T21 Junho 2017
Empresa

Prudentes e orgulhosos

A aposta na indústria automóvel e o reforço da força comercial e da agressividade nas vendas, permitiu à Carlom triplicar o volume de negócios em dez anos. Mas crescer não é uma obsessão.

Jorge Fiel

A indústria automóvel é a principal cliente da Carlom, sendo responsável por cerca de 45% da sua facturação. Neste preciso momento, a têxtil de Rio Tinto está a produzir o tecido para o tecto do Peugeot 3008. Mas está enganado se pensa que há uma relação directa entre o arranque (car) da razão social da empresa e a relação estreita que ela tem com os carros. É pura coincidência.

Em 1966, quando Eurico Ferraz e Mário Diniz fundaram a empresa, tiveram tanta dificuldade em conseguir registar um nome que optaram pelo exercício de ir juntando as sílabas iniciais e finais de palavras que iam encontrando nas páginas dos jornais. Até que Carlom acabou por ser aceite.

Os dois amigos trabalhavam na Maitex (Eurico era comercial e Mário contabilista) quando detectaram uma boa oportunidade de negócio na extraordinária saída que estava a ter a produção de uma nova máquina de colar que a empresa tinha adquirido. Vai daí compraram uma máquina idêntica e montaram a Carlom.

No início, dedicavam-se a colar espuma em tecido, para a indústria de calçado. Depois vieram os teares e iniciaram-se na produção de tecidos. Iam tocando de ouvido, respondendo ao que o mercado ia pedindo.

“Naqueles tempos, a procura era muito superior à oferta. A produção estava toda vendida. A clientela fazia fila à porta da fábrica para comprar”, conta Filipe Pereira, 34 anos, o licenciado em Gestão de Marketing pelo IPAM que, após ter passado por uma fiação, trabalha há dez anos as vendas da Carlom.

Na viragem do século, quando a conjuntura começou a mudar, o mercado interno a ficar estreito e as margens a apertarem, a Carlom iniciou uma viragem para a exportação e a diversificar do calçado (que pesa agora penas 30% na facturação) para o sector automóvel.

“Temos três engenheiros a trabalhar a área de qualidade. A seguir à aeronáutica, a indústria automóvel é a mais exigente do mundo em termos de qualidade, prazos e intolerância aos defeitos. Essa exigência ajudou-nos muito a crescer”, explica Mário Diniz, 26 anos, licenciado em Gestão pela Católica (onde também fez um mestrado em Finanças), que há dois anos trabalha na empresa fundada pelo avô homónimo.

A Carlom atravessou a primeira década do século XXI ultrapassando com maior ou menor dificuldade os obstáculos que lhe iam aparecendo pelo caminho. Em vez de se queixar dos chineses, optou por importar da China os artigos que não lhe compensava produzir cá. E o incêndio que em 2007 destruiu parte das instalações foi pragmaticamente encarado como a crise que devia ser transformada numa oportunidade.

“O que ardeu foi a parte mais velha da armazenagem, que assim foi feita de novo, mais moderna e eficaz”, refere Filipe Pereira, que começou a trabalhar na Carlom quatro meses antes do incêndio.

A aposta na indústria automóvel e o reforço da força comercial e da agressividade nas vendas, permitiu à Carlom triplicar o volume de negócios em dez anos (dos seis milhões, em 2007, para 18 milhões, em 2016). Mas crescer não é uma obsessão.

“A nossa estratégia é conservadora e prudente. Não queremos estar demasiadamente dependentes de nenhum sector ou país. Temos muito orgulho na polivalência da nossa carteira de produtos. E não queremos crescer a todo o custo, mas sim de uma forma sustentável, step by step. Gostamos de ter o negócio controlado e prezamos muito a nossa grande autonomia financeira”, resume Mário Diniz, a terceira geração que já debutou na Carlom.

A Empresa

Carlom
Rua do Sistelo 665
4435-452 Rio Tinto

Trabalhadores 58 Volume de negócios 18 milhões de euros Exportação 40% da produção é directamente exportada Principais mercados externos França, Espanha e Polónia  O que faz Fabrica tecidos leves, resistentes e de elevada qualidade, em fibras de nylon e poliéster, destinados às indústrias automóvel,  calçado, vestuário, estofos, colchões

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