T72 - Maio 2022

Sendo a inovação obrigatória, em que áreas deve apostar o setor têxtil?

Estando assente que a inovação já não é hoje uma opção para a atvidade têxtil mas antes um princípio basilar para as empresas na construção do futuro, a questão que se coloca é saber para que áreas de inovação se deve orientar hoje o setor. Que caminhos colectivos é prioritário trilhar numa actividade que precisa de diferenciação para criar valor, onde a competição pelo preço já não é opção e está arredada dos trilhos do futuro.

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Mais que um mantra para a indústria têxtil e do vestuário, a via da sustentabilidade parece ser já assumida como o único caminho a seguir para o setor e é nele e nas suas múltiplas vertentes que a maioria parece apostar todas as fichas. Mas é preciso também procurar a inovação nos processos de produção, sem esquecer também as pessoas ea necessidade urgente de o setor se reinventar para conseguir atrair recursos humanos. 

A inovação têxtil  deve seguir o mais possível os grandes temas da sociedade e, como tal, nesta altura os grandes temas são a sustentabilidade e reciclabilidade. Não são obviamente temas novos, mas são áreas onde garantidamente há muito trabalho para fazer”, expõe de forma pragmática o CEO do Grupo Endutex. Uma opinião que é reforçada pelo Diretor Geral da Têxteis Penedo, SA, Agostinho Afonso, entendendo que “para além da inovação, o setor têxtil, deve reforçar a aposta na sustentabilidade e economia circular dando o seu contributo para a otimização de recursos”, isto sem “nunca se esquecer do design e da qualidade que os produtos nacionais sempre habituaram o mercado”. 

 

A inovação focada no reforço das propostas sustentáveis é igualmente a proposta do Chief Operations Officer da Farfetch, Luís Teixeira, muito embora entenda que “a inovação pode ser encontrada em várias áreas e formas. Pode ser inovação incremental ou inovação disruptiva, dependendo do produto, serviço e também setor onde essa inovação se insere”. 

A sustentabilidade deve, no entanto, estar no centro das preocupaçºoes de investigação nos tempos eu correm. “O setor têxtil é muito particular no que diz respeito a inovação. No momento em que nos encontramos, acredito que a inovação na indústria têxtil tem que passar, sobretudo, pela área da sustentabilidade. Deve apostar-se em novos materiais, mais conscientes e amigos do ambiente e em programas que permitam alavancar a segunda-mão e a nova vida dos produtos”, diz Luís Teixeira.

Vitor Abreu, Endutex
"A inovação têxtil deve seguir o mais possível os grandes temas da sociedade, que nesta altura para mim são a sustentabilidade e reciclabilidade”
 

Além do mais, “o consumidor tem vindo a pedir exatamente isso, está mais ávido por compras mais conscientes e informado sobre o impacto que esses mesmos produtos têm no planeta”. Por isso, continua, “na Farfetch, através do nosso programa Second Life e da nossa estratégia e plataforma de resale, na Luxclusif [recente aquisição da Farfetch], estamos a alavancar ainda mais esta área que tem muito para crescer e prosperar”. 

Ainda com foco na sustentabilidade, o Professor Raúl Fangueiro, vai mais adiante e especifica que a inovação se deve orientar para a produção de fibras sustentáveis. “O setor têxtil deve apostar fortemente na produção e transformação de fibras sustentáveis: naturais ou com base em polímeros naturais extraídos de resíduos”, indica o diretor do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil, Presidente da Associação Fibrenamics Universidade do Minho. 

 

É olhando mais para a frente, para a fase de produção, que o CEO do grupo ERT aponta para a inovação ficada no processo produtivo. “O sector têxtil depois de uma aposta na inovação do produto deverá agora apostar na inovação dos processos produtivos, só assim se poderá alcançar uma Inovação plena no sector”, assegura João Brandão, enquanto a líder do grupo Latino, Clementina Freitas é ainda mais pragmática: “O setor têxtil deve apostar em todas as áreas que o mercado compre e que esteja disposto a pagar inovação. O foco na venda de marcas próprias e redução da subcontratação, impõe-se em Portugal para assim garantirmos intervenção direta no mercado, e consequentemente a venda da inovação que produz”. 

 

A renovação e ferramentas e otimização de processo é outra área para onde a mentira e fundadora da Axfilia gostaria de ver também orientados os esforços de inovação. “a indústria têxtil em Portugal, à semelhança das dinâmicas que vemos serem implementadas noutros países, não sobrevive à nova era sem investir em inovação focada na otimização de processos”, diz Maria José Machado, que destaca nesta “ a necessidade de renovação das ferramentas – parque máquinas e sistemas de informação – para maior flexibilidade, menor custo de produção, minimização de desperdício, e maior sustentabilidade, de forma a também se poder alocar os recursos humanos para etapas mais úteis e interessantes”.

Maria José Machado, Axfilia
“A têxtil em Portugal não sobrevive à nova era sem investir em inovação focada na otimização de processos e renovação de ferramentas”
 

É por isso, que também Ricardo Silva, Diretor Geral da Belfama, põe a tónica em projectos de inovação que apostem também “acima de tudo, e sempre, nas pessoas”. O setor têxtil deve inovar “desde logo na qualidade e competência dos seus dirigentes, na formação efetiva dos trabalhadores e no paradigma da captação de novos recursos humanos”, expõe o responsável pela empresa, indicando que “a idade média dos trabalhadores têxteis ultrapassa os 50 anos e não há renovação, pelo que há a necessidade imperiosa fazer algo para mudar a imagem que existe no mercado de trabalho sobre o nosso sector”. Além disso, “e para além da inovação que é efetivamente obrigatória, o sector têxtil deve apostar essencialmente na utilização de recursos sustentáveis, na eficiência energética”

Uma ideia de inovação orientada para as pessoas, que é reforçada pelo Business Manager da TMG Textiles, que aponta claramente para a gestão do capital humano como área para a qual o setor têxtil precisa de apontar as baterias da inovação. “Diria que o holofote da inovação e da criatividade se deve orientar rapidamente para as equipas de gestão do capital humano. Estes processos requerem hoje dinâmicas, estratégias criativas e instrumentos inovadores, orientados para fora e para dentro da empresa, que permitam não só, redefinir o chamado ‘pacote’ de remuneração, mas sobretudo, reinventar todo o processo de recrutamento, acolhimento, integração e fixação do talento”, avança Hélder Rosendo.

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