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As emissões de gases com efeito de estufa (GEE) na União Europeia (UE) registaram uma redução histórica de 8,3% em 2023, segundo o Relatório de Progresso 2024 sobre a Ação Climática apresentado pela Comissão Europeia. Esta queda marca a maior redução anual das últimas décadas, excluindo o impacto da pandemia em 2020.
Desde 1990, as emissões líquidas na UE caíram 37%, enquanto a economia cresceu 68%, demonstrando uma dissociação entre emissões e crescimento económico.
O relatório evidencia o papel das energias renováveis e dos investimentos na transição climática, ao mesmo tempo que aponta desafios em setores estratégicos, como a indústria e os transportes, e sublinha a importância de ações adicionais para garantir as metas futuras.
Energia renovável impulsiona descarbonização
Em 2023, as energias renováveis representaram 44,7% da eletricidade produzida na UE, superando pela primeira vez os combustíveis fósseis (32,5%). Este marco foi alcançado graças à instalação de 55,9 gigawatt de capacidade solar e 16,2 gigawatt de energia eólica, que, em conjunto, permitiram à Europa evitar o consumo de 35 mil milhões de metros cúbicos de gás natural nos últimos dois anos.
O crescimento das renováveis foi acompanhado por um aumento da eficiência energética e por uma maior utilização de fontes limpas, como a hídrica e a nuclear, o que contribuiu para uma diminuição de 18% nas emissões do setor energético. Estas transformações consolidam a liderança da UE na transição para um sistema energético sustentável.
Transição energética dá passos decisivos
A redução de 24% nas emissões provenientes da produção de eletricidade e aquecimento reflete o impacto das políticas europeias de descarbonização. No entanto, o relatório alerta para a necessidade de melhorar as infraestruturas elétricas e de transporte de energia, para acomodar a crescente produção renovável e facilitar a integração entre Estados-Membros.
Embora o progresso na transição energética seja evidente, a expansão das redes de transporte e armazenamento de energia renovável será crucial para sustentar o ritmo de descarbonização, especialmente em períodos de maior procura energética.
Investimentos estratégicos sustentam progresso
O Sistema de Comércio de Licenças de Emissão (EU ETS – European Union Emissions Trading System) gerou 43,6 mil milhões de euros em receitas em 2023, sendo 33 mil milhões direcionados aos Estados-Membros para projetos de transição climática. Estes investimentos incluem a expansão do metro em Lisboa e Porto, a instalação de painéis solares para famílias carenciadas na Roménia e a promoção de energias renováveis em regiões dependentes de carvão, como na Croácia.
Além disso, o Fundo de Inovação financiou tecnologias de baixo carbono, enquanto o Fundo de Modernização apoiou a requalificação profissional em setores impactados pela transição verde. Estes esforços demonstram um compromisso em assegurar uma transição justa e inclusiva, protegendo as populações mais vulneráveis.
Desafios permanecem em setores-chave
Apesar dos progressos, desafios significativos persistem. O setor dos transportes, que registou apenas uma redução marginal nas emissões (-0,8%), continua a ser um entrave na trajetória para 2030. Embora as vendas de veículos elétricos tenham crescido 48,5% em 2023, a infraestrutura de carregamento e a transição para combustíveis alternativos ainda precisam de maior investimento e expansão. Além do mais, o aumento das emissões da aviação (+9,5%) reforça a necessidade de políticas específicas para este segmento.
Setores industriais intensivos em energia também enfrentam dificuldades na implementação de tecnologias de descarbonização em larga escala. Embora as emissões industriais tenham diminuído 6% em 2023, esta redução deveu-se, em parte, a um menor volume de produção em algumas áreas e a esforços de eficiência energética em larga escala. No entanto, muitas indústrias enfrentam dificuldades estruturais devido à elevada dependência de processos que utilizam combustíveis fósseis e à complexidade de descarbonizar operações críticas.
A transição para tecnologias de emissões reduzidas, como a captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS – Carbon Capture, Utilisation, and Storage), a eletrificação e o uso de hidrogénio verde, tem avançado, mas a sua adoção ainda está longe de ser universal. Questões como o custo elevado, a disponibilidade de infraestruturas e a necessidade de investigação adicional continuam a travar o progresso de forma uniforme em toda a União.
Além disso, há uma pressão crescente para que as indústrias não só reduzam as suas emissões, mas também adotem práticas mais circulares, otimizando a utilização de recursos e minimizando os resíduos. Estes esforços são fundamentais para alinhar as operações industriais com os objetivos de neutralidade climática da UE até 2050.
O relatório sublinha que alcançar estas metas exigirá não apenas inovação tecnológica e investimentos robustos, mas também uma maior coordenação entre Estados-Membros para apoiar a transição em setores que ainda enfrentam os maiores desafios.
O futuro da ação climática na UE
Com uma trajetória que aponta para o cumprimento da meta de reduzir as emissões em 55% até 2030, a UE reforça o seu papel de líder global na luta contra as alterações climáticas. Não obstante, o relatório sublinha que a descarbonização dos setores mais difíceis exige ações mais ambiciosas e maior cooperação entre Estados-Membros.
A próxima década será decisiva para consolidar as conquistas atuais e assegurar a neutralidade climática até 2050. Através de inovação tecnológica, investimentos estratégicos e parcerias globais, a UE mantém o compromisso de criar um futuro sustentável para todos os europeus e para o planeta.