06 abril 20
Indústria

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Pandemia pode fazer regressar muita produção à Europa

Confrontada com a sua dependência das indústrias asiáticas, a Europa constata que boa parte da produção de uma série de bens –com destaque para os têxteis e a moda – deverá regressar ao solo europeu depois da pandemia. Especialistas falam já numa tendência de desglobalização e investigadora do think tank Bruegel Alicia Garcia-Herrero diz mesmo que essa relocalização da produção para a Europa pode ser importante para a Portugal e Espanha.

São cada vez mais os analistas e os empresários que convergem neste ponto. António Saraiva, presidente da CIP, é um deles: “Sem pôr em causa as vantagens inerentes à participação das empresas nas cadeias de valor globais, justifica-se, do ponto de vista das estratégias empresariais, uma avaliação atenta dos riscos que lhe são inerentes”, escreveu num artigo de opinião no jornal Dinheiro Vivo.

Alicia Garcia-Herrero, investigadora do Bruegel – um think tank europeu especializado em economia – diz por seu lado, em entrevista à Exame, que “vão acontecer duas coisas: a relocalização da produção para a Europa, que pode ser importante para a Portugal e Espanha, e [da China] para países como o Vietname; não vai ser tudo relocalizado, mas será mais do que pensávamos”.

Para a investigadora, “o coronavírus força uma desglobalização que será diferente da guerra comercial. Não é apenas um problema de cadeias de valor: estamos a caminhar para uma desglobalização no movimento de pessoas”.

Para o economista Ricardo Reis, professor da London School of Economics, “muitas empresas perceberam que têm de diversificar” a localização da produção. “Não podem ter toda a cadeia de produção na mesma província. Será uma lição que levará a uma reorganização da produção nos próximos anos”.

Os próprios governos de vários países já identificaram o problema, principalmente nos países onde a desindustrialização foi mais severa. Bruno Le Maire, ministro das Finanças francês, afirmou que “vemos claramente que somos demasiado dependentes do fornecimento de países estrangeiros. Vamos rever as nossas cadeias de produção industrial para ver como podemos relocalizar os negócios nas áreas mais estratégicas de forma a sermos soberanos e independentes”.

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