T 22-23 Julho-Agosto 2017
Empresa

De olhos bem abertos

Manuel Jacinto é um empresário que anda sempre com os olhos bem abertos. Quando há uns anos criou a Nellany, que tinha o símbolo de um cavalo, era importante que a marca tivesse um nome estrangeiro. E a verdade é que as bolsas vendiam-se bem. Mas ninguém dizia o nome da marca: pediam as carteiras com um cavalinho. Atento como era, não deixou esta informação passar ao lado e mudou a nome da marca de Nellany para Cavalinho. Um sucesso até hoje.

Jorge Fiel

Estávamos em meados dos anos 80, nas vésperas da adesão de Portugal à CEE. A crise, o FMI, os salários em atraso já pertenciam ao passado. O negócio corria às mil maravilhas. As carteiras, malas e bolsas vendiam-se bem. Mas Manuel Jacinto queria ir mais longe e resolveu criar uma marca própria, em busca de margens maiores e de laços de fidelidade com as consumidoras finais.

No princípio, foi Nellany. “Na altura, as pessoas só davam relevo ao que era estrangeiro. Inventamos a marca Nellany, porque soava a italiano”, recorda Manuel Jacinto, o segundo dos oito filhos de João Jacinto, que o iniciou, aos seis anos, na arte de trabalhar o cabedal.

As bolsas Nellany, com uma cabeça de cavalo como símbolo, vendiam-se como pãezinhos quentes, mas a verdade é que as clientes não atinavam com o nome e, nas lojas, pediam “aquelas carteiras do cavalinho”.

Habituado a ter sempre os ouvidos bem abertos para o que diz o mercado, mal se apercebeu do fenómeno, logo Manual Jacinto se apressou a emendar a mão e mudar a marca de Nellany para Cavalinho.

Não foi fácil, nem barato. Na hora de registar a nova marca, enfrentou a contestação judicial da Ferrari. Ao cabo de três anos, a vitória acabou por lhe sorrir, mas saiu-lhe cara. “O dinheiro que gastei nos tribunais, dava para comprar um Ferrari”, desabafa.

Manuel Jacinto, 58 anos de idade, 52 de trabalho, começou a desbastar a parte de trás das calcanheiras dos sapatos ao mesmo tempo que na escola primária juntava as primeiras letras e aprendia a fazer contas.

O pai era dono de uma pequena oficina onde fazia sapatos clandestinamente (a lei salazarista do Condicionamento Industrial só permitia atividade industrial a quem tivesse alvará) onde ele ajudava – à noite, horas vagas ou férias – sempre que necessário, dando uma mão na máquina de facear ou levando a irmã bebé para turnos de vigilância à eventual chegada de fiscais.

“O meu pai dizia-me: se vires homens de fato a virem para aqui, deixa-os com a bebé nos braços e vem a correr avisar-me”, recorda o fundador da Cavalinho, que aos 12 anos já era o chefe de compras do negócio familiar, que evoluiu dos sapatos para as carteiras de senhora.

Até ser chamado para a tropa, feita no Regimento de Engenharia de Espinho, Manuel Jacinto trabalhou com o pai. Depois, mal passou à peluda, já adulto, recém-casado e com o serviço militar cumprido, achou chegada a hora de fazer o seu próprio caminho.

“Eu e o meu pai não nos dávamos bem”, explica. Arrancou com uma pequena oficina na casa de Anta onde vivia com a mulher, Maria de Fátima, sem outro capital que não o conhecimento profundo, por dentro e por fora, do negócio de fabricar bolsas e carteiras. “O segredo era realizar rapidamente o dinheiro. Comprava a matéria-prima de manhã, trabalhava-a e vendia-a à tarde, pagava-a à noite”, conta.

De então para cá tem sido sempre a subir. Primeiro a marca. Depois uma linha de homem. Finalmente as lojas, um caminho iniciado em 2012, que implicou alargar a oferta aos sapatos. “Em Portugal ainda há espaço para mais umas dez lojas. Mal surja uma oportunidade, estaremos nos principais centros comerciais – Colombo, Norteshopping e Vasco da Gama”, conclui Manuel Jacinto, um empresário que anda sempre com os olhos bem abertos e postos no futuro.

A Empresa

Cavalinho
Rua da Igreja 346
4535-446 S. Paio de Oleiros
Santa Maria da Feira

Trabalhadores 92 Volume de negócios  9 milhões de euros Exportação 10% da produção é vendida no mercado externo (Angola, Moçambique, Suíça, Luxemburgo e Canadá) Lojas 28 em Portugal, uma em Angola e outra no Canadá  Produtos Carteiras, bolsas, malas, mochilas e calçado, para homem e senhora Preço médio da carteira 120 a 150 euros

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