29 Novembro 2017
XIX Fórum Têxtil

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A fábrica está enferrujada mas o têxtil vai continuar a crescer

A fábrica que é o país está emperrada e isso coloca dificuldades à indústria têxtil, mas o dinamismo a capacidade empreendedora e de modernização do sector vai permitir que continue a crescer e a modernizar-se. A imagem é de Luís Mira Amaral, antigo governante e velho conhecido do sector, que não tem dúvidas em afirmar que “os resultados da têxtil são excelentes mas podiam ser muito melhores”. O nosso “problema dramático”, disse-o o antigo ministro com todas as letras, “é o sistema político”.

A conversa teve lugar esta tarde durante o XIX Fórum da Indústria Têxtil, onde tomou assento na companhia de Mário Jorge Machado, CEO da Estamparia Adalberto, Francisco Nunes, gestor do Compete 2020, e Luís Magalhães, da KPMG, num painel sobre Competitividade e Crescimento moderado pelo jornalista Manuel Carvalho, do jornal Público.

Sem desvalorizar o factor negativo que representa para a competitividade da indústria a carga fiscal e a sua imprevisibilidade, Mira Amaral aponta para o obstáculo maior que é “a questão sócio-política”. “Temos excelentes empresas, capacidade empresarial e técnica. Podiamos crescer ainda muito mais”, assegura.

Uma opinião partilhada pelo painel, que antes tinha ouvido já Luís Magalhães destacar que “o têxtil está a fazer muito bem”, mas isso “não chega” para arrastar a fábrica Portugal. “Há uma miríade de impostos que não ajuda ao investimento”, que “o IRC não deveria existir em termos lógicos” e é, nesse sentido, “uma aberração”, mas que o essencial do problema está sobretudo na imprevisibilidade fiscal.

Um obstáculo ao investimento, “com taxas e taxinhas”, que já antes já o administrador da Adalberto tinha enumerado a par da legislação laboral “pouco amiga do empreendedor, sobretudo no factor de adaptabilidade” e da “complexidade” do sistema de Justiça e das regras de licenciamento.

A complexidade, em muitos casos associada a inteligibilidade e tramitação burocrática, foi também apontada pelo gestor do Compete 2020 como factor dissuasor nas candidaturas aos apoios comunitários. Com as baixas taxas de juros e a proactividade da banca, a maioria das empresas opta pelo crédito bancário. “Com taxas de juro tão baixo, as empresas preferem não enfrentar a burocracia”, sintetizou Mira Amaral, tendo Mário Jorge sublinhado que a indústria têxtil sempre tem enfrentado “ambientes e contextos complicados” e por isso, mesmo com a  fábrica que é o país enferrujada, vai continuar a crescer “graças aos seus industriais e trabalhadores”. “O que é preciso é optimismo e perseverança”, assegurou.

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