António Moreira Gonçalves
Afinal, também se faz em Portugal o tão necessário Tecido-Não-Tecido (TNT) para os equipamentos de saúde. A TrimNW é uma das raríssimas fábricas fora da China e pode fabricar até 300 mil metros semanais, depois de ter reconvertido a produção dedicada aos componentes automóveis para os equipamentos do pessoal hospitalar. Com o apoio do CITEVE e o regresso à fábrica do pessoal que já tinha colocado em lay-off.
Em poucas semanas, as máquinas que produziam têxteis para o interior de automóveis passaram a fabricar TNT impermeável, ideal para a confecção de batas e outros equipamentos hospitalares. A têxtil TrimNW reconverteu as suas linhas de produção, desenvolveu um novo artigo, certificou-o junto do CITEVE e está a produzir atualmente 125 mil metros por semana, mas prepara-se para aumentar a capacidade produtiva para os 300 mil. Uma operação que já fez regressar os 20 colaborades que estavam em lay-off.
Um alívio também para o país, já que havia em Portugal – e também na Europa e no mundo em geral – um problema de base com a dependência da China na produção destes Tecidos-Não-Tecidos adaptados às exigências hospitalares. “É um grande conforto saber que temos uma empresa em Portugal que tem este tipo de material”, disse já Braz Costa, diretor-geral do CITEVE. A TrimNW é a única fábrica da Península Ibérica com capacidade para o fabrico deste tipo de produto, juntando-se às outras quatro que existem em toda a Europa.
“A meio de março tínhamos ainda a previsão de continuar a trabalhar da forma habitual, mas com a progressão da pandemia na Europa, em apenas uma semana muitos dos nossos clientes tiveram de parar a produção e começaram a adiar as encomendas”, lembra Rui Lopes, CEO da TrimNW, têxtil de Santarém que fornece TNT e peças têxteis termoconformadas para a indústria automóvel. Os tectos dos famosos táxis de Londres, por exemplo, são um dos muitos destinos dos revestimentos produzidos pela empresa.
Com a redução “quase a zero”, das encomendas o grosso dos clientes habituais a pedirem adiamentos, a empresa viu-se obrigada colocar metade dos 40 colabores em lay-off. “Começamos a receber contactos e a perceber que existia uma grande necessidade deste Tecido Não Tecido para a área hospitalar”, e o material que habitualmente é utilizado no revestimento e insonorização do interior automóvel foi rapidamente reorientado para os equipamentos hospitalares. “Normalmente o que produzimos não precisa de ser impermeável, mas para os equipamentos de protecção isso é fundamental. Fizemos pequenas alterações no processo de fabrico e lançamos vários ensaios para testar a impermeabilidade”, explica o empresário.
A TrimNW recebeu na última segunda-feira a certificação do CITEVE de que o produto pode ser utilizado na confecção de equipamentos de protecção individual, como fatos, batas, cogulas e manguitos, mas não em máscaras hospitalares. “Não atingiu os valores mínimos de protecção para as máscaras, provavelmente atingiria para as máscaras de uso social, mas neste momento estamos agora focados em responder aos pedidos que recebemos para o vestuário”.
Com um número crescente de pedidos – sobretudo de confecções, mas também de unidades de saúde, como o hospital de Santarém, que compra o material e depois gere a confecção das peças – a TrimNW está neste momento a atingir a sua capacidade máxima e tem de novo toda a equipa a trabalhar. “Estamos a produzir 125 mil metros lineares por semana, mas planeamos trabalhar ao sábado e adaptar outra linha de produção, aumentando a capacidade para perto dos 300 mil metros”, adianta o CEO da empresa. Um esforço que visa dar resposta às necessidades, já que os 300 mil metros de tecido resultariam em cerca de 260 mil batas certificadas.
Em 2019, a TrimNW fechou as contas com 3,6 milhões de euros em faturação e o primeiro trimestre de 2020 apontava para um crescimento. “Mesmo já com efeitos da epidemia, no primeiro trimeste crescemos 10% em relação ao período homólogo do ano passado”, conta Rui Lopes, que agora apenas prevê um regresso ao sector automóvel a partir do fim de maio.