A temática do DPP (do inglês, digital product passaport, ou seja, passaporte digital do produto) tem sido tema recorrente nestes últimos meses. O CITEVE, ciente da importância deste assunto, tem usado uma abordagem holística ao DPP
Carla Silva
Diretora do Departamento de Química e Biotecnologia do CITEVE
A temática do DPP (do inglês, digital product passaport, ou seja, passaporte digital do produto) tem sido tema recorrente nestes últimos meses, sobretudo face à aprovação, em março de 2022, da COM (2022) 142, regulamento do Parlamento Europeu que pretende definir os requisitos de conceção ecológica dos produtos sustentáveis.
Neste enquadramento, tornou-se urgente o desenvolvimento de iniciativas que permitam acompanhar todo o ciclo de vida do produto, minimizando desperdícios e mantendo os materiais em uso pelo maior tempo possível, através da promoção da circularidade e do consumo sustentável. Uma das iniciativas com maior impacto é o estabelecimento do passaporte digital do produto, que se pretende implementar numa primeira fase (até 2026), em três tipologias distintas de produtos: vestuário, baterias e produtos eletrónicos.
O CITEVE, ciente da importância deste assunto, tem usado uma abordagem holística ao DPP, estando neste momento a testar uma metodologia inovadora para o passaporte digital do produto têxtil, que permitirá cumprir com os desafios impostos e que é capaz de fornecer dados reais dos produtos, em todas as vertentes da sustentabilidade: desde a sustentabilidade ambiental e da circularidade, até à sustentabilidade económica e social associada ao produto têxtil.
Esta metodologia inovadora para o passaporte digital do produto têxtil foi desenvolvida numa primeira instância no âmbito do projeto mobilizador STVgoDIGITAL: Digitalização da cadeia de valor do Setor Têxtil e Vestuário (http://www.stvgodigital.pt/), estando a ser otimizada no âmbito do projeto be@t – Bioeconomia na Têxtil (https://bioeconomy-at-textiles.com), ambos projetos coordenados pelo CITEVE.
Em linhas gerais, o DPP desenvolvido fornece um indicador integrador único para o produto (com classificação de 0-100%, em que 100% é o máximo da sustentabilidade possível de alcançar no sistema em questão), permitindo assim a categorização dos produtos numa escala clara e legível de sustentabilidade. Este indicador único é o resultado da combinação de uma larga gama de indicadores de desempenho ambiental, de circularidade, económicos e sociais, compilando dados reais sobre os recursos utilizados (água, energia, e produtos químicos por exemplo) e os impactos associados, os processos produtivos e as empresas envolvidas em toda a cadeia de fornecimento, desde a fibra ao produto final. Os dados são recolhidos sempre que é gerado um novo lote, sendo a informação armazenada por tecnologias de blockchain. Este indicador contém, portanto, informações reais e fidedignas do produto em questão, permitindo assim a transparência e rastreabilidade na cadeia de valor.
No projeto be@t pretende-se colmatar algumas limitações do sistema desenvolvido anteriormente, bem como demonstrar em larga escala a aplicabilidade do sistema desenvolvido previamente apenas à escala nacional, através de cadeias de fornecimento internacionais. Para isto, o trabalho colaborativo está a ser aplicado a marcas nacionais, que possuem cadeias de abastecimento internacionais complexas e/ou empresas nacionais com cadeias de fornecimento distintas, de forma a validar a resposta do sistema desenvolvido a todas as necessidades e requisitos inerentes ao funcionamento das cadeias de abastecimento em questão.
Em resumo, o CITEVE tem explorado diversas abordagens inovadoras para o passaporte digital do produto, ferramenta essencial para promover a rastreabilidade e a transparência na cadeia de valor, bem como para disponibilizar dados reais relativos ao uso e ao impacto ambiental, social e económico de um determinado produto têxtil, tendo como objetivo primário o incentivo ao consumo responsável e à transição para uma indústria têxtil verdadeiramente sustentável e circular.
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