A primeira metade do ano correspondeu às expectativas dos empresários têxteis portugueses de um ligeiro crescimento global do sector. Já para este segundo semestre de 2023 não se esperam grandes surpresas. Sem querem definir os potenciais segmentos em maior crescimento, os empresários portugueses são no entanto unânimes no que ao posicionamento internacional da indústria têxtil portuguesa diz respeito: “o caminho é continuar a nossa aposta na diferenciação através da sustentabilidade e da inovação”.
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A pandemia já lá vai e os números falam por si. 2022 já foi um ano de crescimento para muitos dos empresários têxteis portugueses, já 2023 parece assumir-se como o ano do definitivo regresso aos níveis pré-covid 2019.
Encarando as novas dinâmicas do sector, que implicam que os clientes façam compras cada vez mais tarde, como um paradigma que veio para ficar, os empresários ouvidos pelo T Jornal acreditam que o segundo semestre de 2023 continuará a dar sinais positivos, ainda que ténues, de crescimento – seja no que ao volume de encomendas diz respeito, seja na angariação de novos mercados.
É o caso da Fitecom para quem “primeiro semestre foi bom, foi ao nível do antes
da pandemia, mas o do ano passado já foi razoavelmente bom. No que diz respeito à
moda para o segundo semestre estou a ver as coisas paradas, mas tenho produção
tomada até ao final de outubro”.
Crente que “pandemia originou uma forma diferente de pensar e de estar”, que pode significar menos movimento em lojas e feiras mas mais compras efetivas, João Carvalho, CEO da Fitecom, revela que, até ao momento, não tem “nenhum indicador negativo para o segundo semestre (…) nem nenhum sintoma de retrocesso”. Por forma a tormar-se competitiva no mercado global, a empresa tem apostado num reforço dos materiais naturais e nas certificações que, afirma João Carvalho, “valorizam a Fitecom”.
Com perspetivas positivas, ainda que algo tímidas, está também a Tintex que acredita “num crescimento superior ao do primeiro semestre”. As palavras são de Ricardo Silva, CEO da empresa sediada em Vila Nova de Cerveira, que opta por não diferenciar um segmento em particular para justificar as boas expectativas.
Depois de nos últimos anos ter feito fortes investimentos em diferentes áreas – com grande destaque para a aposta na área da inovação – em 2023 a Tintex não prevê avançar com nenhum investimento.
Por seu turno, tanto a RDD Textiles como a Acatel defendem que o segundo semestre de 2023 corresponderá a um período de estabilidade em relação ao primeiro semestre do ano.
Para Susana Serrano, CEO da Acatel, “o segundo semestre vai ser idêntico ao primeiro”. A gestora considera que “cada vez mais os clientes estão a comprar mais tarde”, o que atrasa as próprias previsões da empresa mas, avança, “não se têm previsões de crescimento”.
Convencida que o caminho é “continuar a nossa aposta na diferenciação através da
sustentabilidade e da inovação, seja a nível de equipamentos, processos ou materiais
primas para conseguir aumentar a nossa quota de mercado”, a CEO da Acatel revela ainda que a participação em feiras internacionais tem corrido de forma favorável. “Tivemos um mês de junho mais baixo, mas o nosso semestre foi idêntico, correu bem e não temos nada a apontar até maio, em julho recuperámos”, acrescenta.
Já Ana Tavares CEO da RDD Textiles, é da opinião que “o segundo semestre do ano vai assemelhar-se em tudo ao primeiro” apesar de denotar um ligeiro aumento na procura mas “sem alterações significativas” no panorama geral da empresa.
A definição de nichos de mercado pode, acredita a CEO da RDD Textiles, ser a chave de sucesso para este semestre já que há vários “estudos que indicam que alguns segmentos de mercado, nomeadamente o segmento de luxo vai crescer cerca de 10% até 2024, portanto, depende sempre um pouco do mercado com que as empresas trabalham”, remata.
Menos otimista é João Almeida, CEO da JF Almeida, que classifica como “calmo” o segundo semestre de 2023. Neste momento, já devíamos de estar a receber encomendas, os nossos clientes estão a entrar em férias. Naturalmente que a JF
Almeida tem trabalho até ao final do ano, mas não é como os outros anos, há um
aperto muito grande para diminuir preços.”
Ciente que o mercado está a “arrefecer”, João Almeida admite que no início do ano estava bastante mais confiante do que se encontra neste momento: “o início do ano tínhamos perspetivas de que o segundo semestre ia ser muito forte, os nossos clientes no primeiro semestre tinham stock e diziam que no segundo seria para voltar à normalidade, para já isso não existe”.
A empresa de têxteis-lar especializada em felpos está no entanto bastante ativa noutras áreas de negócio – acabamentos e roupa de cama – o que tem impedido uma “quebra tão grande”.
Com o desafio de 2023 a chegar ao quarto trimestre, todas as atenções viram-se agora para 2024 – o ano em que todos antecipam a normalização da inflação global e o regresso das taxas de juro dos bancos centrais a intervalos que não danifiquem irremediavelmente o consumo.