T8 abril 2016

Até onde pode ir o denim?

Ninguém gosta de looks incómodos e o denim continua a ser um dos tecidos mais práticos do mundo. Intemporal, fascina designers e consumidores. Por ser versátil, permite uma quase infinita variedade de fits. E a tendência de hoje dita que quanto mais desgastado melhor e os rasgões e remates desfiados são obrigatórios. Nesta estação também se usam os printed jeans ou com patchwork e a cintura quer-se subida para realçar as curvas.

Isabel Cristina Costa

Aos jeans ou calças de ganga está associada a ideia de juventude e rebeldia. Além de que nunca saem de moda. E há para todos os gostos: Slim, push-up, push-in, com efeitos adelgaçantes e anti-celulite. A Salsa acaba de lançar o modelo Diva com características redutoras. Ora quem resiste à promessa do “usado regularmente melhora a suavidade da pele e reduz as imperfeições”?

Afinal de contas até onde pode ir o denim? “Tudo depende da imaginação”, responde Carlos Serra,a Troficolor Têxteis. Ou como diz Marcos Coelho da Missimini, “tem um caminho infinito a percorrer”.

Quando se fala de denim makers em Portugal surge o nome Troficolor, que tem como sucesso de vendas os denims super elásticos e confortáveis. “E a Europa, apesar da crise, continua a ser o melhor mercado”, adianta Carlos Serra, general manager da empresa de Lousado (Famalicão). A Troficolor tem uma carteira com 400 clientes diretos e entre eles estão gigantes da moda a nível mundial, como é o caso de Armani, Max Mara, Ralph Lauren e Inditex. A exportação, direta e indiretamente, pesa 90% do seu volume de negócios, sendo os principais mercados Itália, Alemanha, França e Espanha.

“Neste momento, o negócio do denim em Portugal vale o que exportação permite, pois o mercado interno em termos de consumo está muito debilitado”. Por isso, entende que o grande desafio que se coloca hoje a um fabricante de denim é o de exportar o máximo possível”, sustenta o empresário.

Carlos Serra sabe bem que o denim, como qualquer outro tecido, está sujeito às oscilações do mercado, ao jogo da oferta/procura, mas não só. “Às próprias tendências de moda, que também ficam condicionadas pela atitude do consumidor. Veja-se o exemplo das calças à boca-de-sino, ao tempo que estão para entrar no mercado e só agora o começam timidamente a fazer”, acrescenta.

A Missimini também pertence ao rol de denim makers portugueses. Marcos Coelho, diretor financeiro e diretor comercial da empresa sediada em Vila das Aves, recorda que “há cerca de um ano, os mais entendidos na moda diziam que o denim, particularmente o jeans de senhora, estaria em queda, pois haveria uma procura mais concentrada para os vestidos de senhora, particularmente na coleção primavera/verão.

Carlos Serra
“O grande desafio que se coloca hoje a um fabricante de denim é o de exportar o máximo possível”
No entanto, a nossa marca aumentou substancialmente as vendas dos jeans precisamente nesta coleção primavera/verão”.

Este episódio só veio fortalecer ainda mais a ideia de que a imortalidade do denim está garantida. “Os fabricantes ou marcas de denim devem procurar produzir com a melhor qualidade possível ao preço mais competitivo que puderem praticar. Felizmente, a Missimini não tem concorrência em Portugal, a nossa concorrência é italiana, que pratica preços entre 80% a 120% mais elevados do que os nossos”, atira.

Agora, a pergunta que se coloca é: Como se faz então a diferenciar? “Procuramos comprar o denim em grandes quantidades para usufruir de um preço competitivo, ou seja, a melhor qualidade possível ao melhor preço possível”, responde Marcos Coelho.

Os jeans da Missimini primam pelo detalhe e pormenor diferenciadores. “Somos provavelmente a única marca que faz as próprias aplicações no jeans dentro de fábrica. Fazíamos fora, nos ditos aplicadores, mas éramos constantemente copiados, assim resolvemos a questão de eventual cópia das aplicações nos jeans. Quando a Missimini abre nova coleção é novidade para todo o mercado, porque a designer da marca, Cristina Carvalho (esposa de Marcos Coelho), é precisamente a sua proprietária”, argumenta.

Por enquanto, a Missimini vende apenas no mercado nacional, com uma faturação de 400 mil euros. Mas como “o crescimento tem sido muito grande, na próxima estação vamos investir no mercado espanhol e no americano”, revela o mesmo responsável.

Olhando à sua volta, para o Portugal do jeanswear, Marcos Coelho garante que se encontram confecionadores de elevadíssima qualidade e com preços competitivos, que tal como a Missimini conseguem superar as marcas italianas e francesas. A par da qualidade e preço, também há moda e inovação. Tudo junto, estes fatores “explicam a projeção nacional e internacional de marcas portuguesas como a Salsa, a Ferrache e a Sahoco”, conclui.

Para Silvério Pacheco, responsável comercial da Sacage Jeans, “nunca se sabe até onde pode ir o denim porque há sempre uma novidade. Por exemplo, esta estação temos a mistura de denim com malha. É um modelo slim, com gangas mais leves e macias”.

Marcos Coelho
“Somos provavelmente a única marca que faz as próprias aplicações no jeans dentro de fábrica”
A empresa de Braga subcontrata a confeção dos Sacage Jeans, que vende através do canal multimarca, privilegiando o comércio tradicional, de Norte a Sul do país. E acabou de estabelecer uma parceria com o Sport Lisboa e Benfica, sendo o resultado uns jeans com a marca Benfica.

“Portugal é um dos melhores fabricantes de jeanswear do mundo, o problema é que não lhe é dado o devido valor (preço). O país também tem a melhor lavandaria da Europa, a Pizarro, que consegue lavar as calças à base de gelo. Somos realmente bons e a prova disso é que muitas marcas de renome internacional compram cá os seus jeans”, enfatiza Silvério Pacheco.

Mas Portugal também tem uma marca muito conhecida internacionalmente: a Salsa. “Gostava que no mundo inteiro se falasse da Salsa e as pessoas associassem logo ao denim, como acontece com a Levi’s, a Pepe Jeans ou a Diesel”, disse Filipe Vila Nova numa entrevista à Forbes Portugal.

A marca Salsa nasceu em 1994. As calças são desenhadas e acabadas na sede da empresa em Famalicão, onde emprega 200 pessoas. Os moldes para as peças em bruto seguem sobretudo para a Turquia, onde são produzidas. Regressam a Famalicão, ainda passam pelas costureiras, antes de seguirem para a tinturaria e lavandaria industriais, são tratadas individualmente. Os modelos icónicos da Salsa são as push-up (efeito rabo saliente), às push-in (efeito barriga lisa) ou as Hope, que dão para usar antes, durante e depois da gravidez.

Filipe Vila Nova, fundador da Salsa e sócio maioritário com 98% da holding Wonder Investments, é um dos maiores especialistas portugueses em denim. Criou um império com mais de 200 lojas em 35 países, sem esquecer mais 2.200 pontos de venda em espaços multimarca e a loja online que vende para 44 países. Em 2014 registou um volume de negócios de 188 milhões de euros. E em 2017 quer ter um caminho de crescimento mais acentuado, continuando a apostar em “peças únicas que se adaptam ao corpo como uma segunda pele”.

Pode dizer-se com toda a certeza que os jeans são a peça de roupa mais universal já inventada. E o denim não só é durável como está para durar, pois consegue ser reinventado geração após geração.

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