Bebiana Rocha
O Presidente do IAPMEI, José Pulido Valente, visitou na passada sexta-feira as instalações da Tintex Textiles, em Vila Nova de Cerveira. Recebido por Ricardo Silva, CEO da empresa, pôde conhecer de perto o trabalho de inovação e especialização que tem distinguido a Tintex no panorama internacional da indústria têxtil, nomeadamente no domínio da mercerização e dos acabamentos duráveis de malhas em algodão e fibras celulósicas.
Durante a visita, Ricardo Silva destacou que a Tintex é atualmente o principal player mundial na mercerização em malha – um processo que confere aos tecidos um toque luxuoso, brilho e maior durabilidade. “Fazemos isto em larga escala. Esta tecnologia é muito forte no algodão – por exemplo, nas camisas de luxo, que são sempre em algodão mercerizado. Embora o processo já seja usado há várias dezenas de anos em tecido, em malha é mais recente, e nós lideramos esta área a nível global”, afirmou.
Sublinhou ainda que dominar esta técnica exige uma combinação de fatores – tecnologia de ponta, máquinas adequadas e processos de controlo muito exigentes. “Há equipamentos que custam mais de um milhão e meio de euros. Pouca gente se aventura, precisamente porque o controlo tem de ser absoluto”, explicou. Questionado por José Pulido Valente sobre a concorrência asiática, Ricardo Silva foi claro: “A China faz produtos bons, mas simples; nós trabalhamos algodões de diferentes formas, mais finos e mais elaborados.”
A visita começou no showroom da empresa, onde foram apresentados exemplos de fibras alternativas, como o modal – uma fibra que a Tintex está a explorar com aplicação inovadora na mercerização, um território ainda inexplorado. “Tudo o que é feito na Tintex não ganha borboto”, sublinhou o gestor, ao apresentar também novos desenvolvimentos em revestimentos têxteis alternativos ao couro, aplicados sobretudo no calçado – “há uma ligação cada vez maior entre o calçado e o têxtil; os dois mundos estão a cruzar-se”, disse. Entre os exemplos, destacaram-se modelos de sapatilhas produzidos com cortiça e pó de uva.
A Tintex trabalha maioritariamente para o segmento masculino, mas está a diversificar-se. “O homem continua a investir mais em qualidade do que a mulher”, observou Ricardo Silva, acrescentando que a empresa está a entrar em novas áreas, como o mobiliário – cadeiras e outras peças – e a incorporar resíduos improváveis, como restos de bolas de ténis.

Ao longo do percurso pelas instalações, fez questão de mostrar as várias remodelações e ampliações que transformaram a Tintex, hoje com 11 mil metros quadrados. Na área da tinturaria, foi possível observar o processo de branqueamento do algodão. O responsável destacou que a empresa implementou recentemente novos processos e que a estratégia passa por investir em equipamentos diversificados, capazes de responder à crescente personalização do mercado. “Hoje já não faz sentido ter máquinas muito grandes, mas sim versáteis, porque as encomendas são cada vez mais pequenas e frequentes”, referiu.
Outro ponto de destaque foi o investimento na digitalização e automatização. A Tintex recolhe dados em tempo real do chão de fábrica e interliga todas as máquinas e pessoas com o ERP interno, num sistema desenvolvido pela própria empresa. É um autêntico aeroporto, onde se vê a sequência de produção e eventuais atrasos. Toda a comunicação interna foi digitalizada, permitindo prever potenciais conflitos entre operações e reforçar a coordenação entre equipas.
Na zona dos revestimentos, o ambiente é dominado por reações químicas. Foram apresentadas amostras de camuflados revestidos, fruto de um projeto conjunto com a Riopele, mostrando que se pode trabalhar para a área militar.
A Tintex tem vindo a desenvolver várias parcerias no sentido de potenciar os revestimentos e outros aglomerados, por exemplo, com a Bordados Oliveira, numa vertente industrial, criou bases para computadores com logotipos e iniciais, e também com marcas internacionais, como a Zèta Shoes e a Nespresso, explorou outros tipos de aplicação dos seus materiais.
Outro exemplo relevante é a parceria com a Quinta do Soalheiro, de onde nasceu a marca registada Invinotex, que demonstra o potencial de sinergia entre o setor têxtil e outras áreas de atividade, como a vitivinicultura.
A visita terminou nos laboratórios de cor e controlo de qualidade, onde são realizados testes de elasticidade, resistência à água, variação de cor por atrito e abrasão prolongada. Ricardo Silva revelou que a Tintex pretende certificar o laboratório, garantindo a fiabilidade e o rigor dos ensaios internos.
A visita deixou impressões muito positivas junto do Presidente do IAPMEI, que destacou o nível de especialização e o trabalho de valorização da indústria têxtil nacional. Ficou patente que a fileira está a investir em conhecimento, diferenciação e produtos de valor acrescentado — um caminho que confirma o papel estratégico do setor na economia portuguesa e o seu potencial de futuro.