28 Fevereiro 2018
iTechStyle

Raposo Antunes

CITEVE parceiro do centro de topo da Indústria 4.0

O CITEVE vai ser parceiro do DITF, um centro tecnológico têxtil alemão que é a mais conceituada e principal estrutura de investigação a nível mundial na chamada Indústria 4.0. O anúncio desta parceria foi feito por Braz Costa, director-geral do CITEVE, na primeira sessão de trabalho do iTechStyle Summit, que decorre desde a manhã desta quarta-feira até à próxima sexta, no Terminal de Cruzeiros de Leixões.

Face à ausência do ministro do Ensino Superior e Investigação, Manuel Heitor, devido às condições meteorológicas (há a promessa que o responsável governamental participará na sessão de encerramento na próxima sexta), a sessão de abertura coube exclusivamente a António Amorim e Braz Costa, respectivamente presidente e director-geral do Citeve.

Braz Costa sublinhou a importância desta conferência internacional, designadamente para temas como a economia circular e a indústria 4.0. “São conceitos inventados pelos políticos que nós temos dificuldade em compreender, mas são também ideias que nós temos de desenvolver”. E depresssa. “A velocidade a que estão a acontecer as coisas é muito mais rápida do que acontecia há dois anos atrás”, alertou.

A rapidez de processos levou, de resto, a uma ligeira alteração no programa desta manhã, com Laura Balmont, da Fundação Ellen McArthur do Reino Unido, a falar sobre a economia circular logo após a sessão de abertura.

Na radiografia que fez sobre a economia circular e o que esta vai ser no futuro, a investigadora britânica começou por lembrar que a produção de roupa aumentou muito e que “muita dela é deitada fora”. “Nós perdemos meio milhão de toneladas de fibras que vão para os oceanos”, alertou, sublinhando que isso não só é preocupante pelas questões ambientais, mas também pelo “grande desperdício de dinheiro que representa não utilizar esse valor”.

Desfiando alguns números, Laura Balmont adiantou que 50% do vestuário termina no lixo ou é incinerado e que só 20% é recolocado no sistema. “É necessário aproveitar este valor. E o que a economia circular faz é precisamente isso – mantém o valor no sistema”, frisou.

Apresentou depois os três princípios básicos da economia circular: redesenhar o desperdício; aproveitar o seu valor; e a regeneração dos sistemas naturais. Tudo isto para “manter estes materiais (utilizados na ITV) sempre no sistema”, até porque, disse, “tudo o que temos no sistema também é finito”.

Entre muitas outras vantagens da economia circular apontou o facto de assim “se estar a evitar consequências ambientais para o planeta e para as pessoas”, uma vez que se estão a reutilizar materiais para fazer novamente roupa, evitando assim que as coisas que ainda saem do sistema não sejam nocivas para a população.

Laura Balmont abordou também as diferentes tecnologias que existem para a reciclagem, os espaços de inovação que representa essa reciclagem, mas também a necessidade de novos materiais de fontes biológicas poderem voltar para o ambiente. “É evidente que isto (economia circular) implica uma forma diferente de trabalhar, em que as próprias marcas têm de trabalhar com quem faz a reciclagem”, sublinhou. E implica ainda “um juntar de forças para redesenhar o futuro da moda”.

Depois de Braz Costa ter dado conta da sua passada relutância sobre a Indústria 4.0 (“hoje já não penso da mesma maneira”), o director-geral geral do Citeve alertou os players presentes, designadamente os empresários portugueses, para a necessidade de “não sermos apanhados na curva”. E foi já sob a condução de Meike Tilebein, investigadora do DITF, centro tecnológico alemão do qual o Citeve passou a ser parceiro, que a plateia ouviu uma sucinta apresentação daquilo que é designado por Indústria 4.0, mas que a investigadora alemã traduziu sempre como “digitalização da produção têxtil”.

Fazendo a ponte para a sua homóloga britânica, Meike Tilebein considera, aliás, que a economia circular e a indústria 4.0 “andam de mãos dadas”. Numa resenha sobre as actividades do seu centro tecnólogico, sublinhou que 300 pessoas trabalham neste instituto que tem uma escala laboratorial, mas tem também uma escala industrial, o que lhe permite ter um volume de negócios de 30 milhões de euros.

Quanto ao fabrico digitalizado avançado (a tal indústria 4.0), Meike Tilebein avançou: “Temos que pensar em novos modelos de negócio que veem com esta nova realidade”. “Na Alemanha dizemos aos políticos que devem dar mais atenção à indústria têxtil, mas eles apontam sobretudo para indústria automóvel”, frisou, acrescentando que o têxtil é uma área para investigação e para novos modelos de negócio com base digital.

As implicações da adopção pelos empresários da indústria 4.0 passam pela integração horizontal com uma automoção mais avançada, com máquinas autónomas que trabalham em conjunto, mas também pela engenharia digital, pela ciência dos materiais, pela eficiência de recursos, pela produção com 0% de defeitos, e “last but not least” pela integração das pessoas neste mundo de digitalização. “Não há processos de fabrico sem pessoas envolvidas”, alertou.

Fazendo um flashback da actividade do centro tecnológico em que trabalha, a investigadora alemã lembrou que começaram em 2005 a desenvolver a digitalização do têxtil. E logo aí perceberam a a importância do sistema produzir artigos individualizados de forma a responder às necessidades do mercado. “E isso implica, entre outras coisas, mudanças organizacionais nas próprias empresas”, concluiu.

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