Quando a sustentabilidade está no coração

Primeiro chamava-se Projeto Alecrim e nasceu em 2010 pelas mãos de Rita Dixo, uma licenciada em filosofia apaixonada pela sustentabilidade que chegou à conclusão de que o que faltava no Porto era mesmo uma loja eco-friendly onde todos aqueles que pensavam como ela pudessem encontrar produtos amigos do ambiente.

Já a Coração Alecrim como hoje a conhecemos, uma versão 4.0 do projeto inicial, surge mais tarde, em 2015, com a chegada de uma sócia, a Filipa Alves, estudante de fotografia e medicina tradicional chinesa, que tinha uma loja de roupa em segunda mão. Manteve-se o espírito e alargou-se o conceito.

“A base do projeto foi e é a sustentabilidade, um mundo mais verde. Mas sem nunca esquecer a parte estética”, revela Rita, em jeito de explicação do método de curadoria dos artigos: não basta ser sustentável, tem se ser bonito.

Neste mar de coisas bonitas – uma das primeiras coisas que salta à vista mal se entra na loja – o made in Portugal é a prioridade, apesar de não ser exclusiva. “Optamos sempre que possível pelo fabrico nacional e, mais do que isso, pelos pequenos produtores. Comprar localmente é muito mais sustentável e dá-nos mais informação cerca do processo de produção, tanto do ponto de vista ecológico como humano”, explica Rita.

Os tradicionais tapetes portugueses, feitos de desperdícios e também eles personalizados pelas proprietárias do espaço em comunicação com os artesãos, as mantas da Serra da Estrela, toalhas de mesa e guardanapos, aventais e panos de cozinha são alguns dos produtos têxteis da Coração Alecrim, que também vende calçado, acessórios decorativos, publicações, sabonetes, tábuas de mármore e vários tipos de louça, nova ou vintage. Tudo em parceria com pequenos fabricantes ou artesãos que garantem a exclusividade e o primor dos produtos aqui encontrados.

No entanto, a estrela da loja e a grande aposta das proprietárias é a marca de roupa em nome próprio, batizada com o mesmo nome da loja. “Tentamos que cada coleção tenha um bocadinho de tudo: camisas, vestidos, casacos, saias… E fazemos apenas dez exemplares de cada peça. A coleção é feita num atelier que emprega quatro modistas, com tecidos que compramos a empresas nacionais. Para garantir a sustentabilidade do material, tentamos sempre comprar a fábricas portuguesas que tenham produção própria, para sabermos que é mesmo de cá, ou então comprar excedentes de produção e evitar o desperdício desses materiais”, conta Rita.

“A nossa coleção de verão, por exemplo, que deve estar mesmo a chegar, foi produzida na sua grande maioria com linhos portugueses, adquiridos em fábricas da zona de Guimarães e Riba d’ Ave”, completa.

Quantos aos clientes, têm um pouco de tudo, apesar de os turistas – que ficam a conhecer a loja pelos vários guias e revistas em que a Coração Alecrim figura, para além do diversos artigos online sobre sustentabilidade onde vem mencionada – representarem uma fatia gigante do negócio. No entanto, Rita admite que o público português já está a começar a despertar para a sustentabilidade e para a noção de que uma peça boa é melhor do que três ou quatro sem valor nenhum. “No mês de Dezembro temos mais clientes portugueses do que estrangeiros. É o único mês em que isso acontece e deve-se ao Natal. Como é uma quadra especial, as pessoas querem dar algo diferente, algo melhor, e procuram-nos. Claro que ainda há muita resistência: a maioria prefere o shopping e o jogar pelo seguro, têm medo que as pessoas a quem vão dar as prendas não gostem de algo diferente. Mas também isso está lentamente a mudar”, garante Rita.