3 Outubro 2017
Euratex

Raposo Antunes

Paulo Melo: têxtil vive “uma revolução silenciosa”

Paulo Melo considera que o têxtil está a viver “uma verdadeira revolução silenciosa” que irá transformar o negócio deste setor nos próximos 10 anos mais do que aconteceu nos últimos 100 anos. Foi desta forma que o presidente da ATP (na foto à conversa com o ministro Caldeira Cabral e Paulo Vaz, diretor-geral da associação) apontou para o futuro do sector na intervenção de abertura que efectuou no Euratex, que decorre esta terça-feira, no Porto Palácio, no Porto.

O desafio é grande até porque, segundo Paulo Melo, não se dispõe ainda da “informação relevante para a sua compreensão”, já que envolve novas variáveis com que o sector não estava habituado a lidar.

Essa “revolução silenciosa” passa por uma nova geração de consumidores e de decisores nas empresas, os “millennials”, cujos valores e comportamento são totalmente diversos dos existentes no passado, o que “introduz ainda mais imprevisibilidade e volatilidade à equação que estamos a considerar” – “a consolidação do comércio electrónico e da economia digital, que está a transformar radicalmente a paisagem do consumo e do retalho têxtil, vestuário e moda, por via da omnicanalidade; e do entretenimento, como parte indissociável da experiência de compra e da inovação tecnológica, nos materiais, nos processos, nas funcionalidades e nos instrumentos de comunicação e nos canais de distribuição, que irão transformar o nosso negócio nos próximos 10 anos mais do que o fez nos últimos 100”.

O presidente da ATP entende que esta revolução não é “uma ameaça”, mas antes “uma oportunidade”.

Aproveitando o tema da conferência internacional organizada pela Euratex (“Ser Competitivo na Nova Ordem Global”), Paulo Melo enquadra estas questões na necessidade de qualquer indústria, incluindo a do Têxtil e Vestuário, ter de ser competitiva, à escala interna, o que também significa ser à escala europeia, para poder desejar ser concorrencial à escala global.

“Não é uma discussão teórica ou filosófica, que nos conduziria a nada a não ser a um exercício intelectual na busca de algum brilhantismo”, diz. E acrescenta: “É um tema concreto, atual e pertinente, pois discute-se cada vez mais as questões da reindustrialização da Europa, da restauração das suas capacidades produtivas – “reshoring” -, que acompanham os novos modelos de negócio, nos quais a proximidade geográfica e cultural aos mercados e aos clientes, assim como a velocidade de resposta e flexibilidade à procura, em paralelo com a reação a dar ao novos desafios da modernidade, entre os quais se destaca a sustentabilidade e a economia digital, fazem com que a competitividade das empresas, dos sectores e dos países, esteja novamente em cima da mesa, uma vez que os “drives” que a definem vão hoje muito para lá do que é a disputa pelo preço ou avaliação dos custos operativos”.

Numa espécie de retrato rápido sobre o sector, Paulo Melo sublinha que a ITV “estava considerada morta nos países desenvolvidos, mercê da deslocalização de capacidades produtivas, por motivos de custos operativos, ao longo das últimas décadas, mas a verdade é que ela está a ressurgir na Europa e nos Estados Unidos, sendo a experiência portuguesa paradigmática no que se refere ao renascimento que já está a suceder nas atividades manufatureiras em toda a fileira e cujo potencial ainda é imenso para se desenvolver”.

Para o presidente da ATP, a conferência da Euratex pretende também ser “um exercício responsável de otimismo”, envolvendo os principais “stakeholders” europeus, discutindo-se com elevação e de forma sustentada, os caminhos que a ITV terá de percorrer para tornar em realidade o desejo de voltar a ter “uma Indústria Têxtil, Vestuário e Moda europeia pujante, inovadora, criadora de valor e riqueza, gerando empregos e tendo futuro”.

E Paulo Melo entende que esse desafio “não é impossível”, apesar de ser “difícil e exigente”.

“Isso já todos os sabemos, pois somos conscientes, responsáveis e temos a experiência de uma história sofrida. E é possível, caso contrário, não estaríamos todos aqui nesta sala, demonstrando a nossa confiança no futuro e em nós próprios”, concluiu.

Paulo Vaz, director-geral da ATP, fez depois uma radiografia da recuperação do sector, apresentando uma série de números e dados da ITV. Desde logo, a evolução desde 1995 até 2016 de quatro pontos: exportação, emprego, turnover e produção. 2001 foi o zénite e 2009 o nadir. Desde esse ano, o sector tem vindo a crescer, atingindo no final de 2016, segundo estimativas da ATP, os seguintes valores: 134 mil trabalhadores, 6200 milhões de euros de produção, 7300 milhões de euros de turnover, e 5063 milhões de euros de exportação.

Nas exportações/importações, Paulo Vaz, apresentou os números relativos ao período Janeiro/Abril deste ano que representa um acréscimo de 4% comparativamente com o período homólogo do ano passado e que se traduz em 1756 milhões de euros nas exportações e 1302 milhões de euros nas importações.

Num segundo momento, o director-geral elencou os principais factores que contribuíram para crise no sector, desde a China ao alargamento da UE ao leste europeu, passando pela crise financeira que o país viveu em 2011.

Apresentou depois as razões para a recuperação da ITV, fez um enquadramento geral do sector têxtil em Portugal, designadamente a concentração geográfica no Litoral Norte, a proximidade do país em relação ao centro da Europa e a excelência das infraestruturas.

Abordou também a ligação das empresas a centro de investigação como o Citeve e o CENti ou de formação como a Modatex. Deu pistas sobre aquilo que as empresas têm feito e devem fazer para se modernizarem – num primeiro momento tendo como objectivo 2020, mas pensando já na próxima meta 2030.

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