T69 - Janeiro 22

Que solução para o problema dos custos galopantes do gás e da energia?

Ano novo, problemas velhos. Empenhada na retoma económica que a pandemia teima em condicionar, a ITV une-se a uma só voz contra os aumentos sem precedentes dos custos de contexto. Os preços do gás, energia e transportes estão a tornar-se asfixiantes e os empresários não se cansam de avisar que está em risco não só a viabilidade das empresas como a da própria economia nacional. Neste momento, parece que só a intervenção do governo poderá ajudar a encontrar uma solução para esta situação. A indústria pede que não lhe apaguem a luz.

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As margens de lucro esbatem-se de dia para dia, mas este esforço por parte das empresas não pode durar para sempre, especialmente quando o problema parece não ter fim à vista.

“Fomos obrigados a rever os preços de venda e, consequentemente, os nossos clientes reagiram com enorme desagrado. É que para além do acréscimo destes custos energéticos, também fomos forçados a acondicionar os aumentos brutais das matérias-primas”, conta Rui Gordalina, CEO da Oldtrading, que neste momento diz estar completamente refém dos aumentos energéticos, sem nada poder fazer para contornar a situação. “A nossa estrutura produtiva e industrial não permite alterar as fontes de energia. Estamos completamente dependentes da energia elétrica”, explica.

A solução, garante o empresário, terá de passar por medidas governamentais, já que as empresas não têm meios para dar resposta aos sucessivos aumentos. “O Estado devia reduzir a taxa de IVA das faturas de energia ou conceder uma subvenção, à semelhança do que fez recentemente com o gasóleo e gasolina”, sentencia.

E se em termos de volume de encomendas, a subida dos preços do gás e da energia não teve um efeito significativo na Perfil Cromático – que até aumentou a facturação em 2021 – o cenário é bem diferente no que respeita aos lucros, que emagrecem a olhos vistos. “Os custos relacionados com a energia mais do que duplicaram e rapidamente absorveram todo o lucro existente, colocando facilmente as empresas com prejuízos altíssimos. A nível interno, o impacto é simplesmente brutal, uma vez que com esta nova realidade, o negócio da Tinturaria/Acabamentos passou a ser questionável”, afirma Nuno Oliveira. 

O diretor-geral da Perfil Cromático diz mesmo que o que tem valido “é que todos os nossos clientes estão direcionados para um segmento de mercado médio/alto, e por isso conseguem suportar o inevitável aumento de preços a que também foram sujeitos”. No entanto, “a escalada de preços não pára, e por isso uma nova revisão de preços está a ser avaliada e será uma realidade”, alerta. 

É em medidas internas que a empresa se tem apoiado para conseguir manter a cabeça fora de água. “Estamos a agilizar o processo produtivo reduzindo a improdutividade e os reprocessamentos. Reativamos também a caldeira a biomassa e fizemos um novo contrato – parcial -de gás, que nos permitiu reativar parte da Cogeração, disponibilizando águas quentes para o processo produtivo”, explica.

Rui Gordalina
“O Estado devia reduzir a taxa de IVA das faturas de energia"
 

Paliativos que estão, no entanto, longe de constituir uma solução. “A resolução deste problema não poderá ser feita ou imaginada por nós. A nós cabe-nos a tarefa de tingir e acabar malha. Está na hora de o governo central reagir de uma forma séria a esta questão. Eles é que têm a obrigação de arranjarem a solução para este problema. Ainda não vimos medidas reais de ajuda às empresas nesta área e garanto que quando acordarem, em muitas situações já será tarde!”, adverte Nuno Oliveira.

Considerando serem dos cost drivers mais significativos na produção têxtil, o CEO da ERT, João Brandão, vê estes aumentos a impactarem tanto de forma direta como indireta. “O aumento dos custos da energia, em especial a eletricidade, tem um impacto direto nos nossos processos produtivos, que não são focados em trabalhos de mão-de-obra intensiva, mas sim em capital intensivo, com elevado consumo energético. Por outro lado, temos os fornecedores a passar globalmente pela mesma situação e a forçar aumentos nas matérias-primas, para além dos acréscimos anteriores, já tidos em 2021, relativos ao custo da matéria-prima e transportes”, relata, explicando que a única alternativa foi passar o aumento de custos para os clientes. “O que se tem demonstrado bastante difícil, porque clientes industriais, particularmente os da área automóvel, são adversos a este tipo de negociação”, expõe. 

Para tentar atenuar o problema, a ERT está a avançar com um projeto interno de produção de energia fotovoltaica, ao mesmo tempo que realiza um trabalho exaustivo no que concerne à eficiência dos seus equipamentos para reduzir o consumo. E esta é, na opinião de João Brandão, a solução que o setor terá de abraçar. 

“Esta situação poderá ser atenuada através do investimento em fontes autónomas de abastecimento, redução do consumo via eficiência e controlo dos equipamentos, e também pela via negocial. Por fontes autónomas, refiro a energia solar, que hoje traz um benefício para além da sustentabilidade. Em termos de equipamentos, é necessária uma análise de consumos e picos, verificando onde estão a acontecer e o que pode ser feito. Quando possível, devemos equacionar produção em vazio/super vazio, caso seja possível, quer em termos técnicos, quer em termos laborais”, completa.

João Brandão
“Esta situação poderá ser atenuada através do investimento em fontes autónomas"
 

Posição semelhante definiu a Carvema, que nos últimos 15 anos fez questão que todos os investimentos feitos pela empresa tivessem em conta a vertente de eficiência energética, precisamente para reduzir o peso desse fator nos custos de produção e assim aliviar um custo de contexto que sempre foi dos mais pesados para o setor. Ainda assim, as recentes subidas obrigaram a um aumento na casa dos 40% do preço dos serviços da empresa, sob pena de passar a produzir com prejuízo operacional.

“Esta não é uma situação normal de aumento dos custos de produção, mas sim uma questão geopolítica com propósitos muito bem definidos e com o objetivo de provocar danos concretos. O seu impacto é imediato, alterando as margens do negócio, influenciando negócios já fechados, cancelando outros, etc.”, revela Carlos Carvalho, sócio-gerente na Carvema Têxtil, que de outubro de 2020 a janeiro de 2022 viu a conta do gás natural da empresa passar de 65 mil para 345 mil euros. 

“E embora estes custos afetem diretamente o nosso negócio – tinturarias, estamparias e lavandarias –, lembro que fazemos parte de uma cadeia de produção. Se os nossos clientes não conseguirem encomendas, porque as perdem devido ao preço para países como a Turquia, tudo vai sofrer: as empresas vão fechar, o desemprego vai aumentar, etc,” explica Carlos Carvalho, que também é da opinião de que só o Estado poderá ajudar o setor neste momento. “A única forma de uma situação destas ser travada ou atenuada é com a intervenção do Estado de forma objetiva, permitindo a redução de algumas taxas e impostos que as empresas pagam, de forma a se financiarem para pagar estes custos absurdos”.

Já Alfredo Moreira, diretor-geral da Baby Gi, afirma que para já o impacto do aumento da energia não se faz sentir diretamente na produção da empresa, mas sim através dos fornecedores de matérias-primas. “Já nos fizeram aumentos muito grandes nos últimos fornecimentos”, afirma o diretor-geral, que revela não ver muitas soluções para esta questão, a não ser passar esse custo para o valor de venda das coleções da marca. “A única forma de contornar a situação é tentar produzir mais quantidades com a mesma estrutura e reduzir um pouco a margem de comercialização, ficando na expectativa de que a situação a curto prazo estabilize”, revela ao T Jornal.

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