27 setembro 22
Biomateriais

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As carnes vão ser fonte de matérias-primas para a têxtil

Os biomateriais são o futuro e o sector têxtil começa a olhar também para os resíduos alimentares como mais uma fonte de matéria-prima. O CITEVE e o CeNTI têm já em andamento um projeto focado nos resíduos das carnes como fonte de matérias-primas de alto valor para a têxtil, que envolve várias empresas e uma verba superior a 21 milhões de euros.

Partindo da certeza de que o bio e o circular são já os novos mantras para o fabrico e consumo de moda e que isso impõe “uma reversão completa sobre o que é a matéria-prima”, Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, solta a questão: “vamos utilizar um algodão orgânico que vem da Austrália, ou uma fibra reciclada feita aqui pelas nossas empresas?”

A pergunta, de mera retórica, lançou-a esta terça-feira, dia 27 de setembro, durante uma apresentação sobre ‘Simbioses Têxtil e Agroalimentar’, onde avançou que está já em andamento “o maior projeto de sempre para se ir à procura de resíduos alimentares como matéria têxtil”.

Como exemplos, apontou para o uso de proteínas e resíduos das carnes para novas fibras e revestimentos têxteis, como colagénio e queratina, e o recurso ao know-how e processos da indústria das carnes para processamento têxtil, como é o caso do know-how em expessantes para a pasta de estampar têxtil e processo de esterilização alimentar para a extração de ingredientes funcionais para têxtil.

Sem entrar em pormenores – “as empresas não querem por enquanto divulgar os seus planos” – Braz Costa avançou tratar-se de “um projeto que juntando o CITEVE e o CeNTI tem uma dotação de 21 milhões de euros”. Pelos vistos, esta será uma das vertentes do projeto global de bioeconomia sustentável no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência (um investimento de 138 milhões de euros, dos quais 71 milhões vêm do PRR) destinado a promover uma grande alteração do paradigma no sector têxtil.

O objetivo, explicou já o diretor-geral do CITEVE, é marcar “um novo ritmo de mudança e acelerar a criação de produtos de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos, em alternativa às matérias de base fóssil”.

Feita esta manhã, a apresentação abriu o “Meat Meetings’ 22”, encontro promovido pelo TECMEAT, o congénere do CITEVE para o agroalimentar, igualmente instalado em Famalicão. Durante as apresentações da manhã, também Manuel Pintado, docente da Universidade Católica, apresento o projeto R4Texteis, que trabalhou no desenvolvimento de têxteis sustentáveis com base na valorização de resíduos têxteis e agroalimentares. Foi deste projeto que nasceu já o tecido Tenowa, da Riopele, que foi reconhecido com o Prémio Inovação Cotec logo que foi lançado no mercado.

Como sublinhou Braz Costa, o alimentar e o têxtil têm hoje desafios comuns, seja pelas exigências sustentáveis dos consumidores, pelas alterações dos hábitos de consumo, pela nutrição personalizada e costumização da moda ou a exigência crescente de equilíbrio e bem-estar. Ou seja, há a uma caminho paralelo para ambos os sectores mesmo que, como brincou Braz Costa, “quanto melhor é o têxtil mais fraca se torna a carne”.

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