04 julho 19
Obituário

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Paulo Nunes de Almeida: o dirigente que salvou os têxteis nacionais

Paulo Nunes de Almeida nunca foi “devidamente reconhecido no setor têxtil: com a fusão associativa, criou as condições para resistir à liberalização descontrolada” que se abateu sobre o têxtil e a moda nacionais, numa altura em que tudo ia contra o desenvolvimento do setor, afirmou, reagindo à morte do presidente da AEP, o diretor-geral da ATP, Paulo Vaz.

Amigo pessoal, “quase família”, Paulo Vaz, visivelmente emocionado, recordou que, na altura da fusão entre a APIM (Associação Portuguesa das Indústrias de Malha e de Confecção) e a APT (Associação Portuguesa dos Têxteis e Vestuário), realizada em julho de 2003, “Paulo Nunes de Almeida, juntamente com as associações empresariais da Turquia e dos Estados Unidos, obrigaram a Comissão Europeia a prolongar por dois anos o período de transição da abertura dos mercados internacionais, o que permitiu salvar tantas empresas”.

O diretor-geral da ATP referiu ainda que o dirigente associativo que hoje desapareceu “era uma excelente pessoa, um excelente profissional, que muita falta vai fazer ao associativismo, à economia e à sociedade e que tinha ainda tanto para dar”.

Paulo Melo, presidente da ATP, expressou o mesmo sentimento: “é uma perda para o associativismo e para os empresários”, “um bom amigo, um homem de consensos que se preocupava sempre em estabelecer pontos”. O atual dirigente da associação têxtil e do vestuário recordou precisamente o papel de Nunes de Almeida na criação do quadro favorável à fusão empresarial que resultou na ATP.

Era, por outro lado, “um defensor da indústria, que deu tudo o que tinha: é um exemplo de força e de saber, é uma grande perda para todos”. “É uma referência que não pode ser esquecida”, afirmou ainda Paulo Melo.

Paulo Nunes de Almeida, 60 anos, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP) faleceu esta quinta-feira, dia 4 de julho no IPO do Porto. Fora internado na segunda-feira e o seu estado era já debilitado.

Paulo Nunes de Almeida era desde 2014 o 30º presidente da AEP, depois de ter exercitado seis anos como vice-presidente na anterior direção, liderada por José António Barros. Foi o primeiro presidente da ATP-Associação Têxtil de Portugal, na altura em que a associação foi criada como resultado de uma fusão associativa.

Assumiu cargos dirigentes na CIP-Confederação Empresarial de Portugal e Associação Comercial do Porto. Na Associação Nacional dos Jovens Empresários (ANJE) foi um dos promotores do Portugal Fashion, tendo sido incontornável no sucesso que a partir daí haveria de ser o percurso daquela iniciativa. Enquanto dirigente associativo na ANJE, foi vice-presidente (1986-1996) e presidente da Mesa da Assembleia Geral (1996-2002).

Era ainda presidente do Conselho Fiscal do FC Porto e da SAD do clube.

Licenciado em Economia pela Universidade do Porto, Paulo Nunes de Almeida iniciou a sua vida profissional no Banco Português do Atlântico (1982-1984), mas cedo preferiu o empreendedorismo: passou a dedicar-se à atividade empresarial em vários setores mas com especial notabilidade no setor têxtil e de vestuário. A TRL – Têxteis em Rede, foi uma das suas principais empresas.

No aniversário da AEP, em maio passado, recebeu de Marcelo Rebelo de Sousa a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial. Antes já recebera o Prémio Carreira da ANJE 2016, atribuído pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE).

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