O movimento de digitalização da moda já apontou, de forma muito clara, o caminho que esta área irá seguir: a digitalização completa do design e engenharia do produto, ou seja, desde a folha de papel em branco até à colocação do produto num portal online, não serão realizadas amostras físicas.
João Nuno Oliveira
O desenvolvimento de produtos têxteis e de vestuário pode ser considerado como o conjunto de atividades que vão desde a ideia ou esboço, até à sua validação pré-industrialização e especificação técnica. São atividades que encerram, em diferentes graus, componentes criativas e técnicas. Estas últimas visam traduzir o objeto criativo em especificações técnicas e a sua validação em amostras reais.
Uma vez concluído este processo com sucesso, o produto está pronto para iniciar a sua industrialização. A produção de amostras físicas é uma parte integrante deste processo. Trata-se de um processo iterativo, em que todos os pormenores do produto são aperfeiçoados até à sua aprovação e que é realizado em estreita colaboração entre cliente e produtor.
O sucesso de uma encomenda depende, naturalmente, da qualidade da produção de amostras. É um sistema que envolve muitas pessoas, consome muitos recursos materiais e, portanto, tem um impacto negativo na sustentabilidade devido ao desperdício em termos de amostras que são descartadas. Representa também um custo que muitas vezes não é diretamente recuperado. O mundo seria um lugar melhor se as amostras físicas não existissem.
O movimento de digitalização da moda já apontou, de forma muito clara, o caminho que esta área irá seguir: a digitalização completa do design e engenharia do produto, ou seja, desde a folha de papel em branco até à colocação do produto num portal online, não serão realizadas amostras físicas. São já conhecidas algumas experiências pontuais deste cenário, mas o que facilmente se encontra são exemplos de empresas têxteis a desenvolver as primeiras amostras de produtos têxteis com recurso a editores 3D e a iniciar as suas bibliotecas digitais de tecidos e malhas. É um começo.
Para que esta visão se comece a materializar, é preciso começar a trabalhar. Vamos por partes. Comecemos pela capacitação. Não é adquirir uma licença de um editor 3D que vai, por si só, endereçar o desafio. A chave está sempre nas pessoas. Capacitar as pessoas não é apenas enviá-las para formação– algo necessário –; é também dar-lhes espaço e tempo para experimentar ou “brincar”, para adotarem e contaminarem a empresa para a tecnologia e para as suas potencialidades, para que as oportunidades sejam identificadas. Por outro lado, é uma oportunidade para a empresa enriquecer o seu tecido humano com pessoas com um perfil eventualmente atípico, como pessoas com formação em edição e computação gráfica, e mesmo em jogos.
Já foi dito, a tecnologia digital nada resolve por si só. As práticas de trabalho, ou os procedimentos, têm de se adaptar e incorporar a tecnologia, para que, no final, o conjunto seja melhorado. O objetivo é definir um fluxo de trabalho digital que reduza o tempo e os custos de desenvolvimento de produtos, aumentando consideravelmente a utilização do 3D e das tecnologias digitais. É necessário olhar para o processo, identificar as áreas em que pode melhorar e, de passagem, definir indicadores que ajudarão a medir o impacto e a verificar se se está no bom caminho.
A panóplia de tecnologia é já grande: ferramentas de product lifecycle management (PLM), digitalização de tecidos, editores 3D, bodyscans; realidade aumentada e virtual, ou inteligência artificial. Novidade: todas estas tecnologias estão disponíveis para uso imediato e por qualquer um, por qualquer empresa.
Agora no prisma da cadeia de abastecimento. Os ganhos internos que se podem conseguir têm um limite. Para um maior ganho é necessário integrar as entidades a montante e a jusante, nomeadamente clientes ou marcas. Vamos esquecer a parte do “as marcas não querem, as marcas gostam de sentir e tocar, …”. É preciso ter uma postura ativa e oferecer aos clientes alternativas, mostrar que é possível e evidenciar os ganhos, mostrar que se está preparado.
Por último, a criatividade. A partir do momento em que é possível passar da folha em branco à publicação numa rede social, ou nos meios de digitais, de propostas de moda sem que isso exija a produção física, um mundo novo se abre aos nossos olhos; um mundo em que a criatividade não tem limitações ou obstáculos físicos. Liberte-se essa criatividade!
O que fazer? Iniciativas como o Digi4Fashion (https://digi4fashion.pt), promovidas pelo CITEVE, CTCP, ATP, ANIVEC e APICCAPS, incentivam a aceleração da inovação digital e a transformação dos modelos de negócios através de ferramentas digitais como a IA, Robótica, IoT entre outras, providenciando serviços especializados e financiados, que de outra forma este segmento teria muita dificuldade em aceder!
Portanto, uma oportunidade única, e com um prazo limitado (até final de 2025), para poderem ter apoio nas áreas que mais necessitam:
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