23 junho 22
Techtextil

Jorge Fiel

Lineartex: Um caminho de 28 anos do calçado até à têxtil

Ser vertical, ou seja fazer a laminagem, o sourcing do tecido e a confeção do produto final, é a grande mais-valia da Lineartex/Dehora que se estreia na Techtextil e tem uma história para contar muito diferente das que estamos habituados a ouvir. A excentricidade começa logo pela geografia, já que a fábrica está em Leiria – e prossegue com a originalidade da sua atividade industrial ter começado, há 28 anos, a fabricar sapatos.

O fundador, Domingos Alves Ferreira, modelista de profissão, andou pela Feira e Felgueiras, onde bate o coração da indústria de calçado, até que, atraído por uma proposta de melhor salário, se mudou para Leiria, onde acabaria por se estabelecer por conta própria com uma fábrica de calçado que batizou Dehora.

Corria tudo às mil maravilhas até que os chineses começaram a invadir o mercado europeu com sapatos ao preço da chuva e deram cabo do negócio de Domingos Alves Ferreira.

“Foi apanhado desprevenido. Na altura não havia muita informação”, conta o filho, Diogo Alves, que em 2005, mal concluiu o 12º ano, se juntou ao pai – era mais um par de mãos (e uma nova cabeça…) – na luta pela sobrevivência, para tentar evitar o naufrágio da empresa.

Domingos reagiu como soube e pôde à invasão chinesa. Fez um downsizing violento, reduzindo o efetivo de 40 para oito trabalhadores, e deu um novo rumo à empresa, que deixou de fabricar o produto acabado (sapatos), concentrando-se na produção de componentes e acabamentos para a indústria do calçado.

A Dehora estava a meter muita água quando a transfusão de sangue novo (Diogo, o filho de Domingos) lhe deu um novo fôlego. “O facto de eu falar inglês permitiu-nos abrir novos mercados e arranjar novos clientes e fornecedores”, recorda Diogo Alves, que ao assumir o leme da empresa procedeu a uma correção de rota radical, em direção aos têxteis técnicos.

A criação em 2020 da Lineartex, a divisão de laminagem têxtil da Dehora, ocorreu num momento de grande turbulência, com as águas agitadas pela explosão da pandemia de Covid-19. Mas apesar disso, o barco manteve-se bem à superfície.

“Temos uma enorme experiência acumulada em projetos muito técnicos, que incluem colagens, de que estamos a tirar partido na divisão de laminagem têxtil. E temos um parque de máquinas muito versátil que nos permite fazer todo o tipo de colagens – para roupa, equipamentos militares, vestuário de proteção, calçado, mobilidade… Os nossos grandes trunfos são esta flexibilidade aliada ao facto de sermos verticais, oferecendo desde a laminagem até ao produto confecionado, passando pelo tecido”, afirma Diogo Alves, CEO da Dehora/Lineartex.

O cabo de 28 anos de viagem, com 180 trabalhadores e um volume de negócios de oito milhões de euros (dos quais 58% exportados) tudo leva a crer que o barco da empresa de Leiria chegou a bom porto, o que confirma da justeza da reorientação estratégica do calçado para os têxteis técnicos – e para uma empresa inovadora capaz de abraçar projetos de elevada matriz inovadora e com requisitos técnicos complexos.

“Viemos aqui à procura de clientes que precisam de nós mas ainda não sabem”, diz, meio a brincar (mas também meio a sério) Diogo, que se está a estrear na Techtextil, depois de ser ter estreado no circuito nas feiras têxteis com presenças na espanhola Futurmoda e na ISPO, que, como confessa, ”não deu grande coisa”.

“Nunca paramos de investir, mas temos sempre a preocupação de dar pequenos passos para evitar um trambolhão grande. Temos a produção cheia. Neste momento o que nos aflige mais não é a falta de trabalho, mas sim de trabalhadores”, conclui Diogo.

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