. Com este projecto, que se torna cada vez mais internacional, não tem pretensões de mudar o mundo, mas quer sobretudo provar que existem alternativas.

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os 24 anos, Cristiana Costa tem já um percurso cheio de histórias. Formada pela UBI, a designer de moda faz da sustentabilidade um modo de vida e, sobretudo, uma inspiração para todos os seus trabalhos. Há três anos fundou a Näz, uma marca totalmente produzida em Portugal, que utiliza excedentes da nossa indústria para criar novas peças de vestuário. O projecto é um exemplo do seu espírito inquieto, onde a criatividade vive lado a lado com o sonho de tornar a indústria da moda mais justa e sustentável.

Mas foi a veia de empreendedora que lhe suscitou a paixão pela moda. Natural de Lisboa, Cristiana estudava humanidades no liceu quando a vontade de ter o seu dinheiro impulsionou o primeiro projecto. “Juntei-me a uma amiga e criamos a Knutsy, um projecto de upcycling. Mas na altura nem lhe dávamos este nome fancy, para nós era apenas ir à feira da ladra comprar calças e casacos vintage, modificávamo-los e depois íamos a mercados de produtos em segunda mão para os vender”, lembra.

A experiência mudou-lhe o destino. Chegou a ter uma bolsa da Gulbenkian para estudar História, mas acabou por escolher Design de Moda na UBI. Na Covilhã viria a descobrir duas novas paixões: o prazer de viver longe das grandes cidades e a arte de criar novos produtos. “Gosto do processo criativo, não só pelo lado estético, mas pela possibilidade de criar objectos práticos, confortáveis e úteis para as pessoas”, confessa.

Durante a licenciatura, conjugou os estudos com trabalhos em part-time, como dar explicações, mas quando entrou no mestrado percebeu que tinha de criar algo novo. Decidiu voltar aos mercados lisboetas, mas com uma nova marca. “Dei-lhe o nome de Näz, é uma palavra que vem do urdo e significa algo como ter orgulho em saber que somos amados, mas não tem uma tradução direta”, explica.

O conceito passava por criar novas peças de vestuário de uma forma justa para toda a cadeia de produção. A faculdade tinha-a aproximado da indústria têxtil e estava agora mais consciente dos verdadeiros custos – sociais e humanos – da produção em países menos desenvolvidos. Decide que todas as peças são feitas em Portugal e às questões laborais sucedem-se as ambientais. “Que sentido faz preocuparmo-nos se as pessoas estão ou não a ser exploradas, se continuamos a prejudicar o ambiente onde estas mesmas pessoas vivem e os seus filhos crescem?”, questiona.

Fica então definida a estratégia: produzir novas colecções com excedentes da indústria têxtil. “O facto de utilizar restos de stock significa que não estou a produzir novos tecidos, e não há nada mais ecológico que isso. É bom para as empresas, que não têm lá monos parados, é bom para nós, que não precisamos de encomendar grandes quantidades, e é óptimo para o ambiente”.

Sem qualquer fundo de maneio, Cristiana começa a ir de fábrica em fábrica, a perguntar pelo que estava esquecido em stock. Se algumas lhe fechavam as portas, outras mostraram uma maior abertura. Conta o caso da Riopele, que apesar da sua dimensão, desde o primeiro momento se mostrou disponível a vender 10, 20 ou 30 metros de tecido.

As peças eram depois confeccionadas durante a noite. Cristiana pediu autorização à UBI para utilizar as máquinas de costura do departamento. Quando a colecção estava terminada, ia a Lisboa, vendê-la em espaços como o mercado da Vogue ou a feira das Almas. A Näz foi crescendo e em 2018 vence o Terre de Femmes, um prémio da Fundação Yves Rocher que distingue projectos amigos do ambiente com assinatura no feminino.

Foram-se abrindo novas portas. As colecções que actualmente desenvolve – no seu novo atelier no Parque Industrial do Tortosendo – são vendidas não só em lojas como a Feeting Room, no Porto e em Lisboa, mas também em retailers na Bélgica, Holanda, Suiça e Japão. Cerca de 80% da produção da marca é destinada aos mercados externos.

Entretanto vai criando novas ideias, sempre com a natureza e sustentabilidade como pano de fundo. Uma das mais recentes novidades é a colecção de criança, que surge a partir dos restos da colecção de adulto. Em cada novo produto, Cristiana espera deixar o seu contributo para uma indústria em mudança. “Uma marca pequena não tem a capacidade de mudar o mundo, mas pode criar a percepção no público de que existem alternativas”, sentencia.

Cartão Do cidadão

Família Na Covilhã, vive com a Sardinha, a sua gata de estimação. Os pais estão em Lisboa e tem ainda família na Guarda. Formação Licenciatura e Pós-graduação em Design de Moda (com o crescimento da marca, a tese de mestrado entrou em standby) Casa T1 no centro histórico da Covilhã (com uma horta) Carro Dacia Sandero Stepway (a GPL) Portátil Asus Telemóvel Xiaomi Redmi 5 Hobbies Ler e Viajar Férias Normalmente viaja pela Europa (nas últimas férias esteve nos Alpes suíços e agora está a planear uma roadtrip pela costa espanhola ou italiana) Regra de Ouro “Não me chatear com as coisas que não posso controlar”

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