23 outubro 19
Convenção ITMF

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O saco da Ikea, os tapetes de trapos e a sustentabilidade

O famoso saco azul da Ikea foi um dos exemplos dados pelo Global Supplier Development Leader da multinacional sueca para ilustrar o seu compromisso com a sustentabilidade. “É feito a 100% com poliester reciclado e custa apenas 70 cêntimos”,  afirmou Calvin Wooley na sessão Textile Value  Chain Collaboration da convenção ITMF.

Uma versão actualizada dos bons e velhos tapetes de trapos foi outro dos exemplos luminosos de boas práticas sustentáveis fornecidos no painel Ikea – três dos quatro oradores são quadros da multinacional sueca e o quarto, o paquistanês Zaki Bashir (CEO da Gul Ahmed), é fornecedor da Ikea há um quarto de século.

“Estamos a fazer tapetes, a um preço muito acessível, a partir de desperdícios da indústria de têxteis lar”, revelou Ana Barbosa, a portuguesa responsável pela área de Retail da Ikea, que tem cinco lojas no nosso país, uma gota de água na rede mundial de 430 armazéns da multinacional, localizados em 52 países, que garantem o emprego a 200 mil pessoas e um volume de negócios anual de 41 mil milhões de euros.

A madeira é a principal matéria prima usada nos produtos do gigante sueco, mas os têxteis lar ocupam um espaço ainda significativo nas suas lojas, apesar do contributo da indústria portuguesa de têxteis lar ser uma pequena gota de água, a anos luz de um Top 5 de fornecedores liderado pela China (32%), Turquia (17%), Vietname (12%), India (11%), e Paquistão (7%) – ,um ranking onde nem sequer entram o Egipto e o Bangladesh  e foi revelado ao final da manhã de ontem pelo Global Material Deployment Leader da Ikea.

“Em 2030 não usaremos poliester virgem em nenhum dos nossos produtos”, garantiu Nils Mansson, antes de revelar o estado atual e metas estabelecidas no particular dos materiais. Este ano, a Ikea vai usar 59% de poliester reciclado, ligeiramente abaixo do objetivo de 60% mas um progresso enorme face aos 25% de 2018 e 10% de 2017.

Ninguém pode fazer marcha atrás no caminho para uma maior sustentabilidade, mas por muitas voltas que se dê acabamos sempre por dar de frente com o preço. Uma pesquisa internacional feita este ano pela Ikea revela-nos que 54% das pessoas querem ter um modo de vida mais sustentável e saudável, mas apenas 6% o fazem de uma forma completa. Qual é a barreira?

Ana Barbosa esclarece-nos o que impede (de acordo com os próprios) os 48% de levarem  um estilo de vida mais sustentável – em primeiro lugar porque é mais caro (cá está o fator preço), em segundo, porque há falta de apoios dos governos e das empresas e, por último, porque não sabem ao certo como fazê-lo.

O preço volta a estar em cima da mesa quando Calvin Woolley elenca a to do list da multinacional sueca, uma lista onde a primeira tarefa é tornar a Ikea mais acessível a quem ainda hoje não tem dinheiro suficiente na carteira para ir lá fazer compras. 

E o preço baixo é um dos cinco requisitos para um produto Ikea, na companhia do design, funcionalidade, qualidade e sustentabilidade – a palavra mágica da convenção.

Para ser sustentável, a Ikea quer prolongar a duração dos produtos e, no momento em que são concebidos, ter no pensamento como é que no final da sua vida vão ser reintegrados no ciclo produtivo. E tem muitas outras ideias, como a de começar a alugar produtos (em vez de se limitar a vendê-los) e reforçar o buy back. Se bem que , como notou Calvin Woolley, esta última ideia seja tão velha como os nossos tapetes de trapos.

“É impressionante a quantidade de devoluções de copos de champanhe que registamos todos os janeiros”, contou Calvin, ilustrando um dos efeitos secundários da política de aceitar a devolução dos produtos num prazo de 30 dias após a compra.      

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