Uma saudade palpável
Fashion Forward

Ana Eusébio

"O consumidor procurará cada vez mais um prazer com propósito! Os estilos de vida caminham para uma busca pelo baixo impacto ambiental e uma maximização de sensações. Haverá um reviver de técnicas tradicionais e locais, alavancadas por uma digitalização, agora globalizada, que atribui uma nova voz a estes procedimentos ancestrais."

O último ano e os últimos acontecimentos foram sem dúvida um marco para todos nós. Todos sentimos e presenciámos não só alterações a nível profissional e social mas acima de tudo a um nível de grande profundidade emocional e psicológica. 

Em Portugal, temos cerca de 91% de população sénior a sentir altos níveis de solidão, algo agravado pelo isolamento provocado pela Covid-19, sendo que em estudos recentes da COH-FIT se verificou um agravamento da sensação de stress em jovens adultos (aumento em 36% na faixa etária dos 18-30), existindo um “nível desproporcionalmente elevado do sentimento de solidão.”

O verão de 2022 ficará marcado pela união. Será o verão da saudade, o verão da reexploração e o verão do reencontro. Existirá uma redescoberta do mundo, através de um novo olhar que valoriza as pequenas coisas e não as toma por garantidas. Existirá também uma redescoberta do “eu” de cada um de nós, um eu que se reencontra, agora num mundo exterior, e que procura retomar as suas raízes, reconectar-se aos seus entes queridos outrora afastados, e reconectar-se com o mundo e as sensações que este sempre lhe proporcionou, mas as quais colocámos em pausa neste período atípico.

Estas novas necessidades e esta nova consciência do que podemos perder a qualquer momento, forçam a um design inclusivo, simples, limpo, que proporciona prazer e novas experiências de uma forma segura e protegida.

Um design clean
Esta nova consciência do que podemos perder a qualquer momento força a um design inclusivo, simples, limpo
O consumidor procurará cada vez mais um prazer com propósito! Os estilos de vida caminham para uma busca pelo baixo impacto ambiental e uma maximização de sensações. Haverá um reviver de técnicas tradicionais e locais, alavancadas por uma digitalização, agora globalizada, que atribui uma nova voz a estes procedimentos ancestrais. Misturas de técnicas, toques que entram em conflito, texturas que lutam entre si e nos proporcionam um novo sentir na pele, aliam-se a preocupações não só ambientais e ecológicas mas acima de tudo a preocupações socais, de transparência e proveniência de cada produto, e o impacto associado ao mesmo.

A busca pelo toque, pela sensação na pele, pelo contacto humano, proporciona esta necessidade de fios fantásticos, retorcidos e texturados e têxteis de grandes dimensões que nos confortam e protegem. A busca pelo exterior, por uma nova luz, por uma nova visão, sublinha o impacto cromático e procura por altos contrastes entre betões urbanos e verduras naturais onde os quentes calorosos, apesar de visuais, se tornam fisicamente palpáveis. A busca por uma harmonia entre corpo e alma neste planeta leva à compreensão da urgência ecológica para a qual todos contribuímos.

O destaque será daqueles capazes de desenvolver produtos e estratégias que educam a refazer, a reutilizar e a revender, incentivando todos os consumidores a tornarem-se activos nos sistemas de economia circular. O sentir unificado será o destaque da estação, sendo este o caminho a seguir.

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