T34 Julho & Agosto

Está a ITV portuguesa preparada para os desafios da Economia Digital?

É avançar ou morrer. O digital já não é o futuro, mas antes um caminho por onde alguns já rolam em alta velocidade. Com a revolução em marcha, esta é uma tendência que vai crescer rapidamente e na qual a ITV portuguesa tem condições para caminhar na linha da frente. O que agora faz falta, todos estão de acordo, é encarar este novo paradigma e olhar em frente. Depressa, por favor.

Raposo Antunes

O caminho faz-se caminhando. O verso do poeta andaluz António Machado poderia servir de mote para o novo paradigma que a indústria têxtil e do vestuário (ITV) tem de encarar – a eco­nomia digital. Essa caminhada, no entanto, tem de fazer-se em marcha acelerada se as empre­sas portuguesas não quiserem perder um comboio que já está a rolar a velocidade de cruzeiro e que, nalguns casos, vai mesmo em alta velocidade.

Nas empresas portuguesas contactadas pelo T Jornal, nin­guém tem dúvidas que a eco­nomia digital é não só o futuro como é já mesmo o presente. E quem não se adaptar corre sérios riscos de sobrevivência. “Hoje uma parte da economia B2C (business to consumer) e B2B (business to business) é digital e as opiniões são unânimes que esta tendência vai crescer acen­tuadamente”, sublinha Mário Jorge Machado, CEO da Adalber­to Estampados.

Este engenheiro de Políme­ros licenciado pela Universidade do Minho (1985), que se habi­tuou a prever o futuro e anteci­par o que vai acontecer quando jogava xadrez a nível federado, não tem dúvidas: “As empresas que não se adaptarem a esta rea­lidade (economia digital) e aos novos modelos de negócio irão ter muitas dificuldades e even­tualmente desaparecer”.

Mário Jorge Machado ques­tiona mesmo se a pergunta a ser colocada pelo T Jornal “não devia ser – Como é que a indús­tria têxtil e de vestuário se deve adaptar para gerar valor e resul­tados com uma economia cada vez mais digital?”.

O CEO da Adalberto Estam­pados, líder europeia na arte de estampar, dá mesmo exemplos daquilo que deve ou não ser fei­to para entrar a todo o gás nesse novo paradigma da ITV. “Um bom exemplo do que não se deve fazer são alterações, como as propostas à legislação laboral, que vêm introduzir mais rigidez no sistema quando o mercado exige mais flexibilidade às em­presas”, aponta.

Pelo contrário, Mário Jorge Machado dá como bom exemplo do que se deve fazer “a forma­ção aos dirigentes e quadros das empresas nos novos modelos de negócio com as oportunidades e ameaças que vamos enfrentar”. E sugere mesmo uma interven­ção do Governo: “Sendo esta formação crítica para a

indús­tria, devia o governo com as as­sociações empresariais e escolas de negócio e universidades criar um programa especial, para diri­gentes e quadros com incentivos adequados”.

Braz Costa
“A ITV portuguesa ainda não está em pleno na economia digital, mas tem condições para fazer caminho na linha da frente”

José Cardoso, CEO da empre­sa O Segredo do Mar, explica que a economia digital assenta parte das suas razões de sucesso na ca­pacidade anunciada de entender a evolução das necessidades dos consumidores e de conseguir criar cenários e realidades na prestação de serviços e de entre­ga de produtos adaptados aos re­sultados obtidos por essa gestão de informação.

Para isso, diz, “é necessário elevada rapidez, flexibilidade, inovação, capacidade de produ­ção integrada, qualidade e meios certificados associados numa zona económica e politicamen­te estável, de preferência com meios logísticos modernos, em suma, o exacto perfil da nossa ITV nos dias que correm”.

Para provar a sua tese, José Cardoso dá os exemplos das maiores plataformas de vendas online à escala global: “Quanto ao conhecimento que os gigan­tes Amazon, Asos, Zalando, Ali­baba têm sobre esta capacidade instalada e disponível, pode-se aferir pelo volume de produção que colocam atualmente em Portugal ou pensam colocar”.

E sobre esta importante re­lação entre interesses e capa­cidades, o CEO da empresa O Segredo do Mar entende que ainda existe um longo caminho de aproximação a desenvolver e cimentar, tanto por parte das entidades governamentais e associações como por parte das empresas do sector.

Daí que José Cardoso lembra que está à porta um novo Web Summit, “uma oportunidade única para os nossos embaixado­res desenvolverem estas novas ligações entre uma indústria atua­lizada e dinâmica e as novas plata­formas de negócios ditas revolu­cionárias nos modos e costumes”. “A iniciativa é global, tal como é a nossa vontade”, enfatiza.

Carlos Serra, CEO da Trofi­color, também não tem dúvidas que, genericamente, a indústria têxtil portuguesa possui as capa­cidades técnicas e tecnológicas necessárias para enfrentar os de­safios da economia digital.

Mário Jorge Machado
“As empresas que não se adaptarem aos novos modelos de negócio irão ter muitas dificuldades e eventualmente desaparecer”

No entanto, sublinha o ad­ministrador desta empresa es­pecializada em denim, “é ne­cessário que os meios humanos sejam capazes de acompanhar o desenvolvimento, cabendo aos próprios empresários a res­ponsabilidade de dotar os respectivos colaboradores de ferra­mentas para enfrentar os novos desafios”.

Teresa Marques Pereira, Brands Developer do grupo Va­lerius, tem ainda dúvidas sobre o grau de preparação da ITV por­tuguesa. E à pergunta do T Jornal (“Está a ITV portuguesa prepara­da para os desafios da economia digital?”), responde: “Creio que ainda não, mas num futuro a curto prazo terá que se render”.

Considera assim que antes de mais a ITV tem que perceber que é imperativo mudar de paradig­ma. “Precisamos de mudar a in­fraestrutura tecnológica e criar redes eficazes e proporcionais aos desafios que a economia di­gital nos coloca”, aponta.

Um dos principais desa­fios, segundo Teresa Marques Pereira, é entender o relacio­namento “aberto” que tem de ser adoptado. “Viver num ‘só mundo’ e comunicar num pensamento global e pequenas adaptações locais. Outro é o nosso olhar sobre os nossos con­correntes, afinal a era digital veio ditar o ‘jogo limpo’ e o que importa é perceber onde estão os melhores recursos e janelas de oportunidade. Quem chega primeiro e deteta a oportuni­dades chega mais depressa ao mercado”, diz. E acrescenta: “O digital obriga-nos a estar sem­pre presentes, atuais, atentos à fluidez de comunicação e espe­cialmente gerir eficazmente a informação! É, sob o meu ponto de vista, o recurso mais impor­tante a ser trabalhado porque é dele que podemos retirar vanta­gens competitivas e criar maior dinâmica”.

De uma forma sintética, mas que resume bem o tom geral dos players ouvidos pelo T Jor­nal, o director-geral do CITEVE, Braz Costa, manifesta confian­ça no futuro: “A ITV portuguesa não está em pleno na economia digital, mas tem condições para fazer caminho na linha da fren­te”. Ou, como diria Machado, o caminho faz-se caminhando. E depressa, por favor.

 

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