29 novembro 17
XIX Forum Têxtil

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Daniel Bessa: Compete financiar Estado é como uma vaca a voar

A notícia de que o programa Compete está a financiar a administração pública portuguesa, sob o pretexto de reduzir os custos de contexto para as empresas, foi a grande novidade que Daniel Bessa ouviu no XIX Fórum Textil, organizado ontem pela ATP e que decorreu no Auditório do CITEVE em Famalicão.

“O Compete financiar a administração pública é inaceitável. Significa que estão a entrar no nosso bolso”, afirmou o economista, que considerou este facto ainda mais extraordinário que ver um porco a andar de bicicleta – e claramente ao nível das vacas que voam.

A este propósito, secundou o apelo de Ferraz da Costa, apelando aos empresários para que não se calem, seguindo o exemplo de Belmiro de Azevedo (hoje falecido) que “nunca se calou, disse sempre o que tinha a dizer, e pagou o preço por essa atitude”

Ministro da Economia durante cinco meses, Bessa contou uma história desse tempo para falar da relação entre os empresários e as suas empresas. Uma vez, o rei da Suécia perguntou-lhe quais as medidas de que mais se orgulhava e envergonhava desde que era ministro. E ele respondeu que a medida de que mais se envergonhava era de ter parado a construção de uma barragem só porque tinham sido descobertas umas gravuras. E a que mais se orgulhava era a de ter fechado uma empresa em Santo Tirso.

“Caiu-me tudo em cima. Sindicatos, presidente da Câmara, governador civil, bancos, etc. Pediram-me para a salvar a empresa que devia dinheiro a toda a gente. Mas na reunião que convoquei para tentarmos encontrar uma solução em que estavam presentes todos os interessados, menos o accionista. Até que, a páginas tantas, ligaram da recepção a dizer que o dono tinha chegado. Eu mandei-o subir, mas quem me ligou adiantou logo que ele tinha protestado, pois não queria estar presente como accionista mas antes como credor”, recordou.

Daniel Bessa contou esta história para ilustrar o problema da descapitalização das empresas – e chamar a atenção para a necessidade dos empresários aumentarem o compromisso financeiro com as suas empresas, dotando-as de uma estrutura adequada de capitais  próprios.

Passando das empresas para a situação do país, Bessa considerou que “caímos no contentamento por um crescimento medíocre”, já que Portugal é um dos países que menos cresce na UE, apesar da conjuntura mundial favorável.

“Foi bom as exportações terem crescido em pouco tempo de 28% para 40% do PIB. 40% é melhor que 28%, mas vamos continuar a querer iPads, iPhones e carros e só podemos pagar essas importações se as exportações pesarem 70% do PIB. Temos de ser mais  exigentes”, conclui.

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