T19 Abril 2017
Empresa

Da lingerie para a cama

Judite e o Fernando Cordeiro eram em casal jovem e ambicioso quando decidiram arriscar e foram para S. Paulo. Na cabeça tinham uma ideia fixa e na bagagem lingerie sexy. O resultado? A marca LaBelle.

Jorge Fiel

Como antes do 25 de Abril Portugal era um atraso de vida, a Judite e o Fernando Cordeiro – um casal de jovens transmontanos ambiciosos e insatisfeitos – aventuraram-se a atravessar o Atlântico sul e deitaram âncora em S. Paulo, onde tinham família. Emigraram com uma ideia fixa na cabeça e lingerie sexy na bagagem. Não tardaram em montar, com a marca própria LaBelle, uma espécie de Victoria’s Secret brasileira, replicando as peças de moda íntima para senhora, com muitas rendas e em cores atrevidas, previamente adquiridas em Paris.

A LaBelle foi um sucesso quase instantâneo e se não se desse o caso de, para o melhor e para o pior, o Brasil ser o Brasil, a Judite e o Fernando ainda lá estariam. Mas no dealbar dos anos 80 a crescente insegurança e a hiperinflação, bem como o avolumar da contestação a um regime militar em últimas exibições, aconselharam-nos a vender tudo, voltar a fazer as malas e regressar à pátria. O instinto não os enganou. Em 1981, Portugal vivia no intervalo entre dois pedidos de resgate ao FMI (1977 e 1983) mas estava na rota certa, com o azimute apontado à CEE.

Compraram um terreno na Maia e mantiveram-se na indústria têxtil. Apenas mudaram a agulha da lingerie para os têxteis-lar (um segmento onde já tinham começado a inovar no Brasil com a produção de lençóis plissados) e baptizaram PiuBelle a mana mais nova da brasileira LaBelle.

O mercado interno absorvia tudo quanto produziam, mas tal como os bons jogadores de xadrez antecipam o que vai acontecer quatro ou cinco jogadas à frente, o casal Cordeiro sabia que não devia ter os ovos todos no mesmo cesto e por isso não esperou pela abertura das fronteiras para abrir uma sociedade em Vigo e começar a exportar para Espanha – o El Corte Inglês foi o seu primeiro cliente internacional.

“Os meus pais sempre foram visionários. Nunca param de inovar”, afirma Fernando Cordeiro Filho, 38 anos, licenciado em Gestão de Empresas (ISAG), que partilha com os pais a ponte de comando da PiuBelle – a mãe e a mulher dele ocupam-se da produção, enquanto ele o pai tratam da parte financeira.

Esta capacidade de estar sempre um passo à frente da concorrência permitiu à PiuBelle passar dos três trabalhadores iniciais (1981) para os actuais 150, atravessar os anos de chumbo da têxtil com a cabeça fora de água e levar um acumulado de seis anos de crescimento contínuo. Os Cordeiros não desistiram nunca nem de inovar, nem de crescer e investir, acrescentando tecelagem e corte à fábrica – e souberam posicionar-se para resistir à concorrência asiática.

“Em vez de andarmos à pancada com os chineses, apostamos na diferenciação através da qualidade e serviço. Competir pelo preço implica sempre baixar a qualidade. E o movimento de regresso dos clientes que foram para a China está aí para nos dar razão”, afirma Fernando, pai de três filhos (os gémeos Sofia e António, nove anos, e Teresa, sete), a terceira geração de Cordeiros, que já deixou as suas impressões nos produtos da PiuBelle: são os autores dos desenhos da colecção 2015.

“A primeira geração partiu do nada. A minha ambição é organizar a empresa de modo a que ela seja sustentável e consiga sobreviver e prosperar à passagem das gerações”, conclui.

A Empresa

PiuBelle
Rua da Liberdade 77
Milheirós
4471-909 Maia

Trabalhadores 150 Volume de negócios 16 milhões de euros Exportação 90% da produção é exportada Marca própria A PiuBelle vale metade das vendas  Principais mercados Estados Unidos, França, Inglaterra, Espanha, Irlanda, Nova Zelândia, Austrália e Coreia do Sul  Produtos Jogo de cama, edredons, jogo de banho, colchas e mantas

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