O ano 2024 advinha-se algo incerto para o sector têxtil a nível mundial que, à semelhança do que acontece com a economia como um todo, teme o impacto de alguma retração no consumo. No entanto, para os empresários portugueses ouvidos pelo T Jornal, esta instabilidade global pode traduzir-se numa oportunidade para o cluster português. Janeiro é prova disso mesmo: a participação nas grandes feiras internacionais trouxe bons resultados aos empresários que, apesar de algo desconfiados, celebram os sinais de esperança alcançados.
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Depois de um ano, o de 2023, que até não começou bem mas que continuou muito mal – o presidente da ATP, Mário Jorge Machado, disse que o seu desejo para 2023 era que passasse depressa! – a expectativa geral era antecipadamente negativa, Mas Janeiro veio (ao contrário do esperado) trazer sinais muito positivos aos empresários têxteis portugueses que, através da participação nas principais feiras europeias e mundiais do sector – como a Milano Unica, Première Vision e Munich Fabric Start – captaram a atenção dos compradores internacionais, depois de terem visto os seus stands cheios de interessados.
É o caso da Somelos que, refere Paulo Melo, CEO da empresa, se surpreendeu como “o excelente ritmo e qualidade das feiras”. “Mas não nos devemos iludir: este será um ano comercialmente muito difícil e a qualidade das feiras, que é inegável, não é indicador de que o ano vai ser bom”, avança com frontalidade. Paulo Melo diz por isso ser fundamental “manter a vigilância e o espírito de sacrifício” ainda que o mês de janeiro se tenha revelado uma “agradável surpresa” tanto para o grupo que dirige como para o sector têxtil no geral.
Uma perspetiva idêntica tem Ricardo Silva, CEO da Tintex, que apesar de assistir a “um crescimento face ao ano passado”, admite que “a expectativa dentro do sector têxtil para 2024 é no geral negativa”. Para o gestor, apesar da conjuntura económica mundial apresentar bastante instabilidade, há que ter em conta, como dado positivo, o facto de os “custos energéticos estarem controlados”, o que, pensa, “é um bom indicador de estabilidade”.
Com uma visão algo disruptiva e impulsiona pelos resultados obtidos nas feiras internacionais trabalhadas pela LMA, Alexandra Araújo acredita que o ano de 2024 “vai depender em larga medida do empenho dos portugueses”. E explica: “nós somos um país pequeno, a nossa economia não é assim tão grande. Ou seja, se as equipas comerciais e o departamento financeiro das empresas se empenharem, vamos, com algum esforço, é certo, obter resultados positivos. Agora é preciso essa consciência de trabalho”, reflete. Em termos operacionais, os dados de janeiro têm mostrado isso mesmo à CEO da LMA, que se diz “surpreendida” com o nível de atividade e interesse dos compradores, que estão “ávidos de inovação”. “Temos de lhes oferecer essa inovação e trabalhar muito. Se assim for, vamos ser agradavelmente surpreendidos porque qualidade e design é algo que não nos falta”, remata Alexandra Araújo.
Consolidar é a palavra de ordem para a Blackspider, empresa detentora da marca de moda feminina Cristina Barros, e que se revela muito satisfeita com o “bom ritmo e qualidade de compradores” que encontrou nas feiras internacionais ao longo do mês de janeiro. “Conseguimos estar presentes em todas as feiras a que nos propusemos e esperamos que seja um ano de consolidação de mercados”, avança Marco Costa, CFO da empresa.
Quem de alguma forma partilha desta postura cautelosa é a TMG Textiles que, assume Hélder Rosendo, vê 2024 como “um ano seguramente desafiante e com muitas incertezas em várias dimensões”. Ainda assim, analisando os resultados obtidos durante o mês de janeiro, nomeadamente durante a participação nas feiras internacionais Milano Unica e Première Vision, “poderíamos estar tentados a antecipar em 2024 será melhor que 2023”. A experiência e sabedoria da TMG Textiles recorda, no entanto, que “janeiro de 2023 também foi um mês com sinais positivos e que o ano acabou por não ser dos melhores, principalmente devido à quebra no terceiro e quarto trimestres”, diz Hélder Rosendo. Razão pela qual defende vale a pena manter a “desconfiança” na “expectativa que o melhor cenário se confirme”, remata.
A operar num outro segmento, o dos têxteis-lar, a JF Almeida revela-se otimista, apesar de assumir que 2024 está a revelar-se um ano “desafiante”, assim o define João Almeida. “Janeiro arrancou bem, a Heimtextil trouxe-nos bons feelings”, confessa o administrador da empresa vertical, que espera manter o crescimento da JF Almeida ao longo de 2024.