T73 - Junho 2022

“Este é o momento de ouro para Portugal”

Portugal tem tudo. Tem know how, maquinaria, empresas, gente com formação, e beneficia ainda de ter uma indústria praticamente vertical. Tobias Gröber esteve no iTechStyle Summit e não tem dúvidas de que a ITV portuguesa tem tudo para se afirmar. O problema é conseguir dar resposta ao aumento da procura.

Mariana d’Orey

Tendo em vista as competências ao nível dos têxteis técnicos e da sustentabilidade, como olha para a ITV portuguesa no contexto internacional?
Este é um momento histórico para esta indústria em todo o mundo. Portugal beneficia do facto de ter uma indústria praticamente vertical e, por isso, esta é uma oportunidade única para se afirmar na Europa como grande produtor. Porque Portugal tem know how e qualidade, e do que eu tenho conversado com os nossos clientes portugueses há aqui um trabalho muito honesto de cumprimento das normas de sustentabilidade. Aliás, a sustentabilidade está no centro dos modelos de negócios das empresas portuguesas: desde a criação de produtos sustentáveis, até aos processos de menor consumo de água ou energia, etc. Penso que estamos a caminhar globalmente para uma diminuição do consumo de fast fashion e para uma aposta em produtos de qualidade e o problema de Portugal vai ser conseguir dar resposta ao aumento da procura.

Há também uma percepção de que Portugal é um bom fornecedor, mas que faltam ainda algumas ferramentas de marketing, o que se reflete na dificuldade de afirmar internacionalmente marcas portuguesas…
Sim, isso é um facto, mas penso que está a melhorar muitos nos últimos anos. Penso que os empresários portugueses se devem apoiar em melhores planos de comunicação, uma estratégia bem clara, e uma maior coordenação que faça com que o bolo seja maior para todos e não ande cada um a tentar afirmar a sua fatia.
Não há dúvidas de que algumas empresas portuguesas têm uma enorme capacidade para criar grandes marcas internacionais. Mas a pergunta é: que valores são os da marca? Qual é a sua visão? Hoje as marcas já não se podem prender a produtos, a perspetiva tem de ser muito mais ampla, global e ambiciosa.

Um momento histórico
Portugal beneficia do facto de ter uma indústria praticamente vertical.
Em última instância, os clientes têm de perceber quais os valores da marca e de que forma podem contribuir para eles.

A propósito da próxima edição da ISPO, quais são as novidades?
A grande novidade são as novas datas. Se há uns 20, 10 ou até 3 anos atrás me tivesse perguntado se algum dia a feira se iria realizar em Novembro eu diria claramente que não. Mas o mundo está a mudar e as cadeias de fornecimento estão também a alterar-se e essa é para a organização da ISPO a mudança mais significativa.

E quais são as razões concretas para a mudança?
Uma feira de tendências em geral tem de estar alinhada com os deadline da área da inovação e o que é facto é que foram lançados no mercado recentemente novos produtos, muita inovação, muitos detalhes interessantes e é por isso tomamos a decisão de realizar a feira em Novembro.
Mas para além da mudança de datas, nós também introduzimos algo que já queríamos ter introduzido há muito tempo mas que só agora fez sentido: as marcas passam a ter um espaço máximo de exposição, ou seja, já não podem ter um número abismal de metros quadrados disponíveis para exibir a sua coleção. 

E porquê? 

Porque defendemos que o tempo de mostrar todos os produtos acabou. O atual desafio das marcas é diferenciarem-se pelos seus valores, pela sua singularidade. Querem continuar a mostrar a coleção inteira? Ou querem mostrar dois ou três produtos que realmente os tornem únicos e especiais no mercado global?
Por exemplo: eu sou uma marca de sky, há centenas de marcas de sky a expor na ISPO, o que me diferencia,o que defendo? São essas as perguntas que as marcas tem de fazer hoje e que estão alinhadas com uma diminuição generalizada do consumo que está a acontecer e que se vai agravar.

Qual é o futuro?
A aproximação dos canais de fornecimento é inquestionável.
Menos e melhor, é essa a proposta.

Uma orientação que, associada às consequências da pandemia, fará com que a ISPO tenda a ser uma feira mais europeia e menos mundial?
Sim, talvez. A realidade é que antigamente tínhamos uma grande parte dos nossos expositores vindos do mercado asiático e dos Estados Unidos, sobretudo de Las Vegas. Creio que em relação aos EUA será fácil e não sentiremos grande diferença, mas em relação à Ásia, nomeadamente à China que se pensa que possa manter-se fechada até ao final deste ano, é bastante evidente que não estarão connosco nem expositores nem compradores.
Por isso é que que digo que a ISPO é o sweet spot de Portugal. Agora mais do que nunca precisamos da sua presença e que as suas empresas possam mostrar o que são capazes de fazer.

O futuro é o abastecimento de proximidade?
A aproximação dos canais de fornecimento é inquestionável. A pergunta é se vão fixar-se na Turquia, em Marrocos, em Portugal ou noutro sítio qualquer? Portugal tem tudo: know how, maquinaria, empresas, colaboradores formados, etc. É o momento de ouro. É tempo dos portugueses fazerem erguer a sua bandeira bem alto e dizerem algo como: “estamos cá, somos sustentáveis, pertencemos à União Europeia, cumprimos todos requisitos legais, temos qualidade e podemos ajudar”.

Partilhar