T87 - Outubro 23

Os EUA são mesmo o mercado do futuro?

Tem-se revelado uma aposta ganha para os empresários do sector têxtil e do vestuário nacional que trabalham com o mercado norte-americano. Consagrado como um dos maiores consumidores do mundo, os consumidores norte-americanos reconhecem a qualidade dos serviços e produtos têxteis portugueses, são ávidos pela inovação oferecida pelo cluster português e estão disponíveis para pagar um preço justo.

T

Neste contexto, e em resumo, os empresários portugueses ouvidos pelo T Jornal acreditam que “o mercado norte-americano desempenha um papel fundamental para o têxtil português, proporcionando oportunidades de crescimento, emprego e estabilidade económica”. Mas o T Jornal foi mais além e quis saber se há ou não condições para viver um ‘american dream’…

A crença de que o mercado norte-americanos é “crucial” para a ITV nacional faz-se sentir no caso concreto da marca de moda feminina Cristina Barros, que está em vias de concretizar mais um importante negócio que garantirá a presença na Costa Leste dos Estados Unidos. “Fechámos recentemente, na Who’s Next, um pré acordo de distribuição da nossa marca na Costa Leste dos EUA, que vai reforçar a nossa presença neste mercado”, revela Marco Costa, CFO da Blackspider, empresa que detém a marca Cristina Barros.

“A qualidade e a inovação são características distintivas do setor têxtil português o que se encaixa nos consumidores americanos pois valorizam produtos de alta qualidade e design inovador”, considera.  Entusiasmado com as novas perspetivas para este mercado, o CFO da Cristina Barros explica ainda que “com uma população significativa e um alto padrão de vida, os americanos asseguram uma procura constante por produtos têxteis”, o que pode oferecer às empresas portuguesas do sector “oportunidades de crescimento, emprego e estabilidade económica”.

A operar num outro segmento, o dos têxteis-lar, mas com uma presença com já mais de sete anos no mercado norte-americano a JF Almeida revela-se otimista, apesar de assumir que 2023 se está a revelar um ano atípico. “Não podemos olhar para este ano de forma isolada. O cliente norte-americano é um cliente diferenciado que, na área concreta dos felpos, valoriza a qualidade e design dos nossos produtos, a rapidez do serviço e também o facto de estarmos disponíveis para produções relativamente pequenas”, descreve João Almeida, adminstrador.

Paulo Faria
“Neste momento, o mercado norte-americano é provavelmente o mais atraente e promissor para nós”
Além destas questões que se prendam sobretudo com a qualidade de todo o serviço da ITV nacional, João Almeida sente que os compradores norte-americanos quer aumentar as produções na Europa, diminuindo o que é produzido na Ásia. “Querem diversificar: vão continuar a ter as produções maiores e mais baratas na Ásia mas procuram cada vez mais os países da Europa, nomeadamente Portugal, para as produções premium”, remata o empresario, que só no ano passado fez um investimento de 15 milhões de euros que permite à JF Almeida alargar a produção para o segmento da roupa de cama, com especial enfoque nas flanelas laminadas.

Com mais dúvidas em relação à estabilidade que os Estados Unidos podem oferecer aos empresários portugueses, está a Albano Morgado, para quem a flutuação económica e política norte-americana pode compromoter as relações comerciais com Portugal. “É um mercado com potencial, mas não é um mercado fácil”, avisa Albano Morgado, CEO da empresa.

Com presença no mercado norte-americano há sensivelmente uma década, a Albano Morgado tem tido, de acordo com o seu CEO, “um percurso de crescimento muito lento comparativamente com outros mercados”. Para além da instabilidade económica e política norte-americana, Albano Morgado considera que existe um outro problema nas relações comerciais com este país: “não é um mercado de venda direta, ou seja não tem confecção o que, no nosso caso, complica o processo porque estamos dependentes de uma cadeia produtiva que passa pelo México, Bangladesh ou outro país onde o tecido é transformado”, explica.

A vivenciar uma realidade distinta nas relações comerciais entre Portugal e os Estados Unidos está a Paula Borges, empresa com mais de meio século de existência e que exporta para os quatro cantos do mundo. “Neste momento, é provavelmente o mercado mais atraente e promissor para nós”, declara Paulo Faria Sampling/Production Manager da Paula Borges. Uma afirmação positiva que advém da convicção de que, para os clientes norte-americanos, “o ‘made in Portugal’, os seus detalhes e o ‘hand-made’ são definitivamente uma enorme mais valia”, considera Paulo Faria.

Albano Morgano
“É um mercado com potencial, mas não é um mercado fácil”

Ainda assim, e por forma a garantir a continuidade deste crescimento, o Sampling/Production Manager da Paula Borges acredita ser importante “entender a tipologia de produto que estes clientes procuram” uma vez que valorizam elevada qualidade e diferenciação”, remata.

Já a LMA, decidiu este ano em particular investir no mercado norte-americano para decidir se este é “o momento ideal para jogar cartas nos EUA”, explica Alexandra Araújo, CEO da empresa. A gestora considera que este é um mercado apetecível. 

“Este ano participámos na FFF Portland, devido também à sua proximidade com o mercado do Canadá e o que sentimos é que é uma feira extremamente bem organizada com um leque de expositores muito completo mas pouca afluência em termos de visitantes” acrescenta.

Apesar da pouca afluência nesta feira em particular, Alexandra Araújo não tem dúvidas que “o mercado norte-americano será sempre um mercado de grande valor e por pequenos que sejam os negócios que venham para Portugal, serão sempre importantes e significativos para a ITV nacional”, conclui

Resumidamente, pode dizer-se que o mercado norte-americano – que, convém não esquecer, está umbilicalmente ligado ao canadiano – deixou no têxtil e no vestuário português uma perceção muito positiva, alavancada, entre outros fatores, pelas circunstâncias decorrentes da pandemia, que obrigou à criação de um novo paradigma em termos de fornecedores e de cadeias de abastecimento. Mas não só: a inovação e a qualidade nacionais também ‘tocaram’ já de forma muito positiva os consumidores o outro lado do oceano Atlântico – que pode vir a ser uma espécie de ‘mar interior’ entre Portugal e o sub-continente da América do Norte.

Partilhar