A Graça do Engaço
T9 Maio 2016
Cantinas do Serrão

Manuel Serrão

Na última vez que lá fui com o meu amigo José Armindo Ferraz, da Inarbel, soubemos que o M&M, o espumante das Caves Central da Bairrada que foi parceiro da primeira Porto Fashion Week's Night Out, tinha acabado de conquistar uma medalha de ouro em Bordéus.

Convocado de imediato o distribuidor do M&M, o Alfredo, da M.Cunha, o Engaço ganhou uma graça especial com esta comemoração a que também se juntou em boa hora o Hélder, o nosso anfitrião. Mas é preciso reconhecer que as estrelas da noite voltaram a ser as senhorinhas, as poderosas cebolinhas que aparecem no final da crónica, porque os últimos são os primeiros.

O restaurante O Engaço, entre o Marco de Canavezes e Penafiel muito perto de Vila Boa de Quires, nunca se sabe de antemão o que se pode comer, mas sabe-se que será bom de certeza.

Quem diria que neste magnífico restaurante tudo começou com uma paixão comum pelo todo-o-terreno? Hélder da Rocha e Renato Barroso eram dois amantes e praticantes do todo-o-terreno que um dia, por brincadeira, decidiram transformar o espaço onde guardavam os destroços dos jipes mais os pneus e as jantes assinaladas, num espaço de restauração.

Hoje a dupla desfez-se. O Hélder, vendedor de distribuição moderna foi o que ficou com o Engaço na mão. O professor Renato Barroso foi à sua vida e como engenheiro agrónomo que é, não lhe devem faltar oportunidades por aí fora, no nosso Portugal desertificado.

Neste restaurante paredes meias com os célebres bolinhos de amor de Penafiel, tudo é surpreendente, a condizer com a estória do seu nascimento que também já vimos que não foi de um parto muito natural.

No Engaço
Entre o Marco de Canavezes e Penafiel, nunca se sabe o que se pode comer, mas sabe-se que será bom de certeza

O Hélder gosta de ser ele a escolher o que os clientes vão comer. Mas não por uma arrogância tola e impertinente, como já tenho visto noutros lugares (onde, aliás, desde essa primeira vez, nunca mais me viram os dentes…) mas sim porque é no caminho matinal entre a lota de Angeiras e o Engaço que o Hélder inventa o que vai servir em função do que a terra e o mar lhe deram nesse dia.

Das vezes que já lá fui retenho as senhorinhas, umas senhoras cebolas, espremidas de quase toda a sua acidez, polvilhadas de flor de sal e mergulhadas em bom vinho tinto. Reza a lenda do Engaço que o nome vem da tradição de serem as virgens da terra quem melhor as espremia usando os membros inferiores, mas isso não tive forma de confirmar no terreno.

O que já lá comi mais do que uma vez foi uma alheira à moda do Engaço que vem desfeita, misturada com grelos e ovo numa receita que, respeitando o trio tradicional aparece com um sabor renovado. Eis um caso em que o conjunto vale mais e é mais saboroso que a soma das partes.

Ninguém deve ir ao Engaço ao engano. Se lhe está a apetecer um prato que não tenha nada a ver com a cozinha tradicional portuguesa, escolha outro restaurante. Embora lá possa ter a certeza que vai ser surpreendido pelo visual, pelas misturas ou pela confeção dos produtos que tão bem conhece nas suas roupagens habituais.

RESTAURANTE
O Engaço

Avenida Recezinhos 4, 668

Castelões

4560-056 Penafiel

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