27 outubro 25
Inovação

Bebiana Rocha

Tecnologia Corizon mostra caminho para integrar mais fibras recicladas nas malhas

Na The Textile Institute World Conference, que decorreu este mês de outubro no Porto, Henrike Schmitz apresentou os resultados promissores da investigação “Increasing recycled content in circular knitted fabrics with Corizon Technology”, que demonstra como a tecnologia Corizon pode aumentar de forma significativa a incorporação de fibras recicladas em malhas circulares, mantendo o toque suave, o conforto e a durabilidade das peças.

De acordo com Henrike Schmitz, os primeiros testes realizados com 25%, 50% e 75% de algodão pós-consumo revelaram-se tecnicamente viáveis e satisfatórios do ponto de vista sensorial. As T-shirts produzidas a partir destas malhas foram submetidas a testes mecânicos, confirmando uma sensação agradável ao toque, boa vestibilidade e resistência ao uso.

“A tecnologia Corizon é uma opção para aumentar o conteúdo de materiais reciclados – os primeiros ensaios têm resultados muito convincentes”, afirmou, acrescentando que o passo seguinte passa por “definir os parâmetros e otimizar a preparação da fibra especificamente para o processo Corizon, compreender o papel e a composição do núcleo do fio, realizar testes de utilização com T-shirts para verificar a qualidade do produto segundo normas específicas”.

A tecnologia Corizon, desenvolvida pela Terrot, combina num único equipamento as etapas de fiação e tricotagem. O fio é formado e alimentado diretamente nesta máquina de malha circular modificada, permitindo trabalhar com maior quantidade de fibras recicladas. Esta inovação resulta em malhas mais macias do que as obtidas pelos métodos convencionais.

Segundo Henrike Schmitz, a eficiência do processo depende diretamente das propriedades das fibras e do enquadramento técnico do sistema de reciclagem mecânica. “Hoje, o processo já não pode ser apenas fibra virgem – tricotagem – confeção. Temos de incluir o desperdício pós-consumo e quem o vai processar”, defendeu, apresentando um esquema que representa o novo circuito produtivo.

Mas o desafio, sublinhou, não é apenas tecnológico. “Não é só a qualidade que importa quando criamos peças com mais material reciclado – é também preciso pensar em como vamos motivar o consumidor a comprá-las”, alertou Henrike Schmitz.

Para ilustrar o tema, apresentou o exemplo de uma T-shirt básica branca da Primark, vendida a 3,50 euros. Explicou que entre 40% e 50% desse valor corresponde ao lucro e custos do retalho (1,75 €), 25% à publicidade da marca (0,89 €), 13% aos custos de fabrico (0,45 €), 12% ao transporte e impostos (0,42 €) e apenas 1% à mão-de-obra (0,03 €). “A fast fashion está a dominar os processos e a reforçar os fluxos globais existentes da indústria têxtil”, afirmou, chamando a atenção para a necessidade de “redefinir o conceito de qualidade” à luz dos novos padrões de ecodesign.

Henrike Schmitz deixou ainda uma reflexão sobre o papel do design na transição para uma moda mais circular: “Os consumidores gostam de ter coisas novas – temos de pensar em como podemos aliar isso ao design, para que seja mais circular e, ao mesmo tempo, responda às necessidades de uma população em crescimento.”

Entre as estratégias que apresentou contam-se a aposta em produtos básicos e intemporais, a criação de estruturas que envolvem as fibras recicladas mais frágeis, e a importância de compreender e influenciar o comportamento de compra e de utilização dos consumidores.

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