24 junho 21
Indústria

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Manuel Gonçalves apreensivo com opção pelo hidrogénio

Administrador da TMG diz que a sustentabilidade é a questão central em relação ao futuro da indústria, aponta as vantagens do projeto de transformação de biomassa em material têxtil, mas mostra-se cético em relação à opção pelo hidrogénio no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência. “Não consigo ver como é que por aí se consegue fazer a descarbonização”, disse Manuel Gonçalves no Fórum Económico Famalicão Made In.

Num encontro destinado a analisar o “Pós Covid: o desafio maior”, o debate acabou centrado na aplicação das verbas do PRR e do próximo quadro comunitário, o Portugal 2030, com o orador convidado, o economista Daniel Bessa, a concluir que “foi um erro” o Governo não ter feito uma planificação conjunta para a aplicação dos fundos dos dois programas.

No painel de debate sobre “Pós-Covid: Desafios e Oportunidades”, Manuel Gonçalves destacou a centralidade das questões da sustentabilidade, mas deixou muitas dívidas sobre se o caminho escolhido com a opção pelo hidrogénio será consequente. “Penso que coletivamente todos já percebemos as consequências da forma como tratamos o ambiente e o nosso planeta”, disse, avançando com a expectativa do regresso à Europa da produção de matérias-primas.

“Obviamente que se pudermos transformar biomassa em material têxtil isso melhora a circularidade dos nossos produtos e também melhora a balança comercial, uma vez que deixamos de importar matérias-primas e a Europa é rica em biomassa”, expôs o administrador da TMG, para vincar as suas dúvidas face ao caminho escolhido no PRR.

“O tema que me deixou um pouco mais apreensivo é que nós, nas nossas plataformas industriais, consumimos muito gás natural para produzir calor. E um dos temas que é falado no PRR para a descarbonização é o hidrogénio. Fizemos alguma investigação sobre o tema e as primeiras conclusões foram extremamente desapontantes. Porque se com a tecnologia que hoje temos por cada 100 unidades de tecnologia verde que produzimos só conseguimos utilizar cerca de 50% ou 60%, talvez fossem melhor conduzidos estes fundos se encontrássemos outras formas de utilizar energia elétrica diretamente nas estufas e fazer um aquecimento direto”, avançou Manuel Gonçalves.

Isto porque, concluiu o gestor, “a sensação que me fica é que no hidrogénio estamos numa fase tecnológica que ainda tem muitas ineficiências. Não consigo ver neste momento como é que se consegue por ai fazer a descarbonização e, se calhar, havia outras formas de utilizar esses fundo com melhor eficiência”.

Partindo do princípio de que “foi um erro não fazer em conjunto” o Portugal 2030 e o PRR, também o Key Speaker, Daniel Bessa, disse esperar que o próximo quadro comunitário “trate melhor” as empresas. “O Estado vai gastar e vai gastar com as empresas, mas vai gastar a comprar os produtos que elas têm hoje e com as condições que têm hoje e o que elas precisam é de mudar essas condições e para isso o dinheiro tem que ir para investimento nas empresas”, disse o economista, avançando com a esperança de que “à critica de que o PRR tem pouco dinheiro para as empresas vão-me responder para esperar pelo Portugal 2030 e se realmente o Portugal 2030 corrigir isso, mais vale tarde do que nunca“, concluiu.

 

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