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BeStitch: “Ninguém aceita aumentos de 40%, é mais vantajoso parar”

Os aumentos descontrolados dos preços das energias e matérias-primas estão a colocar as empresas num contexto insuportável e são cada vez mais as que admitem parar a atividade. “A situação é absolutamente caótica, é mais vantajoso parar”, diz Rui Machado, CEO da BeStitch.

A exportar a 100% e com uma trajectória de crescimento impar na última década, a fabricante que trabalha sobretudo produtos à base de linho e com uma estrutura que engloba tecelagem, acabamentos e confeção diz que as encomendas que está a entregar deveriam ter um aumento de 40% e que os prejuízos estão a ser suportados pela empresa.

“Fizemos uma revisão de preço em novembro e outra em janeiro e o que estamos a entregar agora deveria ter um aumento de 40%. Ninguém aceita aumentos de 40%”, exclama Rui Machado, chamando a atenção para a urgente necessidade de intervenção do Governo. “Por este caminho, daqui a meio ano não há empresas, é mais vantajoso parar”.

 

Com custos médios em eletricidade, gás natural e combustíveis que em 2021 rondaram os 180 mileuros/mês, nestes primeiros meses de 2022 passaram já para uma média 410 mil/mês. “Mas falar apenas da energia é redutor. Os produtos químicos, tais como corantes e auxiliares também vêm os seus preços a disparar. Todas as matérias-primas, combustíveis e matérias subsidiárias aumentam todos os dias”, adverte.

Um contexto caótico em que as empresas não têm qualquer capacidade de controlo. “A transição energética por decreto, sem poder de decisão nos mercados irá continuar a ser desastrosa. Este é apenas o primeiro episódio”, reforça Rui, para concluir que sem medidas decisivas de apoio ao governo a única alternativa que resta às empresas é parar a atividade.

E o caso da BeStitch nem é dos mais dramáticos já que, por enquanto, os prejuízos têm sido amortizados pelo aumento de vendas. Por outro lado os recentes investimentos com a instalação de painéis fotovoltaicos e numa central de biomassa permitiram reduzir as necessidades de eletricidade e de gás.

“Felizmente, quando adquirimos a fábrica de acabamentos, investimos prontamente em energias alternativas, tais como painéis fotovoltaicos e criação de vapor com caldeira de biomassa. Ainda assim, continuamos a precisar de gás para algumas máquinas e os painéis apenas produzem um quarto do nosso consumo de energia”, explica o CEO.

Com um plantel de cerca de 250 trabalhadores, a BeStitch assinala no próximo ano o seu 20º aniversário e não tem parado de crescer. Fatura já acima dos 30 milhões e exporta a 100%, sobretudo para EUA, França e países nórdicos, os seus produtos vocacionados para o ambiente de casa e bem-estar. O linho responde por mais de 80% da produção.

Com posicionamento premium e preocupações sustentáveis – tem certificações Oeko-Tex, European Flax – Premium Linen Fibre, Gots, Cotton Incorporated e NCI – Better Cotton Initiative –, aposta também na inovação e design, tendo sido o seu filme “À Flor do Linho” distinguido com o prémio para Melhor Filme | Filmes de moda de Têxteis-Lar no Fashion Film Festival 2020.

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