11 Dezembro 2017
Lisboa

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Têxteis lar com penas da Pato Rico

Tem quase 40 anos de vida e um percurso marcado por alguns percalços que foram sendo sucessivamente ultrapassados. A empresa chama-se Pato Rico e o negócio vai ao encontro do nome da mesma – penas de pato. Que tanto podem servir para os casacos de penas Duffy, que estão novamente na moda, como para almofadas, edredons e muitos artigos para o lar.

A história da Pato Rico coincide com a história de Maria Beatriz Serrano, que a própria contou ao NiT – “Sempre fui muito revolucionária e tive um gosto especial por arriscar. Foi isso que me fez tomar a decisão que tomei na esplanada do Vavá, em 1979”. O Vavá reunia então nas avenidas novas de Lisboa, tudo o que mexia na capital. De músicos a políticos, passando por intelectuais, respirando ainda os ares pós-revolucionário da Revolução de Abril de 1974.

Foi então no Vavá que surgiu a decisão de criar um negócio com penas de pato. “Sabia lá eu tratar delas. Mas o meu amigo disse-me que devíamos arriscar. Na Alemanha era muito comum fazerem-se almofadas e edredões com penas de pato, mas cá não havia nada disso. Eu sou lá mulher de dizer que não?”.

O negócio começou poucas semanas depois numa cave de um prédio na praça de Londres. Beatriz foi à Alemanha saber como se fazia e depois andou pelas retrosarias do Chiado à procura do tecido indicado para o encher com penas.

“Fizemos questão que fossem apenas penas destas porque está testado que não causam alergias e têm poder de recuperação, coisa que as outras não têm. E para fazer tinha de ser em bom. Consegui, na altura, vender 12 edredões na loja Paris, em Lisboa, por seis contos e tal [cerca de 30 euros]”, descreve.

O sucesso foi tal que Beatriz começou a bater à porta de outras lojas lisboetas para vender os tais edredões e almofadas. Foi nessa altura que decidiu investir no mercado dos casacos de penas. “Fui eu que trouxe os Duffy para Portugal. Chamaram-me maluca. Diziam que eram casacos para a neve e que ninguém os ia querer. Ora como se enganaram, já que se tornou um sucesso dos anos 80”.

Os anos passaram e a Pato Rico mudou de instalações para Odivelas. A nova fábrica acabou por arder a 1 de abril 1986. “Perdemos a parte das máquinas todas, às três da manhã. Aproveitamos esse ponto baixo para voltar à Alemanha e aumentar ainda mais o negócio”.

Poucos dias depois regressaram para ficarem definitivo na Alta de Lisboa, mesmo ao lado do aeroporto. É lá que tudo tudo continua a acontecer, 24 horas por dia, de segunda a sexta. “A fábrica não fecha nesses dias. É impossível. Temos em média 25 pessoas aqui a trabalhar. Recebemos penas todos os dias, que só têm seis horas de vida desde que saem dos patos até que são tratadas. Só assim conseguimos manter a qualidade”.

As penas chegam de camião de um aviário em Torres Vedras. No total, são sete toneladas por mês: “Só queremos penas dos patos do dia. É obrigatório. Quando estas chegam à fábrica são tratadas, lavadas e relavadas nas máquinas até estarem prontas para as funcionárias encherem os edredões, almofadas e capas para os colchões”.

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