Jorge Fiel
A Têxteis Evaristo Sampaio está à procura de uma empresa de têxteis lar interessada no estabelecimento de uma parceria estratégica que contemple a inclusão no seu portefólio de lençóis e atoalhados dos cobertores as mantas que ela fabrica em Trinta, Guarda.
“Estamos disponíveis para avaliar todas alternativas que permitam a protecção do nosso património”, explica João Paulo Sampaio, administrador da Evaristo Sampaio, acrescentando que encara todas as possibilidades, desde uma parceria pura simples até uma fusão, passando pela alienação de parte do capital da sua empresa.
Acumular as atividades de fiação e tecelagem foi um dos segredos que permitiu à Evaristo Sampaio atravessar incólume as crises que ciclicamente abalam a indústria de lanifícios.
O aparecimento de produtos concorrentes asiáticos, grandes produções de penteados de menor qualidade e mais baixo preço, fez tremer a Evaristo Sampaio, mas não fez ruir as fundações da Evaristo Sampaio, que flanqueou a concorrência apostando nos cardados tradicionais.
A popularização do edredon, aliada à concorrência asiática, afectou as vendas de cobertores, perdas que a empresa de lanifícios compensou com o reforço no segmento de mantas. E as consequências de crise no mercado interno, que se seguiu ao resgate da República, foram mitigadas pelo esforço para aumentar as exportações. O grande problema ainda estava para vir e dava pelo nome de malhas polares.
“Foi a grande machadada. As malhas polares são um produto alternativo, de substituição das nossas mantas, comercializado a um preço tal que era impossível fazer-lhes concorrência”, explica João Paulo.
O volume de negócios caiu dos quatro milhões de euros para os atuais 1,4 milhões de euros, obrigando a empresa a um violento esforço de ajustamento que não foi suficientemente rápido mas, apesar de tudo, permitiu-lhe evitar o afogamento.
“Clientes que num ano nos compravam 500 mil euros, no ano seguinte reduziram a suas encomendas para 50 mil”, conta o gestor da Evaristo Sampaio, que foi obrigado a minguar de 130 para 60 o efectivo de trabalhadores.
“Demoramos tempo demais a adequar o número de trabalhadores às novas circunstâncias. Um dos defeitos que nós, os beirões, temos é o de que nos convencermos que com muita vontade e trabalho conseguimos superar as dificuldades e fazer melhor que os outros. Mas este problema não era susceptível de se resolver só com a ver com energia… “, diz.
Para a Evaristo Sampaio foi claro que as grandes séries tinham acabado, que os tempos em que fabricavam três mil cobertores e mantas por dia (70% comercializados com a marca própria Lordelo e os restantes vendidos em regime de private label para a Ralph Lauren Corte Inglês, Eroski, etc) já não voltavam e que teriam de se ajustar a uma produção diária mais modesta, na ordem dos 400 a 500 mantas e cobertores.
“Vivemos um dia de cada vez. A fiação está a produzir fios para peúgas e tapeçarias. Temo-nos apresentado em concursos para o fornecimento de forças armadas em França e Itália. Estamos a aproveitar tudo quanto os nossos equipamentos nos permitem fazer e tem mercado. Temos um património de conhecimento que seria um crime de lesa pátria perder. Vemos as coisas a andar para a frente, mas não com a velocidade e o grau de segurança necessário para nos tranquilizar”, explica João Paulo Sampaio.
A Texteis Evaristo Sampaio aguentou a tempestade sem naufragar. Está com a cabeça fora de água, mas sente-se um pouco à deriva e carente de um rumo, para chegar a bom porto. Mas sabe que esse rumo passa por um acordo com uma empresa de têxteis lar que inclua as suas mantas e cobertores no seu portefólio de produtos.