T63 - Maio/Junho 2021

Que expetativas para o regresso às feiras presenciais?

A notícia do regresso às feiras presenciais chegou como uma brisa fresca, mas se há quem mal possa esperar para aproveitar esta oportunidade para voltar aos negócios, há também quem acredite que para já não estão reunidas as condições para um regresso favorável. Algures no meio, o único consenso parece ser o de que as feiras são vitais para a prosperidade dos negócios, e o sentimento é de satisfação generalizada pela promessa de que, dentro em breve, tudo volte ao que era antes.

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São a forma privilegiada de contacto entre a indústria e os compradores e funcionam como o barómetro que ajuda a determinar a saúde da indústria. Aproxima-se o regresso de algumas das mais importantes feiras, Mas nem todos estão ainda convictos de que esta seja por enquanto uma rentrèe em grande forma.

A planear participar na Première Vision, Munich Fabric Start e London Textile fair, a Adalberto mal pode esperar por voltar ao contacto presencial com os compradores. “Estamos a contar com a presença habitual dos nossos clientes e queremos também angariar novos contactos, principalmente devido às novas áreas de inovação e sustentabilidade”, afirma Susana Serrano, a CEO da empresa. Nesta reentrée, a Adalberto está a apostar na apresentação de coleções-cápsula com novas estruturas têxteis, customizáveis e 100% rastreáveis e biodegradáveis. “Esperamos que nos tragam novas oportunidades de negócio”, reforça a CEO.

A sustentabilidade é também a aposta da Fitecom para as próximas feiras presenciais, e embora o core business da empresa sejam as puras lãs, o foco nos próximos meses estará na apresentação de uma nova coleção sustentável com poliésteres reciclados e lãs ecológicas.

Quanto ao tão aguardado regresso presencial às feiras, o CEO da empresa não contem o entusiasmo. “Nós estamos vivos, e como estamos vivos temos de trabalhar!”, afirma João Carvalho, que apesar de contido nas expectativas considera este regresso essencial para os negócios das empresas. “Não estou à espera já de feiras normais, mas sim algo moderado. As nossas perspetivas são que as coisas comecem já a animar nestas feiras, embora não ao ritmo habitual. Mas é um retorno”, reforça.

Neste processo, a vacinação terá um papel essencial. “Ter 50% da população europeia vacinada pode significar um avanço muito considerável no à vontade das pessoas em estarem expostas. Temos é de ter pensamento positivo”, reciomenda João Carvalho, que conta participar na Première Vision, na Munich Fabric Start e na London Textile Fair.

Para Joana Correia, manager da Rio Sul, a vacinação terá igualmente um papel determinante, tendo em conta que “as pessoas estão mais calmas, com menos medo em aceitar o contacto presencial e mais otimistas em relação ao futuro.

João Carvalho
“Não estou à espera já de feiras normais, mas sim algo moderado. Que as coisas comecem já a animar”
Nuns mercados mais do que noutros, mas em geral sentimos mais confiança. Creio que temos condições para a retoma das feiras”, reitera a administradora, que para já conta participar na Intergift e na IdF. “As feiras são fundamentais para as relações comerciais, até porque temos feedback sobre os nossos produtos e trocamos opiniões sobre o mercado e sobre as tendências atuais”, explica. Para além disso, e de acordo com sua a experiência, nem todos os clientes são adeptos de encomendas à distância. “A possibilidade de ver os produtos presencialmente dá uma maior confiança aos clientes para efetuarem as suas encomendas, potenciando o nosso volume de negócios”, completa com expectativa.

Igualmente motivado e com a convicção de que as feiras presenciais que se aproximam vão ser um sucesso, está Marco Costa, diretor comercial da Cristina Barros, a marca portuguesa de moda feminina que vai marcar presença na Who’s Next, na MOMAD, na PURE, e na PROEJCT.

“Estamos muito confiantes que a recuperação do comércio internacional será rápida”, afirma ao mesmo tempo que diz querer aproveitar este regresso presencial para tirar a temperatura ao panorama global da indústria têxtil. “Vamos procurar perceber como está a decorrer a atividade económica internacional, se estão a trabalhar em regime de normalidade ou com restrições, e planear a curto prazo a nossa estratégia de vendas”, explica.

“Os sinais que recebemos diariamente são positivos no que toca à retoma, com solicitações e contactos do mercado interno e externo. Prova que o ritmo está a aumentar e que todo o processo de digitalização utilizada durante o período de interregno das feiras presenciais foi capaz de manter viva e até mesmo estimular a indústria”, defende Marco Costa.

No entanto, e embora a convicção generalizada do setor têxtil seja a de que as feiras presenciais são essenciais para a bem-aventurança dos negócios, alguns empresários estão ainda cautelosos quanto aos reais resultados dos certames que se aproximam.

“Vamos participar num feira médica, no Dubai, em Julho, com a nossa marca de equipamentos de proteção individual e vestuário para a área da saúde. Mas com as marcas de moda infantil, a Dr. Kid e a A.J., ainda não estamos certos se vamos participar ou não”, revela José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel, que aponta as restrições nas viagens como uma das condicionantes que o fazem questionar se valerá ou não a pena participar na Pitti Bimbo, agendada para final de junho.

Susana Serrano
“Estamos a contar com a presença habitual dos nossos clientes e queremos também angariar novos contactos”

“Sabemos que muitos dos clientes estrangeiros que nos visitam nas feiras, e que são no fundo o motivo pelo qual participamos nelas, não vão poder viajar. Quando vou a uma feira, vou para investir e não para gastar. Só vamos participar nas feiras se soubemos com certeza que os clientes nos vão conseguir visitar”, explica o administrador.

Alfredo Moreira, diretor-geral da Baby Gi, opta igualmente por uma postura prudente. “Penso que ainda não é timming certo para iniciar as feiras presenciais em virtude dos receios dos clientes e das limitações nas viagens”, diz, adiantando que ainda ponderou em participar na Pitti Bimbo mas que foi dissuadido pelos “números de Covid que Itália apresenta e pela certeza de que até à data de realização da feira não haverá ainda estabilidade suficiente em termos de vacinação”. A expectativa é regressar em janeiro de 2022.

Determinado também em apostar apenas em 2022 para o grande regresso às feiras presenciais está Rodney Duarte, Export Sales Manager na F.S. Confecções, que afirma não acreditar “que as feiras que estão marcadas para o verão se vão realizar. Quando se está a aproximar a data, as feiras são adiadas ou passam a digitais e já estamos um pouco cansados disso”. Presença habitual na Pitti Bimbo, Kind + Jugend e Index, a empresa decidiu não participar nas feiras deste segundo semestre do ano. “Não me parece que daqui a dois meses a situação se vá alterar para algo diferente do que estamos a viver agora. Já vimos que o evoluir da pandemia é cheio de avanços e retrocessos. Acreditamos que as feiras que se realizarem agora não vão ser a mesma coisa”, afirma.

“Desde sempre as feiras foram muito importantes para o negócio e espero que continuem a ser. Queremos muito participar e que as coisas voltem ao normal o mais rapidamente possível. Nem que seja a um novo normal”, completa Rodney Duarte, espelhando a vontade de um sector que está mais do que preparado para voltar, uma vez mais, a mostrar a fibra de que é feito.

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