T85 - Julho/Agosto 23
Produto

Fibras que reduzem a dependência asiática

O projeto Fiber4Fiber transforma nesta investigação piloto pasta solúvel proveniente de Eucalyptus globulus em fibras de viscose e liocel.

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A CAIMA, empresa do grupo ALTRI fabricante de pasta solúvel, uniu-se ao CITEVE e ao CeNTI, para criar uma alternativa às fibras celulósicas têxteis que são atualmente importadas da Ásia. O projeto Fiber4Fiber transforma nesta investigação piloto pasta solúvel proveniente de Eucalyptus globulus em fibras de viscose e liocel. 

“Em Portugal não tínhamos esse know-how. A CAIMA já produz pasta para exportação, mas não tinha o know-how para a transformar em fibra têxtil”, diz Carla Silva, diretora do departamento de química e biotecnologia do CITEVE. “O grande objetivo foi produzir esse conhecimento, fazer investigação da pasta, tendo como matéria-prima o eucalipto, a madeira produzida em florestas certificadas, para criar capacidade instalada em Portugal e diminuir a dependência da Ásia e a pegada ambiental”, introduz. 

“Temos uma indústria muito forte na produção de pasta, que é a nossa matéria-prima, e também na parte da produção têxtil, mas existe ali um gap que é a produção de fibras, o nosso objetivo foi introduzir essa tecnologia no mercado nacional”, sustenta Daniela Colevati, team leader da equipa de fibras regeneradas do CeNTI. 

Entre os fatores inovadores deste projeto está o facto de as fibras têxteis resultantes serem totalmente rastreáveis e funcionalizadas, com características antibacterianas, retardamento de chama e antiestáticas.

“A rastreabilidade é um grande fator inovador aqui”, diz Gabriel Sousa, Diretor executivo de inovação e desenvolvimento tecnológico do Grupo Altri, “a funcionalização já existia embora com métodos diferentes, mas a rastreabilidade vai garantir a origem dos produtos”, afirma ao T Jornal. “O grande avanço diria que foi trazer a tecnologia em escala laboratorial para o mercado português”, sublinha Daniela Colevati. “O principal desafio foi a falta de conhecimento e a não existência de equipamentos produtivos, que tiveram de ser construídos para a CAIMA a uma escala piloto”, complementa Carla Silva. 

“Para chegar a uma fibra têxtil de base celulósica são precisas três etapas a primeira é pegar na matéria-prima que é madeira e fazer a pasta, a segunda é dissolver essa pasta para formar um fluído espesso e viscoso que chamamos xarope; e é esse fluído que vai ser passado para uma fieira e aí formamos um filamento têxtil. O que fizemos de raiz foi desenhar um equipamento que pegue no xarope e chegue à fibra têxtil. É único no mercado e está nas instalações do CeNTI em Vila Nova de Famalicão”, contextualiza Gabriel Sousa. 

Sobre o papel de cada interveniente: “A CAIMA foi responsável pelos estudos preliminares e em perceber os parâmetros de qualidade, o CeNTI trabalhou na produção das fibras e o CITEVE esteve envolvido no estudo de LCA, assim como no levantamento das especificações das fibras e estruturas têxteis,e na análise da patenteabilidade e das funcionalidades conferidas às fibras”, resume Carla Silva. 

O balanço da CAIMA é “excelente”, tanto que o projeto terá continuidade na iniciativa de bioeconomia Be@t com o mesmo grupo de trabalho. “Conseguimos concluir o projeto com a introdução de dois processos de produção de fibras e a parceria vai continuar por mais três anos no PRR com a introdução de uma nova tecnologia de extrusão e aumento de escala”, diz Daniela Colevati. 

O projeto, que teve início em 2019, contou já com apresentações públicas nomeadamente no iTechStyle Summit, MODTISSIMO e na Conferência de fibras de celulose de 2022 e de 2023 em Colônia, Alemanha.

O Produto

FIBER4FIBER
Desenvolvido pela CAIMA, CITEVE e CeNTI

O que é? Um projeto que transforma pasta solúvel de Eucalyptus globulus em novas fibras processadas de base celulósica, nomeadamente viscose e liocel. Principal Contributo? Constituiu-se como uma alternativa à importação da Ásia. As novas fibras são rastreáveis, funcionalizadas e biodegradáveis Estado do Projeto? Foi concluído no final de junho, no entanto, terá continuação no projeto be@t, no âmbito do PRR, com o mesmo grupo.

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