Bebiana Rocha
Damel, Lemar, Oldtrading e CITEVE, desenvolveram um conjunto de vestuário de proteção multifuncional para agricultura em ambientes extremos. Impermeável, respirável e confortável, o projeto AGROTEXYS foi pensado sobretudo para servir os trabalhadores da apanha do figo da índia, protegendo-os de forma integral. Depois de amplamente testado, o fato chega agora à fase de comercialização.
“O objetivo era desenvolver um sistema de vestuário multicamada, onde a camada externa deveria oferecer proteção contra espinhos e gloquídeos e a camada interior funcionar como uma segunda pele, promovendo o conforto térmico e favorecendo a total liberdade de movimento do usuário”, introduz Gilda Santos, do CITEVE (na foto).
O centro de investigação teve como principais funções a criação do conceito, o desenvolvimento do design do produto e exploração das especificações necessárias para as diferentes camadas. Já a Oldtrading ocupou-se do desenvolvimento da camada interna, confortável, respirável, com ventilação localizada, capaz de gerir a humidade, a temperatura e ainda neutralizar odores.
“A tecnologia seamless tem na sua essência a tricotagem de estruturas de malha para compressão localizada e diferenciada. Foi precisamente esta característica que fez toda a diferença no resultado final, onde o utilizador precisava de usar uma camada interna capaz de colmatar a irrespirabilidade e impermeabilidade de um fato externo a usar sob condições climáticas muito adversas”, explica Francisco Pinheiro.
O responsável pelo departamento comercial da Oldtrading destaca também a importância da interação entre todas as três entidades envolvidas: “um detalhe de design numa camada impactava na outra, por exemplo, era necessário criar canais de ventilação e para isso, não bastava serem criados na camada externa, era absolutamente necessário que a camada interna acautelasse estruturas progressivas de gestão térmica”, completa.
Tratado o underwear, passou-se para a camada externa onde a Lemar ficou responsável pela criação de um tecido adequado às finalidades do produto: “foi um desafio muito interessante, partimos de uma base desconhecida, exploramos diferentes tramas, vários pontos de debuxo, tipos de fios diferentes e com pontos diferentes para percebermos qual seria a melhor solução”, diz Miguel Pinto, da direção da Lemar.
Foram testados aproximadamente 30 tecidos diferentes até chegarem ao tecido final feito à base de poliéster de alta tenacidade com mistura de poliamida. O principal desafio foi precisamente o desenvolvimento da camada externa, que exigia um tecido respirável e resistente à perfuração dos espinhos e que bloqueasse a entrada dos gloquídeos (pelos muito pequenos em forma de anzol, flexíveis e esvoaçantes). Quanto à replência à água e sujidade foi conseguida através de um coating especial, uma vez que a solução da membrana ficaria comprometida logo à primeira perfuração.
O teste dos protótipos foi efetuado em estreita colaboração com potenciais utilizadores finais, “nomeadamente a Cactácea, em Sesimbra, a Confraria do Figo da índia, em Serpa, e a APROFIP, em Alcoutim”, acrescenta Gilda Santos.
O vestuário é totalmente reutilizável e encontra-se já em fase de comercialização. A Damel é a responsável pela confeção do macacão, ou chamado fato integral, que começou a receber contactos. “Têm sido sobretudo nacionais, das zonas de Sesimbra e Serpa, onde estão os maiores produtores do figo da índia em Portugal. É um produto com bastante potencial porque tanto aqui como lá fora não existe nenhum que consiga proteger os agricultores da mesma forma, sobretudo dos picos”, diz Patrícia Ferreira, gestora de qualidade da Damel.
“Temos consciência que a pandemia alterou profundamente os movimentos do mercado, mas tendo o projeto alcançado um resultado incrivelmente bom, seguramente que os trabalhadores da apanha do figo da índia ficarão mais e melhor protegidas na sua saúde assim que usarem estes fatos”, remata Francisco Pinheiro, da Oldtrading, ao T Jornal.
