Bebiana Rocha
O relatório anual The State of Fashion, desenvolvido pela McKinsey & Company em parceria com a BoF Insights, antecipa um ano de 2026 particularmente desafiante para a indústria da moda. Baseado em dados de um inquérito global a executivos do setor, bem como num inquérito a consumidores dos EUA, Reino Unido e China, o estudo identifica como principais tendências a instabilidade tarifária, a reconfiguração da força de trabalho, a ascensão do consumidor orientado pela inteligência artificial, o crescimento da joalharia e dos óculos inteligentes, a consolidação da era do bem-estar, o reforço da eficiência empresarial através da tecnologia, a aceleração do mercado de revenda, a necessidade de elevar o posicionamento das marcas e, por fim, a recalibração do luxo.
Relativamente às alterações tarifárias previstas nos Estados Unidos em 2025, 76% dos executivos inquiridos consideram que a resposta às perturbações comerciais será o principal foco estratégico para o próximo ano. Quarenta por cento aponta as disrupções nos fluxos comerciais como um dos principais fatores de risco e um terço classifica as condições da indústria na América do Norte como pouco promissoras. A pressão deverá refletir-se nos preços, com 71% dos executivos a preverem aumentos.
No que toca ao mercado de trabalho, o relatório alerta para a necessidade de os líderes privilegiarem a requalificação das equipas e a captação de novos talentos, como condição essencial para manter a competitividade num contexto de mudança acelerada. A inteligência artificial é destacada como a maior oportunidade para 2026, sublinhando-se a urgência de otimizar conteúdos para motores generativos, garantindo que são facilmente interpretados por sistemas de IA. Quarenta e um por cento dos consumidores afirma confiar mais em resultados de pesquisa gerados por IA do que em publicidade tradicional e 85% mostra maior satisfação com compras assistidas por IA do que com os métodos online convencionais.
De acordo com Carlos Sánchez Altable, sócio da McKinsey, o relatório desafia os líderes a agir com urgência, a reconfigurar as suas organizações para serem mais ágeis, a integrar a IA no centro da operação e a reconectar-se com os consumidores, que estão a redefinir o conceito de valor. O especialista acrescenta que o setor será cada vez mais moldado pela transformação digital, pelo movimento do bem-estar e pela ligação emocional entre marca e consumidor, sendo fundamental acompanhar de perto as mudanças comportamentais e adotar novas tecnologias de forma proativa.
No âmbito da eficiência, o relatório recomenda que as empresas reforcem a sua capacidade produtiva e operacional, recorrendo à tecnologia para reduzir custos e libertar recursos, ao mesmo tempo que sobem de posicionamento para se diferenciarem pela qualidade e pela experiência oferecida em loja. Segundo o estudo, 51% dos consumidores considera a qualidade como o principal fator que define a perceção de uma marca premium.
A aceleração do mercado de revenda surge como uma oportunidade estratégica, dado que se prevê que o segmento de moda de luxo em segunda mão cresça entre duas a três vezes mais rápido do que o mercado primário até 2027. Já o conceito de luxo recalibrado aponta para uma valorização do artesanato, da criatividade e da personalização, em detrimento da prática de aumentos de preço como único mecanismo de diferenciação.
Em nota conclusiva, o relatório evidencia que a concorrência se intensificará num mercado relativamente estagnado. A Europa deverá registar crescimento entre 1% e 2%, enquanto os Estados Unidos e a China poderão crescer entre 1% e 3%, com o segmento de luxo a apresentar potencial para desempenho superior. As marcas, independentemente do segmento de preço, sentirão maior pressão na disputa pelo orçamento disponível do consumidor, embora 31% dos inquiridos declare estar disposto a investir mais em moda caso encontre o produto certo. A mensagem final é clara: num setor marcado pela mudança constante, adaptar-se rapidamente e inovar será essencial para alcançar o sucesso em 2026.