22 Junho 2018
Marcas de luxo

T

Chanel pôs a nu as contas pela primeira vez

A Chanel revelou esta quinta-feira os seus resultados financeiros, o que surpreendeu tudo e todos já que foi a primeira vez na sua história que o célebre grupo francês, uma das principais marcas de luxo do mundo, pôs a nu as suas contas. O grupo alcançou uma faturação de 8,3 mil milhões de euros em 2017, um aumento de 11,5% em dados comparáveis e de 11% a taxas de câmbio constantes, de acordo com um comunicado divulgado pela Chanel.

Esta decisão inesperada por parte de um grupo que sempre manteve os seus dados em segredo “é um momento histórico para a Chanel”, reconheceu Philippe Blondiaux, diretor financeiro da empresa, em entrevista à Reuters. “Percebemos que a nossa cultura de discrição já não nos servia. Esta publicação permitirá que os comentadores tenham números precisos sobre a saúde financeira da Chanel”, acrescentou.

Ao ser questionado sobre se esta divulgação poderia preceder um possível IPO (Oferta Pública de Venda) ou uma entrada em Bolsa, Philippe Blondiaux disse que “de forma alguma isso está previsto”. “Pelo contrário, estes números mostram que temos todos os meios para permanecer como estamos. Uma sociedade incrivelmente sólida (…) que pode permanecer independente e privada pelos próximos cem anos”, disse ele.

Assim como os seus concorrentes, a marca beneficia de um contexto favorável ao luxo, impulsionado em particular pelo apetite dos jovens chineses. Mas, ao contrário dos seus pares, a marca continua distante do comércio eletrónico – em relação à sua moda e aos seus artigos de couro – que impulsiona algumas das vendas do setor. Na Gucci (que pertence ao grupo Kering), que tem como objetivo ultrapassar o grupo Louis Vuitton (LVMH) como a principal marca de luxo do mundo, o comércio online pode vir a representar 10% das suas vendas.

A Chanel não divulgou os resultados detalhados dos seus cosméticos, artigos de moda e couro, e joias e relógios, mas com quase 10 mil milhões de dólares (8,3 mil milhões de euros), está perto da Louis Vuitton, cujas vendas são estimadas em mais de oito mil milhões de euros. A receita operacional aumentou 22,5% em 2017, com uma margem operacional de 28%, e o lucro líquido aumentou 18,5%, para 1,54 mil milhões de euros.

A Chanel, cuja comunicação até agora se concentrou nos produtos e na criatividade das suas coleções, dirigidas há 35 anos pelo ícone da moda mundial Karl Lagerfeld, não fala, no entanto, sobre a sucessão do seu emblemático diretor artístico, que tem mais de 80 anos de idade. O grupo pertence aos muito discretos irmãos Alain e Gérard Wertheimer, que têm 69 e 68 anos, respetivamente, e cuja fortuna foi avaliada em 21 mil milhões de euros em 2017 pela revista Challenges.

Os números divulgados na quinta-feira são os dados consolidados das entidades do grupo no mundo todo e incluem a marca de lingerie e moda praia Erès, bem como vinhas em França e na Califórnia. O grupo simplificou as suas estruturas em 2017 e os irmãos Wertheimer, cujos filhos não trabalham na empresa, renunciaram ao conselho de administração no ano passado. Questionado sobre essa saída, Philippe Blondiaux simplesmente alegou “motivos pessoais”, mas acrescentou que Alain Wertheimer continua a ser o diretor geral do grupo.

Partilhar