António Moreira Gonçalves
A antecipação da datas da Première Vision era desejada pelos expositores portugueses, mas o novo calendário criou um problema de agenda ao coincidir com outras feiras, sobretudo a Milano Unica. Uma questão que afeta os fabricantes de tecidos, já que os confecionadores se mostram agradados com as alterações.
Num reunião com a organização da PV (foto), a comitiva lusa mostrou o seu desagrado, mas a única solução parece ser uma mudança na estratégia das empresas, sendo que algumas ponderam reduzir os seus stands em Paris.
Em 2021, as duas edições da Première Vision Paris vão ser realizadas mais cedo: a primeira entre 2 e 4 de fevereiro – cerca de quinze dias antes do que é habitual – enquanto a segunda será a 6 a 8 de julho – quando tradicionalmente era a meados de setembro. Apesar da primeira edição poder conflituar também parcialmente com a Munich Fabric Start, é sobretudo a data de julho que faz soar os alarmes ao coincidir por completo com a Milano Unica. A feira de Milão, que é de grande importância para os fabricantes de tecidos que fornecem o mercado italiano, já anunciou também a edição de 2021 para os mesmos dias.
Apesar de conhecido desde a semana passada, a organização da PV convidou esta quinta-feira os expositores portugueses para uma reunião de apresentação do calendário (terá feito o mesmo com outras delegações). Os empresários portugueses alertaram para a coincidência e datas, mas a decisão parece definitiva.
“Não ficamos contentes com as datas por vários fatores: primeiro enviaram um survey com perguntas mal colocadas, depois nunca nos perguntaram a opinião sobre esta data em concreto. A reunião que tivemos agora devia ter tido antes, como fundadores da feira gostávamos de ter sido ouvidos”, lamenta Rita Ribeiro, business manager da TMG Textiles.
Na Première Vision que terminou esta quinta-feira, a TMG Textiles destacou uma equipa de 13 pessoas e contou com um stand de 120 m2, numa área central da feira. “As pessoas que aqui estão não podem ser duplicadas. Se tiver de optar por uma feira, opto por Milão, ou reduzo o stand na PV para metade, quer em termos de área como de recursos humanos”, adianta a expositora.
Uma posição partilhada pela têxtil Paulo Oliveira, empresa de lanifícios que trabalha de perto com a indústria italiana de fatos. “Estamos nas duas feiras e o pior cenário é coincidirem. As datas em si não são importantes, porque hoje as colecções estão em constante evolução, mas para os expositores o ideal é que as feiras sejam afastadas”, explica o administrador Paulo Augusto de Oliveira. “Ainda vamos analisar o que podemos fazer, mas o mais provável será reduzir o espaço na PV Paris”, acrescenta.
Também Alberta Marimba, diretora comercial da Somelos, deu conta do seu descontentamento: “Ficamos surpreendidos por a indústria não ter sido consultada de outra forma. A coincidência com a Milano é uma questão séria, não será possível desdobrar a equipa, talvez venhamos a reduzir o tamanho do stand da PV”.
Mas mesmo entre os expositores que não participam nas duas feiras, a antecipação da feira de setembro para julho não é consensual. “Para nós é pior, porque temos menos tempo para preparar a colecção”, afirma Carolina Pinto, gestora de mercados da Trimalhas. “A de fevereiro parece bem, mas a de julho é um salto largo demais, para além de dividir os clientes”, acrescenta Rui Cepa, diretor comercial da Acatel.
Em contraponto, Nuno Cunha e Silva, da NGS, apoia as alterações. “O próprio nome da feira é Première Vision e na realidade tem sido a última. Vai-nos tirar tempo de preparação, mas temos de nos adaptar”, diz o CEO da empresa de malhas.
Também entre os confecionadores o novo calendário foi bem acolhido. “É uma melhor data, permite-nos participar com a colecção de inverno, em Setembro já era um pouco tarde”, explica Márcia Cortinhas, da Lima & Companhia. “A alteração não me parece mal, dá mais tempo para executar as coleções”, acrescenta João Anjo, CEO da Anjos & Lourenço.