01 Abril 21
Tecnologia

António Moreira Gonçalves

Susana Meiras, a engenheira biomédica que cria desfiles 3D

Avatares 3D que desfilam com as mais recentes criações de marcas ou confecções têxteis, como se no nosso computador estivesse a decorrer a Semana da Moda de Paris, Milão ou Londres. É tudo virtual, desde os manequins ao meio envolvente, mas já é uma realidade para a indústria têxtil portuguesa. Susana Meiras, uma engenheira biomédica especializada na digitalização e simulação computacional tornou-se freelancer nesta área e acredita que a formação nesta tecnologia pode ser mais um trunfo competitivo para a ITV nacional.

Com anos de formação académica – é graduada em Engenharia Biomédica, fez um doutoramento em Engenharia Biomecânica e conta com uma grande experiência em investigação académica – Susana Meiras começou em 2020 a testar os seus conhecimentos como freelancer para a indústria da moda. “Estava a pensar regressar à Bélgica, onde tirei o meu doutoramento, mas com a pandemia isso não foi possível, e já que estava em casa decidi dedicar-me à modelação e à simulação destas peças em 3D. Comecei a publicar nas redes sociais e os pedidos foram sempre surgindo. Nunca tive o objetivo de fazer disto profissão, mas foi um momento de grande procura e agora já não consigo dizer que sim a todas as encomendas”, conta.

Com os desfiles e as feiras têxteis em standby, as marcas começaram à procura de outras formas de apresentarem as suas criações. De início, Susana recebia sobretudo pedidos de marcas internacionais – dos Estados Unidos a Hong Kong – mas agora também já há empresas portuguesas despertas para a tecnologia. Para além do arrojo visual, os desfiles em 3D conseguem também simular a apresentação convencional até ao mais ínfimo pormenor.

“Com esta tecnologia é possível a apresentação realista das peças. Para além da criação de modelos 3D, existe sempre uma simulação, porque determinadas propriedades das peças apenas se revelam em resposta com as forças do ambiente externo. Dependendo da malha podemos ver qual o seu comportamento, como ela cai, qual a densidade, qual a elasticidade”, explica Susana Meiras.

O formato apresenta várias vantagens em relação aos processos convencionais. No que toca ao desenvolvimento das peças, torna-se tudo mais célere, menos dispendioso e com menor impacto ambiental, porque não existem custos de envios e aquela troca constante de amostras e retificações. “A partilha é digital, pode se integrada em qualquer plataforma, e todo o trabalho digital já produzido pode ser reaproveitado e editado para novas cores e novas peças semelhantes. Torna tudo muito mais expedito”.

E para além revolucionar o desenvolvimento de novas peças, pode também levar as marcas a planearem melhor as produções, evitando o desperdício ou flops nas vendas. “A marca pode fazer um teste de mercado antes da produção, ao publicar o modelo em 3D nas suas plataformas. Consoante o feedback dos clientes, a empresa planeia a produção, evitando o desperdício que enfrenta quando produz uma peça que depois não é bem aceite”.

Para Susana Meiras, a tecnologia tem muito para oferecer às empresas têxteis portuguesas. Os vários projectos que já realizou estão disponíveis em susanameiras.com ou através do Behance e do Instagram, mas a investigadora acredita que o verdadeiro potencial estará numa maior formação dentro das empresas. “Em alguns casos fará mais sentido uma empresa ter uma equipa própria para a modelação 3D, é necessária formação especializada nesta área para o sector têxtil”, afirma, até porque há um público emergente que procura estas soluções: “A mente das novas gerações já está muito mais aberta a esta realidade. Já não é propriamente novidade para eles, porque já seguem influencers digitais, já compram roupa virtual para os seus personagens nos jogos”, lembra.

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