T75 - Setembro 2022
Empresas

T

Foursource: “Toda a indústria quer trabalhar com Portugal”

Lidera aquela que é considerada a maior plataforma de sourcing B2B do mundo especializada na indústria têxtil e da moda. Com sede em Berlim, a Foursource tem mantido uma parceria privilegiada com a Selectiva Moda e o projeto From Portugal, e Jonas Wand, CEO da empresa, não poupa nos elogios à ITV portuguesa, uma “indústria muito experiente, eficiente e com uma grande sensibilidade às temáticas da sustentabilidade”.

 

De que forma é que a Foursource põe em contacto os players da indústria têxtil e promove negócios transparentes e sustentáveis?

Antes de mais, é urgente garantir que quem trabalha nesta área faz efetivamente o que diz que faz. Existem alguns players no mercado global que não trabalham de forma transparente e esta é uma das indústrias que mais contribui para a poluição no mundo.

Assim, sentimos que a Foursource pode dar um contributo muito positivo ao sector, já que crescemos como uma rede social, ou seja, crescemos através da interação real dos utilizadores e da forma como se conectam entre si.

O segundo ponto está relacionado com a forma como é feita esta conexão entre os compradores e fornecedores, que é mais global, mas ágil e mais rápida. Ou seja, há uns anos um comprador que chegasse a Portugal teria de viajar, teria de procurar fornecedores junto das associações, pedir referências, fazer várias reuniões, etc. Agora, todas as informações podem ser verificadas na plataforma, saber quais as certificações de cada fornecedor, comparar preços, etc. Para os fornecedores isto também é muito interessante porque, não querendo naturalmente expor a uma rede global as suas mais recentes inovações, podem partilhar, através de processos de digitalização sofisticados, alguns dos seus produtos e inovações estrela a um comprador em específico. Graças a este processo de digitalização hoje já não há necessidade de pedir amostras de todas as cores e todos os produtos, com o enorme desperdício que representavam. Há mais escolhas, mais poder de escolha.

Por último, a nossa terceira meta prende-se com a possibilidade de realizar as transações comerciais dentro da Foursource.

 

E quando estará concluída essa possibilidade de executar as transações na Foursource?

Neste momento isso ainda não é possível. Nós promovemos apenas conexão mas o negócio em si realiza-se fora da plataforma. Sentimos que devemos dar esse passo, que é importante para os nossos utilizadores. Estamos em estudos para o lançar essa nova mais-valia no final deste ano, início de 2023.

 

Referiu os importantes contributos da digitalização para a ITV mas, sendo esta indústria altamente sensorial, como pode ser feita essa transposição?

Não pode. A equipa da Foursource defende que esta indústria será sempre de toque. Mas assim como hoje em dia todos nós fazemos compras online, coisa que há uns dez anos atrás ninguém acreditaria, também esta indústria sofrerá uma transformação. As circunstâncias exigem essa mudança de mentalidades.

 

De que forma Portugal se pode afirmar neste mercado global?

Antes de mais, Portugal é muito importante para nós e o nosso país número um na Foursource. De uma forma geral diria que precisamos de mais flexibilidade, maior desenvolvimento, inovação e rapidez na indústria têxtil mundial. É evidente que os mercados asiáticos não podem dar resposta a esta tripla necessidade.

Para além de que precisamos de ter em consideração os princípios da sustentabilidade. Ora, Portugal é um país próximo, com uma óptima indústria e seguro a todos os níveis. Se é mais caro produzir em Portugal? Com certeza que sim, mas os compradores precisam hoje de uma resposta mais rápida, com maior qualidade e com índices de sustentabilidade efetivos que possam ser comprovados com certificações. Produzir em Portugal compensa claramente até porque há, necessariamente, um encurtamento dos tempos de espera pelas encomendas. O mundo mudou muito. Há uns anos, as grandes marcas encomendavam a coleção com mais de um ano de antecedência e hoje já não pode ser assim. Já não se faz moda com tanta antecedência. É precisa uma flexibilidade muito maior e Portugal pode claramente dar essa resposta.

 

Há já em Portugal um longo caminho na sustentabilidade, tanto nos materiais como nos processos de fabrico?

Exatamente. Isto não significa que os compradores deixem de trabalhar com o mercado asiático. Até porque para as linhas de básicos, onde a quantidade é relevante e o preço mais baixo conta, esses países continuarão a dar uma resposta ajustada. Agora quando falamos de produtos estrela e de coleções cápsula, que são uma enorme tendência global, precisamos da flexibilidade, rapidez e qualidade do mercado português. É uma indústria muito experiente e eficiente com uma grande sensibilidade às temáticas da sustentabilidade. Em Portugal são poucos os fornecedores que não tenham as maiores certificações nesta área, que são absolutamente crucias para a transparência que este sector necessita e que, felizmente, o consumidor começa a exigir.

Agora Portugal tem também aqui desafios. Nomeadamente os fornecedores que até agora trabalhavam para um ou dois grandes clientes e que podem agora questionar se vale ou não a pena estar dependente apenas desses grandes clientes ou se querem arriscar em novas marcas e clientes. Neste momento toda a indústria quer trabalhar com Portugal o que é bom, mas exige uma adaptação das empresas.

Partilhar