26 maio 25
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Bebiana Rocha

UE prepara investimento de 800 mil milhões em defesa

A segunda parte do primeiro dia de conferências do iTechStyle Summit, organizado pelo CITEVE na Alfândega do Porto, ficou marcada pelo tema da regulação e pelo anúncio de um investimento sem precedentes da União Europeia: 800 mil milhões de euros em defesa nos próximos anos. A revelação foi feita por Bruno Gonçalves, eurodeputado, que foi o primeiro orador da tarde.

Reconhecendo que o tempo eleitoral que vivemos é confuso, Bruno Gonçalves começou por afirmar que temos hoje um país melhor, graças ao contributo dos empresários, que pagam melhores salários e formam as suas pessoas, e ao papel das associações.

A sua apresentação organizou-se em torno de três eixos: inovação, simplificação e concorrência justa. Sublinhou repetidamente que a regulação é importante, distinguindo-a da burocracia e reforçando que não queremos um retrocesso para uma anarquia.

O momento mais marcante da intervenção chegou quando anunciou que a União Europeia vai investir como nunca investiu: 800 mil milhões de euros em defesa. Destacou que esta será uma oportunidade não apenas para o setor da defesa material, mas também para o desenvolvimento e investigação de novos materiais e para a aposta na nanotecnologia. Um investimento que, segundo o próprio, pode abrir portas ao setor industrial e científico europeu, com impacto transversal.

Na sua análise da geopolítica atual, Bruno Gonçalves referiu-se a Donald Trump como um fator de imprevisibilidade para os próximos cinco anos, para sublinhar que estamos a assistir a uma desformatação da centralidade geopolítica, agora centrada no Pacífico, com a intensificação da competição entre os EUA e a China e a Europa a ficar cada vez mais para trás.

“O mundo de ontem acabou, é verdade!”, sentenciou, acrescentando que é preciso reinventarmo-nos, nomeadamente procurando novos parceiros comerciais, como exemplificou com o acordo UE-Mercosul. Também a Polónia foi apontada como uma oportunidade, uma vez que as fronteiras a leste são agora menos previsíveis e surgem novas necessidades de defesa.

Bruno Gonçalves frisou ainda que não é tempo de fechar portas nem de proteger o mercado interno, defendendo que este não é suficiente para a nossa capacidade de produção, nem em termos de poder de compra para absorver o valor acrescentado dos produtos produzidos. “A economia deve continuar aberta”, alertou.

Houve também tempo para abordar o tema dos investimentos, referindo que a União Europeia atravessou recentemente um período de menor apetite pelo investimento, deixando-se ultrapassar pela China, que hoje já é capaz de criar. No capítulo da simplificação, anunciou que se prevê uma evolução no sentido de uma união bancária, que uniformize os ativos financeiros — um passo que considera importante.

Sobre o impacto da administração Trump, o eurodeputado referiu que esta contribuiu para que a UE fosse capaz de tomar decisões mais rápidas e que se prevê que contribua agora para uma fuga de cérebros dos EUA, devido ao desinvestimento previsto em investigações ligadas à sustentabilidade e à saúde. A Europa, defendeu, deve trabalhar para ser atrativa para esses cérebros, sob pena de eles migraram para a China.

No que toca à regulação, comentou que o DPP (Digital Product Passport) “não tem muito caminho para andar”, e referiu a simplificação da regulação com o Omnibus, sem se alongar, deixando apenas a mensagem de que a simplificação serve para reduzir barreiras no mercado interno, por exemplo ao nível aduaneiro. “A proteção do mercado interno diminui a competitividade. É preciso harmonizar do ponto de vista fiscal, os países deviam ter as mesmas regras”, afirmou.

A terminar, abordou a recente proposta da Comissão Europeia de uma taxa de 2€, que classificou como uma sugestão com origem na sobrecarga dos sistemas aduaneiros, mas que não será a melhor das razões. Alertou para uma fraude fiscal de 89 mil milhões de euros por ano, relacionada com o controlo das importações, especialmente com as encomendas oriundas de plataformas de ultra fast fashion, que não pagam IVA. Portugal terá sofrido perdas na ordem dos 10%, o que equivale a cerca de três mil milhões de euros num ano.

A mensagem final foi clara: há oportunidades no risco e há esperança, mas as empresas não podem ficar paradas, sob pena de se cumprir o que Mario Draghi vaticina no seu relatório — a Europa ficar ainda mais para trás.

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