Bebiana Rocha
Com mais de 71 anos de atividade, a Têxtil Nortenha sempre teve na sua lista de prioridades a sustentabilidade. Ao longo das décadas, tem-se adaptado de forma resiliente às mudanças do mercado. O T Jornal falou com a empresa para saber em que patamar se encontra e quais são os próximos passos.
“Acreditamos que a nossa longevidade se deve à melhoria constante dos nossos processos e à capacidade de apresentar propostas novas e relevantes aos nossos clientes”, enquadra a empresa de confeção. Por ano, a Têxtil Nortenha reaproveita 2.500 kg de resíduos de corte, 500 kg de cartão e 300 kg de plástico. Estes materiais são reencaminhados para uma empresa parceira que lhes dá uma nova vida nos setores automóvel, de carpetes, tecidos técnicos e cordas.
“Todos os resíduos de corte são encaminhados para uma empresa especializada em reciclagem e reutilização. Estes materiais ganham novos destinos, como a transformação em fios para uso posterior em vestuário, estofos de automóveis e enchimentos de tabliers”, exemplifica, acrescentando que está a equacionar, proximamente, reintegrar esses desperdícios em produtos próprios.
Paralelamente à gestão de resíduos, outro dos marcos apontados pela Têxtil Nortenha é o da produção de energia superior à consumida. “Em 2024, ultrapassámos pela primeira vez o marco de produzir mais energia do que consumimos, graças ao reforço do investimento em painéis solares”, afirma ao T Jornal, apontando como meta alcançar a autonomia energética até 2027.
Desde 2021, tem vindo a investir de forma contínua na produção de energia solar. Começou pela instalação de 216 módulos fotovoltaicos e, em 2024, já totalizava 428 painéis. “Para alcançar a autonomia energética total até 2027, estamos a avaliar soluções viáveis de armazenamento, para cobrir os períodos de menor ou ausência de produção fotovoltaica”, completa.
Paralelamente à aposta na energia, a Têxtil Nortenha tem procurado alargar a sua ação sustentável em outras frentes, como demonstra a nova parceria com a Recovo, que visa dar uma nova vida a malhas sobrantes.
“Com esta parceria, pretendemos evitar que malhas de qualidade acabem em aterros, promovendo a sua reutilização, sobretudo por marcas mais pequenas e designers que procuram quantidades mais reduzidas e valorizam a responsabilidade ambiental. Acreditamos que este tipo de iniciativas contribui não só para a redução da nossa pegada, como também para fomentar uma economia colaborativa e sustentável no setor.”
No mesmo sentido, prevê iniciar brevemente um projeto com uma entidade especializada para mapear a pegada carbónica dos processos e construir um plano de redução, tendo como horizonte 2030. Este compromisso com metas mensuráveis reflete-se também na forma como a empresa comunica com o mercado.
“Temos conseguido comunicar de forma clara e transparente o nosso compromisso crescente com práticas responsáveis, o que nos tem permitido construir novas relações e reforçar a fidelização dos clientes atuais”, admite, satisfeita. O tipo de projetos que desenvolvem já tem uma vertente de preocupação ambiental – por exemplo, recentemente, produziram uma coleção com fibra de banana.
Para o sucesso desta boa relação com os clientes têm contribuído também as equipas, que estão totalmente motivadas para a transição, garante a administração. “Contamos com uma equipa estável, com colaboradores que acompanham a evolução da empresa há décadas e que contribuem com forte espírito de pertença e compromisso com esta visão”, reconhece, acrescentando igualmente o papel dos fornecedores. “A colaboração próxima é essencial para garantir uma cadeia de valor coerente com os nossos princípios”, sustenta.
A Têxtil Nortenha tem trabalhado ainda noutras vertentes para reduzir as ineficiências: tem mais carros elétricos, um sistema de iluminação de edifícios com menor consumo graças às soluções LED, aos sensores de presença e aos secadores de mãos elétricos. Começou também a fazer um reaproveitamento de embalagens para o envio de amostras, a substituiu os garrafões de plástico por fontes de água filtrada e a reduzir outros plásticos.
A abertura da empresa à comunidade é outro reflexo do seu posicionamento sustentável e transparente. De relembrar que integra o circuito de turismo industrial, pelo que é uma oportunidade para as pessoas conhecerem as suas instalações, comprovarem o que aqui foi dito e observarem os processos produtivos. “É uma forma de envolvermos a comunidade local e sensibilizarmos para os desafios e oportunidades da indústria têxtil”, conclui.