2 novembro 17
Lanifícios

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Fazer bem à primeira é o segredo da Albano Morgado

Fazer bem à primeira, eliminar o desperdício e valorizar o produto são o alfa e ómega da estratégia da Albano Morgado para se manter competitiva num setor como o dos lanifícios, que num passado recente teve de acomodar o disparar do custo da matéria prima .

“Nos últimos quatro anos o preço da lã duplicou, o que nos obrigou a trabalhar com margens mais reduzidas e a um esforço de melhoria permanente da eficiência no processo produtivo”, explica Albano José Morgado, 49 anos, CEO da empresa (na foto).

Com sede em Castanheira de Pera, a Albano Morgado sofreu com os incêndios do início do verão, que atingiram as suas instalações fabris e ceifaram a vida de três dos seus 85 trabalhadores, tingindo de luto as celebrações do 90º aniversário da empresa.

Os tecidos tradicionais – burel, surrobeco e samarra – são a especialidade da Albano Morgado, que, no entanto, além de tecidos com fio de lã cardada (que produz internamente) também produz tecidos com fio de lã penteada.

Cerca de 65% da produção destina-se à exportação, sendo que França, Alemanha, Reino Unido e Suécia são os seus principais mercados.  “Era impossível sobreviver trabalhando apenas para o mercado interno”, confessa Albano José, que há cerca de dez anos dirige a empresa fundada em 1927 pelo seu avô Albano Morgado (1901-1976).

A aposta na exportação, iniciada sistematicamente no início deste século, é a mais significativa impressão digital que a terceira geração de Morgados já deixou na gestão da empresa. “Foi muito difícil começar, No ano 2000 exportávamos apenas 10% da produção”, confessa Albano José, que se tornou um veterano de feiras como a Première Vision ou a Munich Fabric Start.

Em 2008, quando ele assumiu o leme da Albano Morgado, a percentagem tecidos exportados já ia nos 30%. No entretanto, os valores de exportação mais do que duplicaram. O sucesso desta aposta reflete-se no volume de negócios da empresa, que anda nos cinco milhões de euros e deve conhecer um crescimento de 5% no final deste exercício.

Nos últimos nove anos, as vendas quase se multiplicaram por dois – eram de 2,8 milhões de euros em 2008. “Não perdemos mercado interno. Aumentamos as exportações”, explica. 

A herança do bom trabalho da segunda geração de Morgados, que legou uma empresa com um parque de máquinas moderno e sem endividamento, ajudou Albano José a aguentar a turbulência dos anos em que a crise das dividas soberanas e a intervenção da troika no nosso país se veio juntar à outra, no setor, que se seguiu à adesão da China à OMC.         

“O meu pai e o meu tio tiveram a visão estratégica de, no início dos anos 90, com o apoio do Pedip e recorrendo a capitais próprios, reequiparem e modernizarem por completo a fábrica, aumentado a produtividade sem sobrecarregarem a empresa come levados encargos financeiros”, reconhece Albano José.

Esta visão estratégica da segunda geração, bem como as apostas bem sucedidas da terceira geração na exportação e na qualidade (“Crescemos pela qualidade, não pela quantidade”), são o segredo que permite à Albano Morgado ser a única sobrevivente da dúzia de empresas do setor de lanifícios que outrora prosperaram em Castanheira de Pera.

A edição de um livro com a história da empresa e a realização do jantar de Natal na fábrica são alguns dos pontos altos das comemorações dos 90 anos que se passam sobre a data em que Albano Antunes Morgado,  com 26 anos de idade, se aventurou a iniciar a sua atividade industrial, com dois teares de madeira.

Albano Antunes já trabalhava por conta própria desde os 18 anos, quando o pai, vendedor de tecidos, sublinhou a chegada  do filho à maioridade oferecendo-lhe os instrumentos para se fazer à vida: um macho e uma carga de fazenda (tecido que daria para confeccionar uns 20 fatos). 

Montado no macho, o jovem Albano começou a rumar ao Alentejo, onde vendia tecido a metro nas feiras e a alfaiates, cultivando uma clientela e acumulando uma poupança que em 1927 lhe possibilitaria abalançar-se a começar a fabricar os tecidos que vendia.

O caminho não foi sempre a subir. Albano Antunes Morgado teve os seus reveses, mas nunca desistiu. “Onde perdi o casaco é que tenho de o encontrar”, costumava o fundador da Albano Morgado e avô do seu atual presidente.   

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