20 dezembro 2016
Novos materiais

Raposo Antunes

Têxteis entram na vanguarda da construção civil

Já está em fase de transferência para produção industrial o comumente designado betão reforçado por têxteis. Na verdade, estamos a falar do BCR (iniciais de Braided Composite Rods) que foi patenteado em 2011 e é um projeto desenvolvido pela Plataforma Internacional Fibrenamics da Universidade do Minho. Em termos práticos são varões de compósitos entrançados e reforçados por fibras têxteis que podem ser utilizados em substituição dos varões de aço na produção de betão armado.

Este novo material é pioneiro a nível mundial e tem também a capacidade de monitorização, de forma a perceber se existem oscilações nas vigas e pilares produzidas com betão e o BCR. Essa possibilidade de monitorização com utilização de nanopartículas é também inédita a nível mundial.

“Estamos a tornar o sistema inteligente, de forma a podermos saber, por exemplo através de uma aplicação num telemóvel, se há alguma modificação ou problema numa dessas estruturas”, garante Raul Fangueiro, professor da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (UM) e investigador do Centro de Ciência e Tecnologia Têxtil da UM.

O betão reforçado por têxteis despertou desde logo a atenção de uma grande empresa de construção que adquiriu já os terrenos e tem já projecto aprovado para lançar a primeira unidade industrial para a produção deste novo cimento armado. “Essa unidade será instalada no Minho e deverá estar a produzir dentro de um ano. O know-how será nosso”, conta este investigador.

“Em vez de aço, utilizamos fibras de carbono e de vidro, sendo o varão depois entrançado com fibra têxtil”, descreveu, tentando assim desmontar para leigos o que é o BCR.

Uma das vantagens deste novo material em relação ao aço é que o problema da corrosão deixa de existir. De resto, a primeira utilização destes varões de BCR foi precisamente num edifício de quatro andares localizado junto ao mar em Vila do Conde. “O aço dos pilares começou a corroer e a intervenção que ali foi feita utilizou pela primeira vez esses varões”, conta Raul Fangueiro.

De facto, de forma a analisar a aplicação dos BCR em condições reais de utilização, a empresa Dr. Building, de Esposende, desafiou a Fibrenamics para uma parceria. Paulo Lages, da Dr. Building, assegura que essa parceria foi, sem dúvida, uma grande mais-valia para a reabilitação deste edifício: “Este projeto é pioneiro nesta zona geográfica do país.” Além disso, “este tipo de varões é sem dúvida uma mais-valia na reabilitação e construção de estruturas, garantindo soluções duráveis e de qualidade”. “Os BCR têm espaço na indústria da construção”, garante.

Mas as vantagens do BCR não passam só por evitar os problemas da corrosão. O tempo médio de “vida saudável” do aço é variável, podendo atingir 20 anos. Junto ao mar, a tendência é para esse espaço temporal diminuir. Ora, o material compósito não sofre corrosão. Também o peso destes varões de BCR é muito inferior ao do aço, oscilando entre quatro e seis vezes menos.

Ao peso e à corrosão, acrescentam-se ainda outras vantagens: flexibilidade (o que dá mais garantias nas construções anti-sísmicas), manuseabilidade e maior facilidade de transporte. “Estamos a pôr em prática uma tendência da própria União Europeia que é a utilização de materiais mais leves na construção”, acrescenta este investigador.

Uma desvantagem é que um varão de BCR é 15 a 20% mais caro do que um de aço. “Mas isso é uma leitura no imediato, porque a médio prazo há ganhos com a durabilidade do BCR e até com o tipo de construção que permite – uma arquitectura de formas mais arrojadas e mais flexíveis”, diz Raul Fangueiro.

Fernando Cunha, investigador da Fibrenamics, acrescenta outra: “Os BCR são pré-fabricados, produzidos em fábrica ou em estaleiro, facilitando a sua aplicação e reduzindo o custo com mão-de-obra”.

Sem qualquer relação com o BCR, na componente da reabilitação já estão a ser utilizados laminados de fibra de carbono. “Uma empresa sueca, que tem um fábrica no Alentejo, utilizou a colagem de laminados para reforçar as vigas que ameaçavam colapsar nos armazéns dos Cafés Delta, em Campo Maior. Também em Ponte de Lima, a mesma empresa fez o reforço de uma ponte sobre o rio Lima, usando uma técnica semelhante”, conta Raul Fangueiro.

Estes são dois exemplos de aplicação dos têxteis na reabilitação, estando a porta aberta para a solução de outro dos grandes problemas da construção. “A utilização de fibras dispersas pelo betão evita a fissuração”, explica este investigador. E entre essas fibras contam-se fibras naturais como o linho, o cânhamo ou o sisal. Ou seja, os têxteis entraram definitivamente na construção.

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