T81 - Março 23

No final do primeiro trimestre como estão as expectativas para o final do ano?

Um misto de sentimentos: se por um lado há sinais evidentes de que as condições de produção industrial estão melhores que há um ano atrás, a verdade é que a forte diminuição do consumo em todos os mercados europeus – aqueles para onde segue o grosso das exportações do sector têxtil português – não permite antever um final de 2023 com um mínimo de certeza do lado positivo.

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Um misto de sentimentos: se por um lado há sinais evidentes de que as condições de produção industrial estão melhores que há um ano atrás, a verdade é que a forte diminuição do consumo em todos os mercados europeus – aqueles para onde segue o grosso das exportações do sector têxtil português – não permite antever um final de 2023 com um mínimo de certeza do lado positivo. A maioria das empresas converge nessa observação: as encomendas estão escassas neste início de ano e os volumes de vendas, que em alguns casos estão a crescer, são alavancados pela inflação e não pelo aumento da atividade industrial. Uma situação complexa que por um lado é um benefício para as empresas (porque entra mais dinheiro nos seus cofres), mas por outro implica uma possível diminuição da produtividade – uma vez que as fábricas estão a produzir menos com a mesma estrutura de custos.

Para Mário Jorge Machado, presidente da ATP, “o início está a ser muito mau, portanto há a expectativa de que o mau início possa vir a ter um fim melhor. As feiras internacionais melhoraram as expectativas para o segundo semestre – mas este primeiro semestre está a ser muito fraco”.

Dando voz a essa preocupação macro, o presidente da ATP revela que “há situações em que as empresas estão a procurar reduzir o número de horas trabalhadas porque há uma grande diminuição da procura – também ao nível do retalho. Não estamos a falar de uma situação que tem a ver com a indústria, mas com o consumo. Com a inflação, houve uma grande retração do consumo, que se verifica no cair do volume de compras (apesar da manutenção do valor) entre os 20% e os 30%”.

Revelando prudência de análise, Mário Jorge Machado diz ainda que, “se a atividade das feiras tiver algum reflexo no aumento das encomendas haverá alguma melhoria. Mas isto indicia também que pode haver um maior número de empresas à procura de soluções – o que as obriga  a saírem mais porque estão numa zona de desconforto”.

Mário Jorge Machado
"O início está a ser muito mau, portanto há a expectativa de que o mau início possa vir a ter um fim melhor"
“O número de incógnitas que temos em cima da mesa ainda é muito elevado relativamente ao comportamento dos consumidores europeus” – mas admite que “temos sinais positivos: a inflação está a baixar, o preço do gás natural e da energia teve uma queda enorme relativamente ao que era há um ano atrás, estando a inflação controlada, as taxas de juro não deverão aumentar muito mais”. E relata: “continuamos numa situação pior que aquele em que estávamos há dois anos atrás, mas melhor do que estávamos há um ano atrás”.

João Carvalho, CEO da Fitecom, consegue engendrar uma forma de ser mais otimista: “o início do ano de 2023 não está a ser mau, não nos podemos queixar”, refere. Mas o responsável pela empresa de tecidos não deixa de ter dúvidas: “daí a fazer um vaticínio positivo para o final do ano” vai um passo demasiado grandes. Admitindo que “com a pandemia aprendi a não fazer vaticínios”, João Carvalho admite, mesmo assim, que ao menos no seu caso “os mercados europeus estão a comportar-se melhor que o que estava à espera”. E dá alguns exemplos: “Espanha tem subido mais, a Inglaterra também”. No caso da Alemanha, “o mercado está a ser mais tardio”. No geral, diz João Carvalho, a Europa está “em linha com o período pré-pandemia”.

Também Hélder Rosendo, responsável de topo da TMG, diz que “o início do ano de 2023 está a ser melhor que o que eu esperava” – mas também admite que “no último mês as expectativas pioram um pouco”. Tal como sucede com a Fitecom, “os tecidos estão a comportar-se melhor que as malhas”. Numa fase em que, apesar de tudo, “ainda não se sente o impacto das primeiras feiras do ano”, Hélder Rosendo considera que é preciso esperar para ver, antes de poder confirmar o sentido que acabará por caraterizar o ano de 2023. 

Precisamente na área das malhas, a Tintex, refere o seu CEO, Ricardo Silva considera que “é preciso dividir um impacto no novo ano. Assim, tudo o que for intensivo em energia vai melhorar” – uma vez que os preços, não estando ainda aos níveis de 2021, já estão muito longe (para melhor) dos picos registados em 2022.

João Carvalho
"O início do ano de 2023 não está a ser mau, não nos podemos queixar”
“Janeiro foi para nós um mês bom, mas fevereiro já não foi tanto”, refere. Ou seja, “a instabilidade está a dominar os mercados, não conseguimos prever” com um mínimo de rigor como será o final do ano de 2023. Mesmo assim, admite “que nas malhas o início do ano correu bem nos Estados Unidos. E na Alemanha também se nota uma procura interessante”. Mas Ricardo Silva chama a atenção para um facto que merece a maior preocupação: “a confeção em Portugal está parada”, afirma. Ou seja, e como afirmava Mário Jorge Machado, as encomendas que impactam diretamente a montante do consumo estão a passar por um mau bocado.

“Tenhos algumas dividas quanto ao segundo semestre”, admite por seu turno Virgínia Abreu, administradora da Crispim Abreu. Mas para já o sentimento é de otimismo: “vamos crescer muito bem até junho, com as encomendas para o verão a aparecerem em cima da hora”. Mas, passando o estio, talvez as nuvens voltem ao céu: “tem a ver com Portugal e a sua indústria serem competitivas”, refere, para adiantar que o quadro internacional não é fácil. Mesmo assim, obriga-se a que o otimismo saia vencedor: “não será como o ano de 2017/18, mas pode ser que 2023 seja melhor que 2022. Não estou preocupada: os meus clientes são muito fiéis”.

Já para Orlando Miranda, CEO da Olmac, “estamos um bocado apreensivos com o mercado, está estagnado, parado. A situação é transversal a todo sector têxtil, quer seja da parte do outdoor ou têxteis-lar. O mercado está saturado em termos de stock, houve um boom no pós pandemia, mas entretanto apareceu a guerra e está toda a gente expectante”. 

Para António faria, CEO da Vital Marques Rodrigues, “há uma quebra de encomendas que se notou principalmente a partir do mês de setembro ainda do ano passado”. E conclui também que “O arranque do ano revela muita incerteza”.

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