T74 - julho/agosto22
Produto

Resíduos que se transformam em matéria-prima

Phoenix é o vencedor do Innovation Award na recente edição da Techtextil. Um projeto que é uma solução e que valoriza os desperdícios de couro existentes na automotive da indústria têxtil.

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Vencedor do Innovation Award na recente edição da Techtextil, o projeto Phoenix constitui-se como uma solução de valorização dos desperdícios de couro existentes na área automotive da indústria têxtil. A ERT, parceira industrial do projeto, juntamente com CITEVE, CeNTI e CTIC, desenvolveu uma solução que transforma as aparas de couro num revestimento têxtil sustentável, feito a partir de uma formulação de base bio. 

“A ERT tinha um problema que era o excesso de resíduos de aparas de couro. Apesar de ser um material natural, em termos de requisitos as exigências são idênticas às de uma pele sintética, o que se reflete num aproveitamento de apenas 40/60% da pele. O restante etram resíduos levados para aterro, daí este desafio lançado no âmbito do projeto Texboost”, o projecto mobilizador para o setor co-financiado pelo Portugal 2020, expolica David Macário, diretor de inovação da ERT. 

“Trabalhamos as aparas no sentido de as valorizar, aplicando-as num revestimento têxtil. Fizemos a hidrólise do couro e efetuamos diferentes revestimentos, que se constituem como uma alternativa ao couro”, descreve Augusta Silva, do CITEVE, destacando a base biológica em toda a formulação. “Tivemos sempre o maior cuidado em ter uma formulação o mais bio possível, desde o resíduo ao aditivo, por exemplo, uma malha de poliéster reciclado com um coating de base bio”, acrescenta a gestora do projeto. 

O projeto Phoenix encontra-se concluído desde 2020, ao longo dos últimos dois anos a empresa ERT tem-se focado em melhorar o produto e dar-lhe aplicações finais diversificadas, que vão de vestidos a tapetes, passando pelo mobiliário e calçado. “O revestimento tem já aprovação para ser usado no vestuário, acessórios, calçado, e estamos a trabalhar para corresponder às exigências do sector automóvel”, avança Augusta Silva.

“Estamos a desenvolver parcerias para fazer produções piloto para a moda e estamos também com parcerias no automóvel para rever requisitos. Na Techtextil apresentamos sobretudo aplicações que estamos a explorar para o produto, para aguçar a curiosidade”, sustenta o responsável pela inovação da ERT, explicando que em simultâneo foi criada a marca Phoenix para explorar este produto. 

Mas para chegar aqui, foram precisos vários ensaios, que Augusta Silva descreve de forma resumida. “Tivemos diferentes abordagens tecnológicas, tentamos utilizar o couro por via da trituração e depois aplicar o coating, o resultado foi um couro pouco homogéneo, mas que pode ser interessante para o sector da moda. Em paralelo exploramos a hidrólise do couro”. 

Joaquim Gaião, diretor de inovação do CTIC, explica que a hidrólise do couro consiste em transformar os resíduos que estão em estado sólido em estado líquido. “Transformamos os resíduos em hidrolisado através de dois tratamentos complementares, o enzimático e o químico. Uma vez no estado líquido é tratado, filtrado, clarificado, permitindo depois que esse líquido seja misturado numa pasta que dá origem ao revestimento”, esclarece o responsável do Centro Tecnológico da Indústria do Calçado. 

Já ao CeNTI coube neste projecto colaborar sobretudo no desenvolvimento de novas formulações. Regina Malgueiro, team leader na área dos materiais funcionais, explica que “o objetivo era melhorar as propriedades da solução, nomeadamente a solidez à luz” – propriedade essencial para aplicações exigentes, como é exemplo sector automóvel. Paralelamente, foi testada a adequação dos diferentes resíduos em estudo. “Para além do couro, foi triturado também o resíduo de acetato-vinilo de etileno, mais conhecido por EVA, para facilitar a sua integração no processo de coating desenvolvido pelo CITEVE. O CeNTI estudou ainda revestimentos alternativos – solvente-free, contendo resíduos de EVA”, o que foi feito através de tecnologias de extrusão. 

O conhecimento dos processos de revestimento e adequação de resíduos foi posteriormente passado para as linhas de produção da ERT. “É um sentimento de missão cumprida, ver que a empresa conseguiu introduzir as soluções desenvolvidas no ciclo produtivo. O prémio de inovação da Techtextil é o reconhecimento de todo o trabalho, mesmo que de forma indirecta”, diz David Macário, adiantando que este é um trabalho que vai continuar a ser aperfeiçoado, aproveitando os incentivos do PRR para catapultar o produto no mercado. 

 

O Produto

PHOENIX
Desenvolvido pelo CITEVE, ERT, CeNTI e CTIC
Resíduos que se transformam em matéria-prima

O que é? Revestimento têxtil feito a partir de aparas de couro Produtos finais Tem aplicação no vestuário, calçado, acessórios, mobiliário e sector automóvel Principal contributo Valorização e reaproveitamento dos desperdícios de couro Estado do Projeto Concluído, com pedido provisório de patente

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