23 junho 22
Techtextil

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Cork-a-tex já está na cama e vai para os pés e os carros 

É com uma enorme curiosidade e interesse que está a ser recebida na Heimtextil a estreia mundial da primeira coleção de roupa de cama produzida com fio de cortiça (cork-a-tex) pela Têxteis Penedo. O acontecimento não passou despercebido ao blogue da feira, que logo noticiou a nova, urbi et orbi e em termos entusiásticos.

Os tecidos feitos a partir de fio de cortiça estão quase a entrar em órbita. Além de que já são uma realidade palpável (o toque é excelente) nos têxteis-lar, decorrem negociações muito avançadas no sentido de alguns dos maiores players mundial de sapatilhas e da indústria automóvel se tornem clientes dos tecidos com fibra de cortiça.

As coisas levam o seu tempo. Foi há mais de dez anos que surgiu a ideia de produzir um fio natural para a têxtil a partir de desperdício da indústria corticeira – um setor em que o nosso país dá cartas a nível mundial. “Durante os oito anos de desenvolvimento do produto tivemos muitas dores de cabeça e foram muitos os estudos que tivemos de fazer para irmos ultrapassando os problemas à medida que eles surgiram, até porque a cortiça não é toda igual e o produto final tinha de ser homogéneo”, recorda Xavier Leite, CEO da Penedo.

Resolvidos todos os quebra-cabeças, a consagração chegou quando o cork-a-tex, desenvolvido em parceria com a corticeira Sedacor, foi distinguido pela Techtextil com o prémio de inovação na categoria Novo Produto.

Não deixa de ser curioso que este prémio foi atribuído na edição da Techtextil de 2019, a última realizada antes da que está em curso em Frankfurt e decorre em simultâneo com a Heimtextil – onde a Penedo brilha com a primeira coleção de produto final produzido a partir da inovação premiada há três anos. Na altura, o cork-a-tex era um bebé de colo que agora já demostra ter pernas para andar.

“Grandes marcas mundiais de calçado desportivo interessaram-se pelo nosso tecido, que já passou todas as fases de teste até à final, durante a qual dezenas de pares de ténis protótipos já estão na rua”, conta o CEO da Penedo, enquanto nos mostra um saco feito de tecido cork-a-tex igual ao que António Costa usou para distribuir brindes na última feira de Hannover, onde Portugal foi país convidado.

Em joint-venture com a Sedacor, a Penedo fabrica o fio de cortiça que, posteriormente, é tecido pela Riopele – empresa que está em adiantadas conversações para fornecer este tecido a grandes construtores mundiais de automóveis.

“Neste preciso momento a única coisa que posso dizer é que o tecido já foi aprovado por diversas marcas”, confidencia Xavier Leite, acrescentando que a Penedo tem em curso uma parceria com a vimaranense JFA para o fabrico de tapetes cork-a-tex.

Se, como tudo leva a crer, as grandes marcas de artigos para desporto e a indústria automóvel se tornarem grandes compradores de tecido de cortiça, a Penedo e a Sedacor terão de corresponder do lado da oferta a este crescimento exponencial da procura.

“A matéria-prima é virtualmente inesgotável, até porque a esmagadora maioria do desperdício industrial da cortiça é queimado nas caldeiras. Mas teremos de aumentar significativamente a nossa capacidade de produzir fio, que atualmente é muito reduzida, cifrando-se em cerca de três toneladas por mês”, diz Xavier Leite, acrescentando que esse aumento terá o efeito secundário positivo de tornar o produto mais barato e, por isso, mais competitivo.

Para acautelar o previsível salto gigante na procura, a Penedo tem em curso a aquisição de uma segunda máquina, que triplicará a sua capacidade produtiva de fio cork-a-tex. No entanto, se se confirmarem as previsões – mesmo as mais prudentes – o consórcio Penedo/Sedacor terá de investir em pelo menos dez máquinas para fazer face ao volume da procura.

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