Bebiana Rocha
A consultora europeia de sustentabilidade corporativa Sustenuto, sediada em Bruxelas, publicou recentemente no seu site um artigo dedicado ao “made in Portugal”, assinado por Ana Quintas e Tomás Adão da Fonseca, representantes em Portugal.
O texto analisa a profunda transformação da indústria têxtil portuguesa, que deixou para trás um modelo centrado na subcontratação e na concorrência baseada no preço, para se afirmar hoje como um ecossistema que “combina inovação tecnológica, rastreabilidade e responsabilidade industrial”.
Segundo os autores, a maioria do know-how concentra-se no Norte do país, região onde se desenvolveu um dos “clusters têxteis mais avançados” e relevantes da Europa.
Ao longo do artigo, são apresentados vários exemplos de empresas portuguesas que ilustram esta evolução – Valérius 360, Tintex, ATB, TMG, Grupo Impetus, Tearfil, RDD Textiles e Positive Materials – demonstrando que Portugal oferece uma solução completa para as marcas internacionais.
“Ao contrário de outros polos produtivos, o cluster português oferece escala moderada, qualidade controlada e uma cultura de melhoria contínua”, sublinha o texto. “Fatores que, combinados, são a chave para construir cadeias de valor sustentáveis.”
Entre os principais trunfos competitivos do ‘made in Portugal’, a Sustenuto destaca ainda o uso de energia limpa, que permite às empresas apresentarem uma pegada de carbono inferior à dos concorrentes, bem como a existência de infraestruturas de inovação e um ecossistema colaborativo.
De acordo com os autores, os resultados desta estratégia já são visíveis: as empresas portuguesas estão a conquistar novos mercados, a obter reconhecimento internacional, a estreitar parcerias com universidades estrangeiras e a reforçar a reputação junto de marcas premium.
A Sustenuto enumera várias marcas que colocam o selo “made in Portugal” no centro da sua narrativa: a Tekla Fabrics (Dinamarca) produz lençóis e toalhas em Portugal; a Secret Linen Store e a Bedfolk (Reino Unido) destacam a segurança química das suas coleções; a Juniper (Suécia) fabrica toalhas em algodão Supima; e a Delilah Home (EUA) escolheu o país para produzir roupa de cama em algodão orgânico e cânhamo.
Também as norte-americanas Parachute Home e The Citizenry contam histórias ligadas a fábricas familiares de Guimarães, enquanto a VEJA transferiu parte da sua produção para Portugal, em busca de maior agilidade e proximidade. Já as marcas BAINA (Nova Zelândia) e Weezie (EUA) recorrem a produtores nacionais para o fabrico das suas toalhas.
“O ‘made in Portugal’ deixou de ser apenas uma indicação de origem. Tornou-se numa promessa de alinhamento entre o que as marcas dizem e o que realmente fazem”, sublinham Ana Quintas e Tomás Adão da Fonseca. “O que distingue hoje Portugal é a capacidade de demonstrar que a sustentabilidade é uma forma de operar.”
O artigo surgiu da experiência vivida durante o encontro da Textile Exchange, realizado em Lisboa no passado mês de outubro, onde os representantes da Sustenuto puderam interagir diretamente com empresas portuguesas. A análise dessas interações revelou que, independentemente da dimensão, as empresas nacionais trabalham com um propósito comum: criar valor, aumentar a eficiência e fidelizar clientes, indo além da mera obrigação regulatória.
“A sustentabilidade em Portugal não nasceu do marketing, nasceu do chão de fábrica. A nova vantagem competitiva já não está em produzir mais, mas em produzir melhor, com propósito e provas”, concluem os autores.
Este artigo surge como um reconhecimento de fora para dentro, valorizando os esforços da indústria portuguesa para integrar objetivos ambientais e sociais nas suas operações. A Sustenuto dedica parte do seu site à partilha de insights sobre sustentabilidade corporativa, e esta publicação destaca-se como um testemunho do prestígio crescente do ‘made in Portugal’ no panorama internacional.